Líder na área de tecnologia da TV Globo, Carolina Duca foi uma das convidadas do segundo painel do Techday do Sindpd-SP (Sindicato dos Trabalhadores em Tecnologia da Informação de São Paulo), evento que reuniu profissionais de destaque para debates sobre os desafios das mulheres no setor junto a centenas de trabalhadoras da área. O painel teve como tema “Mulheres na Liderança” e contou com a participação de três mulheres chegaram a postos de liderança na TI apesar de inúmeras barreiras que encontraram no caminho.
Desde o início, Carolina enfrentou dúvidas sobre sua capacidade ou vocação para uma área ainda hoje com predominância masculina. Ela contou que, quando entrou na faculdade de Engenharia, um de seus colegas de classe lhe disse que ela largaria o curso em 6 meses pois era “bonitinha” e logo arranjaria um marido ali. Porém, já no segundo ano, o colega abandonou o curso, enquanto ela seguiu em frente e se formou dentro do tempo normal de 5 anos.
“É interessante como as histórias com mulheres, dentro deste ambiente de tecnologia, são parecidas. É importante a gente entender isso, porque às vezes a gente acha que as coisas acontecem só com a gente e pensa ‘por que eu? Por que comigo?’, quando na verdade é um ambiente. A gente precisa entender isso e se enxergar como um agente de mudança”, ponderou.
Hoje gerente sênior de Telecom e Hub de Atendimento de Tecnologia da TV Globo, onde já trabalha há 20 anos, ela ressaltou que sua ascensão se deu em boa parte por deixar claro a seus superiores dentro da empresa de que tinha interesse em assumir postos mais altos quando surgiam oportunidades, e que a insegurança, medo e ansiedade fazem parte do processo.
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Ela deixou claro, no entanto, que o medo, a insegurança e a ansiedade fazem parte do processo, e é preciso “ir com medo mesmo”, pois nunca chega o momento em que você se sente realmente pronta para algo que nunca fez. “Às vezes você pode achar que você quer, mas você só vai saber realmente o dia em que você sentar na cadeira”, disse.

A primeira vez em que Carolina “sentou na cadeira” foi como líder de uma equipe que ficava em um escritório onde nem sequer havia banheiro feminino, pois nunca havia tido qualquer funcionária mulher ali. “Eu era nova, tinha quase 30 anos, e todos que estavam ali eram muito mais velhos do que eu, então quando eles me viram ali foi um choque”, contou.
Além disso, ela não tinha conhecimento técnico na área que foi nomeada para liderar e chegou a acreditar que havia sido promovida para ser demitida posteriormente.
“Era uma área completamente diferente daquilo que eu havia estudado tecnicamente. Eu passava noites estudando tentando suprir esse ‘gap’, até que um dia eu pensei: ‘ou eles me colocaram aqui para me mandar embora ou porque eu posso agregar de alguma forma diferente. Eu tenho que partir do pressuposto que eles não querem me mandar embora, então eles me colocaram aqui para realmente eu fazer algo diferente”.
A partir daquele momento, Carolina passou a se ver como líder e gestora de uma transformação, e começou a implementar as mudanças que ela entendeu que foram o que realmente motivaram sua ascensão como líder daquela equipe.
“A partir do momento em que eu mesma me enxerguei como líder, a chave virou. Esse é um ponto muito importante, porque eu queria ser líder, eu fui lá pedir e falei que queria, mas a hora que eu sentei na cadeira que eu senti o peso daquilo, e é aí que você começa a entender que você que tem que fazer aquela transformação”, explicou.

Ao final do evento, ela destacou como iniciativas como o Techday são importantes para que as trabalhadoras tenham referências de outras mulheres que passaram pelos mesmos desafios e terem a segurança de serão capazes de superá-los também.
“O principal papel de um evento como esse é as mulheres se enxergarem umas às outras, elas poderem ter referências e entenderem que às vezes o que acontece com elas não é exclusivo delas, é realmente o modo como o mercado de trabalho funciona e que são desafios que elas vão poder superar. Dar essa segurança para outras mulheres é fundamental”, afirmou.
O Techday foi realizado no dia 29 de março pelo Sindpd e marcou o encerramento da Maratona 8 de Março, que, durante todo o mês da mulher, promoveu palestras e debates em dezenas de empresas de sua base e reuniu centenas de trabalhadoras, com o objetivo de promover a inclusão feminina no setor e o respeito às profissionais de TI.
(fotos: divulgação/Sindpd)