Dois anos após a promulgação da Lei nº 14.611/2023, a chamada Lei da Igualdade Salarial, o desafio de garantir remuneração igualitária para homens e mulheres ainda esbarra em resistências no mercado de trabalho – inclusive no setor de tecnologia, tradicionalmente marcado pela predominância masculina.
No Sindpd-SP (Sindicato dos Trabalhadores em Tecnologia da Informação de São Paulo) a legislação tem sido uma ferramenta importante nas negociações coletivas, mas as diretoras Priscila Sena Mansonetto e Sandra Bueno afirmam que a aplicação real da norma ainda é lenta e enfrenta obstáculos.
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Enquanto isso, a psicanalista Maria Auxiliadora Camargo, coordenadora dos cursos de saúde mental do Sindplay (acesse o Sindplay clicando aqui), alerta para os impactos da desigualdade na saúde mental das mulheres, que muitas vezes enfrentam duplas jornadas e cobranças excessivas no ambiente corporativo.
Sindpd na linha de frente pela igualdade
Apesar de a CLT (artigo 461) e a Constituição Federal já estabelecerem a obrigatoriedade de salários iguais para funções equivalentes, a Lei 14.611 trouxe maior transparência ao exigir que empresas com mais de 100 funcionários divulguem informações salariais.
No Sindpd-SP, a legislação tem sido usada como argumento em negociações, mas os resultados ainda são limitados. Conforme define Priscila Mansonetto, diretora-executiva do sindicato, a lei teve um impacto “sutil”, mas significativo.
“A lei trouxe um impacto ‘sutil’, contudo, é um forte argumento para colocar na mesa ou simplesmente chamar a atenção. No setor de TI, ainda há predominância masculina em cargos de liderança: nas big techs globais, só 19% dos altos executivos são mulheres, e nas startups brasileiras, apenas 12%.”
Priscila avalia que o cenário tem mudança lenta, uma vez a desigualdade no setor – e para as mulheres no mercado de trabalho em geral – tem raízes históricas, assim como foi sua própria experiência quando ingressou na área de TI.
“A área de tecnologia sempre foi predominantemente masculina. Quando ingressei, mesmo com formação em TI, meu cargo era administrativo. Com o tempo, as mulheres avançaram na carreira administrativa enquanto jovens começaram a ingressar na área técnica. Mas a ascensão para cargos de liderança ainda é muito lenta”, afirma.
Hoje, como dirigente de um dos maiores sindicatos da América Latina, Mansonetto reforça a importância de a entidade não só ter participação ativa para transformar este cenário em prol da igualdade, mas também de servir como exemplo do próprio discurso.
“No Sindpd, temos 42% de mulheres na diretoria. Onde encontramos esse número no meio sindical? Precisamos multiplicar essa representação dentro das empresas. Eventos como a Maratona 8 de Março são fundamentais para dar visibilidade e trocar experiências, mas precisamos de mais iniciativas como essa durante todo o ano.”
Com o mote “Mulher, teu lugar é na TI”, a Maratona 8 de Março foi uma iniciativa realizada pelo sindicato durante todo o mês da mulher em parceria com dezenas de empresas em que as trabalhadoras e os trabalhadores participaram de palestras, debates e conversas com o objetivo de promover a igualdade de gênero no mercado de TI e criar ambientes de trabalho mais saudáveis e inclusivos.
“Foi um evento marcante, com experiências fortes e grandes trocas. Precisaríamos replicar esse modelo em diversos setores e em vários momentos do ano”, afirma Priscila, destacando que “mesmo que os avanços pareçam sutis, cada ação ajuda a construir a mudança”.
Negociações avançam, mas empresas ainda resistem
Nas mesas de negociação, a lei tem sido mais um instrumento de pressão, mesmo com a igualdade salarial já estar incluída nas Convenções Coletivas de Trabalho do Sindpd há muitos anos, conforme ressaltar a diretora Sandra Bueno. Apesar de o princípio constar na CLT e na legislação trabalhista há décadas, o sindicato fez questão de reforçar o tema na CCT a partir da constatação de que a diferença salarial seguia – e segue – sendo uma realidade.
“Já nos deparamos com esse tema antes mesmo da Lei da Igualdade Salarial, pois mesmo com o artigo 461 da CLT, muitas empresas ignoravam a obrigação. Esta lei é um parâmetro para nossas argumentações. Agora, com a transparência exigida, temos mais ferramentas para cobrar.”
Apesar de todo o arcabouço legal, Bueno relata que as empresas ainda tentam se esquivar até mesmo de admitir que o problema sequer exista.
“Muitas empresas procrastinam a demanda por salários iguais e mascaram a aplicação da lei. Temos que ouvir as trabalhadoras e, muitas vezes, forçar a discussão para quebrar paradigmas. Apesar da resistência, temos conseguido trazer a discussão para dentro dos departamentos de RH”, conta.
Saúde mental: o custo invisível da desigualdade
Além da disparidade salarial, a sobrecarga de trabalho não remunerado e a pressão por desempenho afetam diretamente a saúde mental das mulheres. Maria Auxiliadora Camargo, pedagoga e psicanalista que conduziu as palestras e bate-papos durante a Maratona 8 de Março, explica:
“A igualdade salarial ainda está mais no plano das ideias do que na prática. Mulheres sofrem preconceito velado, especialmente por conta da maternidade e das múltiplas tarefas que ainda lhes são atribuídas. A expectativa por promoções e melhores oportunidades pode levar a stress, ansiedade e até burnout. Quando há igualdade, aumenta a motivação, o engajamento e a satisfação no trabalho”, diz.
Neste sentido, a especialista destaca que a promoção da igualdade é interessante não apenas para as trabalhadoras, mas um diferencial estratégico para as empresas.
“A igualdade salarial e de oportunidades pode evidentemente melhorar a imagem e reputação da empresa, atraindo talentos, clientes e investidores que valorizam a diversidade e a inclusão, gerando aumento da produtividade e diminuindo o absenteísmo. Além disso quando mulheres motivadas e se sentindo pertencentes podem tornar o ambiente propício para mais inovação e criatividade. É bom para os dois lados.”
Caminho ainda é longo
Os dois anos da Lei da Igualdade Salarial mostram que, embora o Sindpd-SP tenha conseguido incluir o tema em negociações e pressionar por mudanças, a transformação real no setor de TI e no mercado de trabalho ainda é lenta. Enquanto algumas empresas começam a se adaptar, outras resistem, mantendo estruturas desiguais.
Para as trabalhadoras, além da batalha por salários justos, há um desgaste emocional causado pela desigualdade – um desafio que exige não só cumprimento da lei, mas uma mudança cultural.
Campanha Salarial começa no segundo semestre
A Campanha Salarial 2026 do Sindpd começa no segundo semestre deste ano e o seu lançamento promete ser em alto estilo! Vem aí o Sindpd On Fire, uma experiência inédita e ousada, exclusiva para sócios e contribuintes do sindicato e seus convidados!
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Vale lembrar que é na campanha salarial que são definidas as reivindicações da categoria a serem levadas para a mesa de negociação com os patrões, para a celebração da próxima CCT.
Os dois eixos centrais da pauta deste ano já estão definidos: o fim da escala 6×1 no setor de TI paulista e a conquista de aumento real nos salários, demandas que refletem a busca do Sindpd por melhores condições de trabalho e pela valorização dos profissionais de TI!