Informalidade em alta – Capacitações técnicas e programas de curta duração têm reduzido a carência de profissionais de tecnologia no Brasil, mas os postos que exigem diploma de curso superior e contrato formal permanecem em aberto. O aumento da informalidade e os elevados índices de abandono nas universidades são desafios para um mercado cada vez mais marcado pela “pejotização”.
Um estudo da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom) indica que o setor pode gerar até 147 mil novas vagas formais até 2025 no cenário mais favorável. Na projeção base, o número cai para 88 mil postos com carteira assinada.
Leia: PIB dos EUA deve encolher 0,5 ponto com novas tarifas
A remuneração média dos profissionais formais do macrossetor de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) subiu 15% entre 2023 e 2025, acima da média nacional (12%). Contudo, os contratos formais crescem em ritmo mais lento que os informais: entre 2022 e 2024, o número de profissionais sem carteira aumentou 13%, quase três vezes mais que os empregos registrados (4,5%). Os Microempreendedores Individuais (MEIs) registraram alta ainda maior – 18,2% no mesmo período.
Para Affonso Nina, presidente da Brasscom, o fenômeno reflete uma transformação estrutural no mercado, impulsionada por uma geração que prioriza a flexibilidade. Por outro lado, as mudanças nas leis trabalhistas após a reforma de 2017 incentivam a “pejotização”.
Desequilíbrio entre procura e formação
Enquanto a informalidade avança, o descompasso entre demanda e oferta de mão de obra qualificada persiste nos postos formais. Nos últimos cinco anos, o mercado requisitou 665 mil profissionais de tecnologia para vagas com carteira, mas a formação superior e técnica disponibilizou apenas 465 mil – um déficit de 30,2%.
Apesar da lacuna, o cenário melhorou: em 2021, o desalinhamento entre oferta e demanda era de 66,7%. Nina ressalta que o progresso em formações técnicas e cursos rápidos tem reduzido essa lacuna:
“Cursos com carga horária menor que a graduação suprem parte da demanda. Está longe do ideal, mas atendem necessidades básicas”, afirma.
Entre 2019 e 2023, os egressos de cursos técnicos em TIC cresceram 21,5%, enquanto as certificações em programas rápidos dispararam 587,1% (dados consideram apenas instituições federais).
Evasão universitária e disparidades
Apesar do aumento de 70,4% nas matrículas em graduações de TIC entre 2019 e 2023, o sistema enfrenta evasão recorde: em 2023, apenas 89.696 dos 1,8 milhão de matriculados concluíram os estudos – menos de 5%.
Nina ainda critica o desalinhamento entre formação acadêmica e demandas corporativas. “Muitos deixam os estudos por empregos com habilidades básicas, mas depois esbarram na falta de qualificação aprofundada”, afirma.
Os cursos de Análise e Desenvolvimento de Sistemas lideraram em formados (34 mil), seguidos por Computação e TIC (11,2 mil) e Ciência da Computação (9,3 mil).
O relatório também expõe desigualdades: em 2023, 82,1% dos formados eram homens, contra 17,9% de mulheres – alta de apenas 1,6% se comparado ao ano anterior. Quase metade (48,1%) se declarou branca e 32,6%, pretos e pardos.
(Com informações de O Globo)
(Foto: Reprodução/Freepik)