Completando 100 dias nesta terça-feira (29), o segundo mandato de Donald Trump à frente da presidência dos Estados Unidos tem sido marcado por decisões que impactaram diretamente o setor de tecnologia. Desde disputas comerciais globais até anúncios de investimentos bilionários em infraestrutura para inteligência artificial (IA), o cenário permanece instável e imprevisível para empresas e governos ao redor do mundo.
No início do mandato, Trump indicou que o setor de tecnologia estaria no centro da gestão. Durante a posse em 20 de janeiro, figuras como Mark Zuckerberg (Meta), Jeff Bezos (Amazon), Sundar Pichai (Google) e Elon Musk (Tesla e X) tiveram assentos privilegiados. Na mesma ocasião, Trump sinalizou que tarifas comerciais seriam uma estratégia central para reequilibrar a balança comercial dos EUA.
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A ofensiva tarifária começou com disputas com Canadá e México, mas ganhou força em 2 de abril, quando novas taxas foram impostas a importações de quase todos os países. O Brasil foi afetado com uma tarifa de 10%, enquanto a China sofreu uma sobretaxa de ao menos 34%.
As medidas causaram impacto imediato. Gigantes como Tesla, Nvidia, Meta, Amazon e Apple perderam bilhões em valor de mercado. No caso da Apple, mais de US$ 250 bilhões evaporaram em apenas um dia.
A escalada tarifária provocou retaliações da China, levando as tarifas a 125%. Diante da reação negativa, o governo norte-americano anunciou, em 12 de abril, uma pausa de 90 dias nas tarifas e retirou eletrônicos como smartphones e computadores da lista de taxação.
“O marco dos 100 dias é útil do ponto de vista legislativo, mas o cenário é volátil demais para avaliar os impactos no mercado de tecnologia”, afirmou um porta-voz da agência S&P Global.
A resposta do mercado foi imediata. Segundo o Gartner, as remessas globais de PCs cresceram 4,8% no primeiro trimestre de 2025, chegando a 59 milhões de unidades. Nos EUA, o crescimento foi de 12,6%.
“Nos Estados Unidos, o mercado de PCs teve um aumento nas remessas, pois os fornecedores elevaram o estoque em antecipação aos anúncios de tarifas”, explicou Rishi Padhi, diretor de pesquisa do Gartner.
A Nvidia anunciou, em 16 de abril, a fabricação de supercomputadores de IA em solo americano, com fábricas no Texas e Arizona. Segundo Jensen Huang, CEO da empresa, o movimento ajudaria a companhia a “atender melhor à incrível e crescente demanda por chips e supercomputadores de IA”.
Na América Latina, o cenário também é incerto. Países como Brasil, Argentina e Chile receberam tarifas de 10%, mas sofrem com volatilidade cambial. Para Patrícia Krause, economista da Coface, isso dificulta a previsibilidade para empresas. O México, mais dependente das exportações para os EUA, é o mais vulnerável.
Mesmo diante dos efeitos negativos, alguns setores enxergam oportunidades. “O setor agrícola é um exemplo. Durante o primeiro mandato de Trump, houve um aumento das importações chinesas de produtos agrícolas brasileiros em detrimento dos americanos, oportunidade que poderia ser reaberta para itens como soja, milho e carne”, afirmou Krause.
A Abinee, entidade que representa a indústria eletroeletrônica no Brasil, também viu a configuração como estratégica. Para a associação, as novas tarifas podem abrir espaço para um aumento das exportações brasileiras do setor aos EUA.
Outro destaque dos 100 dias foi o foco de Trump na inteligência artificial. Desde janeiro, o governo anunciou planos bilionários em parceria com empresas como Oracle, SoftBank e OpenAI. Simultaneamente, desmontou proteções da gestão Biden, como a exigência de compartilhamento de testes de segurança de IA com o governo.
“Nós precisamos investir em IA, em novas tecnologias que estão surgindo. Precisamos de mais do que o dobro da energia, da eletricidade, que temos atualmente”, afirmou Trump.
Para suprir a demanda energética, Trump investiu no carvão, liberando sua exploração em terras federais e afrouxando regulações ambientais. O combustível foi classificado como “mineral crítico” pelo governo.
Outro nome central nesta nova fase é Elon Musk. Próximo de Trump, Musk lidera o ‘Department of Government Efficiency (DOGE)’, criado para cortar gastos federais. O departamento foi responsável pela demissão de milhares de funcionários públicos, gerando polêmica e protestos anti-Tesla nos EUA. Os efeitos já atingem as finanças da montadora, que viu seu lucro líquido despencar 71% no primeiro trimestre de 2025.
(Com informações de It Fórum)
(Foto: Reprodução/Freepik)