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23 de Agosto de 2024
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Semana de 4 dias de trabalho: saiba tudo sobre o projeto e seus benefícios para empresas e trabalhadores
Diante de um cenário preocupante no quadro de saúde mental dos trabalhadores brasileiros, é necessário repensar os modelos e relações de trabalho atuais



A iniciativa de implementação da semana de 4 dias de trabalho já começou em diversos locais do mundo e, recentemente, o Brasil também passou a fazer parte do projeto. O ponto central da proposta é repensar o modelo de trabalho ao diminuir a carga horária semanal.

No entanto, o objetivo não é uma forma simplista de eliminar um dia útil da semana, mas remanejar demandas e rever prioridades.

Neste artigo, vamos destrinchar todos os detalhes sobre o projeto piloto que está em teste ao redor do mundo em prol de mais tempo de qualidade aos trabalhadores tanto no âmbito pessoal quanto profissional.

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O que é a proposta da semana de 4 dias?

"4 Day Week Global" é uma organização sem fins lucrativos fundada em 2019 que realiza pesquisas ao redor do mundo sobre trabalho, qualidade e saúde mental. No Brasil, o projeto parceiro leva o nome "4 Day Week Brazil" e já conta com 22 empresas participantes.

O modelo 100-80-100 - que significa 100% de produtividade, 80% de carga horária e 100% do salário - foi debatido e preparado ao longo dos 3 últimos meses de 2023 e começou a ser testado em janeiro de 2024. Seu principal objetivo é garantir um modelo flexível que possa se adequar às necessidades do trabalhador e da empresa.

A premissa do projeto não pode ser reduzida ao simplismo de reduzir a semana útil, mas construir um cenário onde as pessoas possam aprender a trabalhar melhor e manter a produtividade, evitando prejuízo para empresas e instituições. Para o funcionamento pleno, o próprio projeto se preocupa em oferecer uma série de formações e capacitações em parceria com as empresas envolvidas.

Para que a equipe se mantenha produtiva, é importante identificar possíveis melhorias nos processos e reaprender o que é um trabalho de foco. As formações existem para que as pessoas possam efetivamente trabalhar de forma qualitativa para que os dias não-trabalhados possam ser um verdadeiro tempo de descanso.

Como surgiu a iniciativa?

Primeiras lutas sindicais

A pauta que questiona o tempo de expediente não é novidade. Com o avanço da Revolução Industrial no início do século XX, o aumento da mecanização e jornadas que chegavam a 16 horas diárias, trabalhadores se mobilizavam pela redução das horas trabalhadas.

Demorou algumas décadas até que a jornada de 40 horas se tornasse padrão nos países industrializados. A vitória se deu graças aos anos de campanhas sindicais e movimentos trabalhistas em prol de melhores condições.

No entanto, se na década de 1920 o trabalho era caracterizado pela força braçal e esforço repetitivo, não faz sentido que 100 anos depois a jornada de trabalho continue a mesma diante de tantas mudanças de paradigmas.

Atualmente, a média da jornada de trabalho semanal no Brasil é superior à média global, que é de 38,2 horas semanais.

Novos paradigmas e saúde mental

Atualmente, a força de trabalho que constrói o futuro do país não está mais exercendo esforço braçal no chão de fábrica, mas esforço mental frente a diversos dispositivos de conexão com o universo digital, onde tudo acontece.

É abundante o volume de informações que o cérebro humano recebe diariamente e precisa processar, compreender, analisar e decidir. Não à toa, os paradigmas do século XXI compreendem uma exaustão invisível que atravessa toda a classe trabalhadora em diferentes áreas.

A revolução digital transformou radicalmente a forma do homem se relacionar com o mundo. Além dos ultrapassados formatos de trabalho, a hiperconectividade também exige um frequente esforço oculto, além da cultura de superprodutividade que se impõe. Não à toa, a questão da saúde mental é primordial enquanto as camadas mais íntimas do cotidiano absorvem a tecnologia.

