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19 de Agosto de 2023
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Sindicato de TI vai discutir semana de 4 dias em Campanha Salarial 2024
Iniciativa já foi testada com sucesso em diversos, chegando ao Brasil para empresas que queiram participar do piloto



Em meio às comemorações pelo seu aniversário de 39 anos, o Sindpd-SP foi palco de uma palestra de Renata Rivetti, fundadora da Reconnect Happiness at Work, para falar sobre o projeto-piloto da semana de quatro dias. O presidente do Sindpd, Antonio Neto, anunciou que levará a ideia da semana de 4 dias para as discussões sobre a nova Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) da categoria para 2024.

A palestra ocorreu nesta terça-feira (15) após o lançamento do Sindplay, plataforma de formação e capacitação profissional do Sindpd, que oferecerá cursos para as diversas áreas do setor de Tecnologia da Informação (TI).



A iniciativa '4 Day Week Global' foi fundada em 2019 e foi testada com sucesso em diversos países como Austrália, EUA, Reino Unido, Irlanda e Nova Zelândia, chegando ao Brasil, com inscrições abertas para empresas que queiram participar do programa. O princípio utilizado é chamado de 100:80:100, isto é, 100% do salário, 80% da carga horária prevista e 100% de produtividade.

"É um modelo flexível. As empresas que já começaram a testar esse modelo no Brasil o tem feito através de acordos coletivos com seus funcionários, adequando a proposta para a realidade de cada empresa. Por que não fazer uma jornada diferente? "

Renata contou que o maior experimento ocorreu no Reino Unido, com quase 3 mil pessoas e cerca de 60 empresas, obtendo grande sucesso, com 92% das companhias que participaram do programa aderindo definitivamente à semana reduzida. Não só o aumento da satisfação e da produtividade dos funcionários, mas a redução dos casos de Burnout e de outras doenças mentais foram decisivas para que as empresas mantivessem o modelo após o experimento. As empresas também registraram um aumento em suas receitas durante o projeto.

"O que a gente tem visto desde 2018 é que a semana de 4 dias traz um benefício obviamente para o indivíduo, que ganha um dia extra para cuidar da sua vida pessoal, da sua saúde mental, traz um benefício para a marca empregadora, aumenta a captação e retenção de talentos, aumenta a produtividade e traz um benefício para a sociedade, diminui a emissão de carbono, e faz avançar a equidade de gênero, com mais homens, por exemplo, dividindo as tarefas domésticas. É um caminho para construir uma nova forma de trabalhar", argumenta.

Maior produtividade

A especialista em felicidade corporativa explica que a ideia surgiu a partir da reflexão de como podemos ser mais produtivos no trabalho. "O quanto que a gente da tecnologia a nosso favor? O quanto a gente pode mais produtivo, trabalhar menos, mas trabalhar melhor? ", indaga Renata, que foi escolhida pela ?4 Day Week Global? como parceira do projeto no Brasil através da Reconnect Happiness at Work, empresa que ela mesma fundou.

"Os dados mostram que atualmente somos produtivos em média de duas horas a três horas por dia. A maioria das pessoas trabalham 8, 9, 10 horas por dia, mas não são produtivos. Excesso de distrações, excessos de reuniões, tecnologia que não é utilizada, comunicação falha. Tem gente que entra no Instagram 10 vezes durante o horário de trabalho. Não seria melhor tem um foco maior no trabalho durante 4 dias e ter um dia extra para fazer o que quiser? Tem um redesenho que pode ser feito para que a gente possa mudar essa semana que existe há mais de 100 anos", provoca.

"O modelo atual não gera aumento de produtividade e têm adoecido mentalmente os brasileiros", defende Renata. O Brasil é o 1º lugar do mundo em transtornos de ansiedade, 2º lugar mundial em casos de Síndrome de Burnout e o 5º em depressão. "Tem pessoas que se sentem culpadas por ter um dia extra. 'Nossa, não estou trabalhando, será que eu sou produtiva?'. A gente foi criada em uma sociedade que hoje acredita que não pode parar. Isso não é produtivo. Ao contrário, está levando a gente para um esgotamento. Essa é uma realidade".

