A inteligência artificial (IA) está transformando diversos aspectos da vida cotidiana, mas uma de suas promessas mais debatidas, a de compreender emoções humanas, ainda está longe de ser realidade. A chamada “computação afetiva” busca justamente esse objetivo: criar sistemas capazes de interpretar, simular e prever sentimentos, com base em dados extraídos do comportamento e das reações físicas das pessoas.
O entusiasmo em torno do tema impulsiona investimentos bilionários na criação de ferramentas que prometem detectar frustração, responder com empatia e até simular relacionamentos afetivos. No entanto, uma questão persiste: podemos confiar em sistemas que apenas processam dados, sem jamais vivenciarem as emoções humanas?
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Na prática, a computação afetiva traduz emoções em dados: expressões faciais, entonação da voz, texto escrito, padrões de movimento ao usar o mouse ou dados biométricos, como frequência cardíaca e temperatura da pele. Esses elementos são interpretados por algoritmos que tentam identificar o estado emocional do usuário e adaptar suas respostas.
Aplicações já são vistas em assistentes virtuais, carros inteligentes e até no varejo online. Porém, há um problema central: emoções são complexas, subjetivas e moldadas por cultura e contexto. Uma mesma expressão facial pode significar coisas diferentes em diferentes partes do mundo, como o sorriso usado no Japão para disfarçar emoções negativas.
Permitir que máquinas tomem decisões com base em emoções que elas não compreendem plenamente levanta preocupações éticas sérias. Por exemplo, até que ponto é aceitável que um sistema provoque medo como alerta, sem saber as consequências psicológicas disso? E no caso de IAs programadas para simular relações amorosas, como elas lidariam com sentimentos como ciúmes ou apego?
Existe o risco de manipulação: se usuários acreditam que uma IA tem empatia genuína, podem ser levados a confiar em suas respostas de maneira desproporcional, mesmo quando seu objetivo real for gerar engajamento ou consumo.
O mercado de IAs que interpretam emoções é promissor, justamente por oferecer experiências mais personalizadas e previsões comportamentais. Em São Paulo, por exemplo, câmeras no metrô foram usadas para medir reações emocionais a anúncios. Já no Reino Unido, a operadora ferroviária Network Rail foi acusada de enviar imagens de passageiros a um serviço de análise emocional da Amazon, sem consentimento.
Casos como esses reforçam a necessidade de regulação. A União Europeia, por exemplo, já proibiu o uso dessa tecnologia em escolas e ambientes de trabalho, citando o risco de viés, estudos mostram que a precisão da IA varia conforme raça, idade e gênero.
Apesar das ameaças, a computação afetiva também pode trazer avanços em áreas como a saúde mental e a segurança. O desafio está em garantir que essas tecnologias sejam utilizadas de forma ética, transparente e com o devido controle social.
Cabe à sociedade, desenvolvedores, legisladores e usuários decidir como, onde e até que ponto essas ferramentas devem ser integradas à vida humana. Afinal, sentir é uma experiência profundamente humana, e talvez por isso, inatingível pelas máquinas.
(Com informações de Forbes)
(Foto: Reprodução/Freepik)