"O modelo atual não gera aumento de produtividade e têm adoecido mentalmente os brasileiros", defendeu Renata Rivetti, coordenadora do projeto no país.

Desde os anos 2000 a flexibilização da carga horária está em debate, mas foi só com a pandemia e o home office compulsório que a pauta ganhou força. Então, as novas formas de trabalho, outrora impensáveis, se tornaram viáveis. Foi nessa direção que a demanda por flexibilidade jogou luz na possibilidade da semana de 4 dias e outras formas de trabalho.

Principais obstáculos

A implementação da semana de 4 dias de trabalho no Brasil não é tão simples quanto parece. Existem uma série de obstáculos que precisam ser identificados, mapeados e analisados para que a proposta prospere de maneira oficial pelo país em todos os setores de mercado e em todos os graus hierárquicos.

Barreira cultural

Em primeiro lugar, é importante mencionar a barreira cultural como um fator limitante para a implementação do projeto. No Brasil, as lideranças ainda priorizam resultados em relação às pessoas. E, nesse sentido, a mentalidade da hiperprodutividade é retroalimentada pelo trabalhador.

O comportamento excessivo de trabalho e workaholic também são questões de uma saúde mental em desequilíbrio, mas existe um senso comum que enaltece essa tendência em detrimento dos outros perfis de profissionais. Um pensamento que dificulta a aceitação da proposta no país.

Adaptação de processos

O projeto da semana de 4 dias de trabalho vai muito além da ideia de folgar um dia a mais ou comprimir a semana útil. O fato é que pra que ele possa ser viabilizado, todo o fluxo de trabalho interno de uma empresa terá que ser redesenhado.

Por exemplo, eliminar reuniões desnecessárias, reduzir alinhamentos e retrabalhos e controlar pausas é um começo possível de gestão de tempo trabalhado. Existem estudos que apontam que 83% dos profissionais passam uma parte considerável do dia fingindo que trabalham, mas que o fazem na metade do tempo do expediente.

Lacunas de atendimento

Algumas empresas precisam estar disponíveis durante os 5 dias em horário comercial para garantir o relacionamento com o cliente e cobrir eventuais situações emergentes. Portanto, a redução da semana útil pode ser um desafio caso não haja equipe suficiente ou que tenha pouca visão dos processos.

Para tal, é preciso estruturar uma rotatividade dos dias não trabalhados entre os profissionais para não deixar lacuna na cobertura de atendimento e/ou suporte.

Países que aderiram

São mais de 500 empresas espalhadas pelo mundo que se propuseram a testar a nova modalidade de jornada.

No Reino Unido, cerca de 60 empresas aderiram ao projeto piloto e contou com a participação de quase 3 mil pessoas. 92% das companhias aderiram definitivamente à semana reduzida.

Nos EUA, o senador pelo estado de Vermont, Bernie Sanders apresentou o projeto de lei, Lei da Semana de Trabalho de 32 Horas de Sanders, que propõe a redução do horário de trabalho dos estadunidenses, mantendo os seus atuais níveis de rendimento. O Senador tem apoio dos principais sindicatos do país.

"Hoje, os trabalhadores americanos são 400% mais produtivos do que eram na década de 1940. E, no entanto, milhões de americanos estão a trabalhar mais horas por salários mais baixos", argumenta Sanders.

A África do Sul obteve a inscrição de 28 empresas e contabilizou 470 colaboradores participantes. Mais de 90% das organizações têm a intenção de manter a semana de 4 dias.

Outros países que já adotam a jornada reduzida ou estão participando do projeto piloto são: Nova Zelândia, Suíça, África do Sul, Portugal, Canadá e Austrália.

Projeto piloto no Brasil

O Brasil é o 1º lugar do mundo em transtornos de ansiedade, 2º lugar mundial em casos de Síndrome de Burnout e o 5º em depressão. Os números alarmantes foram essenciais para a adesão ao programa global. Sendo o primeiro país da América do Sul participante, o estudo piloto da semana de 4 dias de trabalho no Brasil, 4 Days Week Brazil, contou com a participação de 22 empresas com até 250 colaboradores.

