Os golpes digitais se tornaram uma indústria global altamente lucrativa. Com um faturamento anual estimado em mais de US$ 500 bilhões, essa economia paralela cresce rapidamente, explorando tecnologia de ponta e a vulnerabilidade emocional das vítimas.
Esquemas como o pig-butchering (abate de porcos) mostram como, com a tecnologia, as fraudes evoluíram. Antigamente, os golpes eram rápidos e diretos, hoje, os criminosos passam meses cultivando relacionamentos falsos antes de levar as vítimas à falência. No entanto, o romance não é a única estratégia, golpistas também podem explorar medo, solidão, ganância, tédio e até o luto para manipular suas vítimas.
Café, carnes, ovos, as previsões dos preços de alimentos
Nos últimos anos, fraudes passaram a atingir não apenas indivíduos, mas também empresas e instituições. Em um caso recente ocorrido em uma empresa de engenharia britânica em Hong Kong, por exemplo, criminosos usaram deepfakes para simular uma videochamada de reunião de trabalho e convencer um funcionário a transferir US$ 25 milhões.
O uso de IA tornou os golpes ainda mais sofisticados. Apenas 15 segundos de áudio já são suficientes par clonar uma voz e enganar alguém. Combinando deepfake de voz e vídeo, criminosos se passam por colegas de trabalho, familiares ou executivos de empresas, tornando as fraudes quase indetectáveis.
Além disso, criptomoedas permitem movimentações rápidas e feitas de maneira anônima, dificultando o rastreamento. Nos mercados subterrâneos, hackers vendem pacotes completos de golpe, incluindo perfis falsos, malwares para capturar dados e até serviços de tortura para aqueles que controlam “as fábricas de fraude” na Ásia.
O que diferencia a indústria do golpe de outros crimes é a sua estrutura descentralizada. Ao contrário das máfias tradicionais, esses grupos operam como uma economia de blocos: um time atrai vítimas, outro treina golpistas, um terceiro gerencia as criptomoedas e assim por diante. Esse modelo dificulta investigações e torna o crime escalável.
Em países como Camboja, Laos e Mianmar, golpes digitais já são um pilar da economia. Em algumas cidades, políticos foram diretamente envolvidos na operação desses esquemas, como no caso de Alice Guo nas Filipinas, uma prefeita chinesa cujo complexo de fraudes movimentou US$ 400 milhões em cinco anos.
Diante da crescente sofisticação dos criminosos, especialistas sugerem que governos e empresas adotem abordagens mais integradas para combater as fraudes digitais. Em Singapura, um centro de monitoramento une polícia, bancos e empresas de comércio eletrônico para rastrear e congelar dinheiro em tempo real.
A educação da população também é um passo importante para conscientização. Países como Singapura já incluem alertas sobre golpes em transações bancárias e no transporte público. Além disso, colaborações internacionais poderiam acelerar investigações e reduzir o impacto global dos golpes.
(Com informações de Folha de São Paulo)
(Foto: Freepik/Reprodução)