Fundadora de diversas startups na área de tecnologia e hoje diretora da Rede Mulher Empreendedora, Lilian Natal participou do Techday promovido pelo Sindpd-SP (Sindicato dos Trabalhadores em Tecnologia da Informação de São Paulo) como uma das convidadas do painel “Mulheres na Liderança”, que reuniu três profissionais que chegaram a postos de liderança no setor de TI, que ainda hoje tem quase 70% dos cargos de chefia ocupados por homens.
Lilian Natal compartilhou que sua inspiração para ascender profissionalmente veio de sua mãe, que sempre lhe dizia para jamais depender de um homem financeiramente. Porém, na sua época, ainda era normal que as meninas fossem criadas ajudando nas tarefas de casa, enquanto os meninos podiam se dedicar exclusivamente aos estudos. “Desde muito cedo tive a noção de que eu precisaria estudar o dobro do meu irmão se quisesse ter as mesmas oportunidades”, afirmou.
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Foi a busca por independência econômica desde muito cedo que a levou ao mundo da TI, ao procurar qual carreira estava em alta no mercado na época, e descobrir um curso de técnico de processamento de dados.
“Eu olhava para minha turma no curso e praticamente não tinha mais nenhuma mulher, eu pensava: ‘meu Deus, não tem nada para mim nessa carreira’ e temporariamente desisti da área de tecnologia”, contou, apesar de ter concluído o curso.
Ela passou um longo período trabalhando na área de comunicação e marketing e chegou a ocupar um cargo de gerência. No entanto, seus rumos começaram a mudar novamente quando engravidou e percebeu algo mudar na forma com que ela via seu real papel profissional.
“Quando eu fiquei grávida e soube que era uma menina eu pensei: ‘tem alguma coisa esquisita acontecendo comigo, eu preciso construir um mundo melhor para essa menina que está na minha barriga, não é possível que ela vai enfrentar todas as dificuldades que eu enfrentei, eu preciso fazer alguma coisa’”, disse.
“Eu ganhava super bem, eu era a única mulher naquelas mesas de reunião de diretoria, ouvia todo tipo de piadinha e conversas em que falavam do corpo das mulheres sem nenhum problema, como se eu nem estivesse ali”, acrescentou.
O primeiro contato com a mudança que buscava ocorreu em 2011, quando ainda estava grávida e foi a um evento da Rede Mulher Empreendedora. Depois desse encontro, Lilian fundou sua primeira startup, área com um cenário ainda mais desfavorável para as mulheres. Ela contou que apenas 5% das startups são fundadas por mulheres e, das que recebem investimento, apenas 3%. Lilian conseguiu fazer parte desse pequeno número.

“Quando ia fazer o ‘pitch’ [apresentar sua ideia aos investidores] as perguntas eram sempre: ‘você tem filho? Você pretende engravidar de novo? Você tem sócio homem?’, contou. Em certo ponto, ela tinha 22 investidores, todos homens, até que um disse a ela: “’se a mulher não tivesse vindo para o mercado de trabalho, um monte de problema teria sido evitado’. Foi ali que eu pensei: ‘o que eu estou fazendo aqui?’”.
Depois daquela experiência, ela decidiu que se dedicaria a ajudar outras mulheres a começarem seus negócios e conseguirem investimentos sem precisarem ouvir as mesmas perguntas discriminatórias que ouviu quando decidiu empreender e passou a integrar a Rede Mulher Empreendedora, que anos antes a havia inspirado a seguir novos rumos.
A experiência na organização demonstrou a importância de uma mulher ajudar a erguer a outra, pois cria um efeito multiplicador de mudança extremamente eficaz. Ela citou, por exemplo, que mulheres empreendedoras reinvestem, em média, 90% dos seus ganhos na própria comunidade, o que causa uma transformação em todo seu entorno. “Quando você investe em mulheres, você está investindo em melhoria social, de toda uma comunidade”, afirmou.
Enquanto empreendedora na área de TI, a visão de Lilian é totalmente diferente daquela do investidor que considera que as mulheres trouxeram problemas para o mercado de trabalho: “Tecnologia é sobre pessoas, é sobre construir soluções para a sociedade, não é só sobre dados, e não existe um futuro sem mulheres, então nós temos que ter mulheres em TI”.
Ela encerrou sua fala com uma série de conselhos para as mulheres que desejam ascender na carreira e ocupar posições de liderança:
“Primeiro, abrace sua história com todas as dificuldades que você enfrentou, que foi força para você, força propulsora. As dificuldades não servem para a gente virar vítima, servem para a gente ganhar potência. A segunda é não ter medo de se colocar em todos os espaços, esses espaços pertencem a você. E o terceiro é: apoie outras mulheres, eu sou o resultado de uma sobe e puxa a outra, porque eu tive mulheres incríveis na minha trajetória que me puxaram para cima”, pontou.
“Por último, liderar é sobre abrir caminhos e sobre quais pegadas você quer deixar no mundo, liderar não é sobre ser chefe, não é sobre estar acima das pessoas, liderar é sobre o legado que você vai deixar”, finalizou Lilian Natal.

O Techday foi realizado no dia 29 de março pelo Sindpd e marcou o encerramento da Maratona 8 de Março, iniciativa do sindicato que, durante todo o mês da mulher, promoveu palestras e debates em dezenas de empresas de sua base e reuniu centenas de trabalhadoras, com o objetivo de promover a inclusão feminina no setor e o respeito às profissionais de TI.
(Fotos: divulgação/Sindpd)