Após alguns meses de teste, a experiência das organizações foi um sucesso. Mais da metade dos colaboradores apresentaram melhorias na produtividade, principalmente em tarefas de criatividade e inovação.

O relatório que analisa o impacto da nova modalidade já tem os primeiros resultados.

Saúde mental e física

8 em cada 10 pessoas se sentiram mais dispostas para realizar suas tarefas. 46% dos participantes sentiram uma diminuição significativa na exaustão ao fim do dia e 30% experimentaram menos ansiedade durante a semana.

Além disso, também houve 74% das pessoas que perceberam melhoria da saúde física.

Diminuição de faltas

A semana reduzida permitiu que outros problemas de ordens pessoais dos trabalhadores fossem resolvidos no dia de folga. Exames médicos, consertos, burocracias, consultas e outras questões puderem ser resolvidas sem demandar uma falta do profissional.

Produtividade estratégica

Dentre as empresas participantes, 72% relataram aumento na receita. Esse resultado pode ser atribuído ao aumento de 44% dos participantes em cumprir os prazos e manter a pontualidade dos projetos em consonância com 85% de percepção de maior colaboratividade entre os colegas.

Esses índices são frutos de maior motivação entre os funcionários para que a semana de 4 dias possa ser adotada definitivamente somada aos treinamentos e qualificações que a iniciativa oferece para melhor gestão de tarefas e prazos.

Veja outros números:

O lado dos profissionais

- 86% dos participantes afirmam que estão enxergando mais propósito no trabalho;
- 80% notaram melhorias na própria criatividade e capacidade de inovação;
- 71,5% perceberam que a produtividade aumentou significativamente;
- 65,5% afirmam que o comprometimento com a empresa aumentou;
- 60% perceberam que o engajamento no trabalho melhorou;
- 56% afirmam que estão executando projetos de maneira mais satisfatória.

O lado da empresa

- 84% dos executivos acreditam que o piloto foi benéfico para a empresa;
- 83% perceberam melhorias nos processos internos;
- 75% notaram equipes funcionando melhor;
- 63,6% acreditam que a empresa ganhou mais visibilidade com o piloto;
- 63,6% das empresas afirmam que tiveram mais lucro em 2024 (mas a melhoria não pode ser atribuída exclusivamente à semana de quatro dias).

Sindpd-SP e a semana de 4 dias

A redução da jornada de trabalho é um dos principais pilares da luta do Sindicato dos Trabalhadores em Tecnologia da Informação de São Paulo (Sindpd-SP). Em 2011, a pauta contou com milhares de pessoas na rua em defesa da redução do tempo de trabalho de 44 para 40 horas semanais, objetivo conquistado após processo que incluiu a deflagração de uma greve na categoria.

Em agosto de 2023, o sindicato recebeu Renata Rivetti, representante do Days Week Brasil e diretora da Reconnect Happiness at Work, em uma palestra sobre os objetivos do projeto e das necessidades de transformar a realidade do mercado de trabalho atual.

Já em outubro do mesmo ano, o Sindpd recebeu a visita do Ministro do Trabalho, Luiz Marinho, que defendeu que o Congresso Nacional discuta o tema da redução da jornada de trabalho semanal. Na época, o ministro lembrou que já há experimentos ocorrendo no Brasil, utilizando o modelo de quatro dias por semana.

Para os próximos anos, a diretoria do sindicato pretende debater uma nova redução para 36 horas e, com a vinda do projeto piloto da semana de 4 dias, a proposta pode fortalecer as possibilidades futuras nas negociações de uma nova Convenção Coletiva de Trabalho.

(Informações coletadas de Jornal da USP, 4 Days Week Global e 4 Days Week Brasil)
(Números fornecidos pelas pesquisas da FGV em parceria com o projeto)
(Foto: Reprodução/Freepik)


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