"No final, isso é ruim para o indivíduo, pois deixa marcas, traumas, mas isso também é ruim para a empresa, com alto índice de Turnover, com o Burnout, que traz consequências graves", aponta. Tal esgotamento causa desinteresse no ofício, e um relatório mostra que somente 23% das pessoas estão engajadas no trabalho.

"Não é 60%, 70%, são 23%, as pessoas estão cansadas, estão sobrecarregadas, as pessoas estão chegando no seu limite e isso custa para economia global quase bilhões de dólares por ano. Do jeito que está, não está bom para ninguém".






Novas gerações e pós-pandemia

O fato de que as novas gerações estão mais preocupadas com a sua qualidade de vida e menos tolerantes com abusos - como o assédio - no ambiente de trabalho também contribui para a necessidade de uma mudança de paradigma. A pandemia, acrescenta Renata, mudou a percepção da sociedade sobre a busca da felicidade e sobre como cada pessoa gasta seu tempo.

"As novas gerações trazem essa reflexão: 'Eu não quero viver para trabalhar. Eu quero que o trabalho seja parte da minha vida. Não quero um trabalho que custe 100% do meu tempo'. A busca desse equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal".

A fundadora da Reconnect Happiness at Work afirma que a semana de 4 dias gera um aumento de performance dos funcionários, que ficam mais focados no trabalho para entregar as demandas esperadas e assim, terem acesso ao dia extra de descanso. "Esse modelo gera também uma maior relação de confiança nas empresas, onde as pessoas contam umas com as outras. Isso também reduz práticas abusivas dentro das companhias".

Com um dia livre na semana, as pessoas tendem a cuidarem melhor de si, da saúde mental e também da saúde física, fazendo exercícios, ficando com suas famílias e assim, tendo um ganho significativo na qualidade de vida. Mais felizes, as pessoas trabalham melhor e produzem mais. Além disso, a empresa que oferece uma semana de 4 dias se torna atrativa para captar e reter talentos do mercado de trabalho. "É 'ganha-ganha'. Tem mitos, medos, mas no final, todo mundo ganha. É um redesenho da semana de trabalho. Dá trabalho, mas no final, compensa", diz, lembrando que nos EUA, 100% das empresas mantiveram o modelo 100:80:100 ao fim do projeto.

Após o fim das inscrições, '4 Day Week Brasil', entra na fase de planejamento, com duração de três meses, e deve iniciar o experimento - que dura seis meses - entre os meses de novembro e dezembro. "Se a gente for esperar o momento perfeito...qual que o momento perfeito? A gente que tem que construir o mundo que a gente quer. A gente tem que lutar por aquilo que a gente acredita", finaliza Renata Rivetti.

Campanha Salarial 2024

Durante o evento, Antonio Neto, presidente do Sindpd, anunciou que os trabalhadores em Tecnologia da Informação do estado de SP pautarão a Jornada de 4 horas na próxima Campanha Salarial, que começa no fim do ano.

"Já são quase 30 anos lutando no Congresso pela redução da Jornada de Trabalho na Constituição. A nossa categoria conquistou em 2011 as 40 horas semanais. Já aviso ao Luigi e ao setor patronal, vamos querer discutir a jornada de 4 dias na próxima Campanha Salarial. Os benefícios da tecnologia precisam chegar aos trabalhadores.

O Setor de TI tem a oportunidade de ser pioneiro em um novo modelo pautado pelo trabalho decente, a produtividade necessária e a remuneração justa. ", afirmou o presidente do Sindpd.

Luigi Nese, Presidente do Seprosp, Sindicato Patronal do Setor de TI paulista, acompanhou o evento.


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