Por Antonio Neto*
Quero fazer uma saudação especial a este grande guerreiro, um dos maiores getulistas deste país, Carlos Lupi. Um dos melhores ministros do Trabalho que este país já teve. Um homem que, com sua coragem, arrojo e patriotismo, devolveu ao ministério do Trabalho o protagonismo que tivera outrora. Obrigado ministro. A sua presença muito nos honra.
Meus companheiros, minhas companheiras. Estamos reunidos aqui hoje para celebrar os oitenta anos da Revolução que mudou a estrutura do nosso país e construiu as bases para sermos esta nação unida, progressista e democrática. Estamos comemorando os oitenta anos da Revolução que construiu o futuro. E o comandante desta Revolução foi Getúlio Dornelles Vargas.
Com a sua visão nacionalista e modernizadora, Getúlio iniciou o processo de reconstrução nacional e refundação das instituições públicas brasileiras, que estavam carcomidas pelas práticas dos barões do café. Mais do que construir os pilares que permitiram o Brasil crescer a uma média de 7% ao ano no período entre 1930 e 1980, Getúlio incutiu um novo paradigma na sociedade, embasado na convicção de que o povo brasileiro deveria conquistar, efetivamente, a independência econômica e social.
Getúlio resumiu a revolução com as seguintes palavras:
“Jamais, no Brasil, se verificou acontecimento cívico de maior extensão e profundidade. No dia 3 de outubro, não há exagero na afirmativa, a Nação, no que ela tem de mais valoroso como força e com o mais honesto patriotismo, mobilizou-se para a luta”.
Ele estava certo. Por isso fazemos esta homenagem. Não é uma homenagem apenas a Getúlio. Em sua memória, enaltecemos todos os homens e mulheres que lutaram e lutam pela construção do Brasil sonhado por Vargas. É uma homenagem aos trabalhadores e trabalhadoras, a Lula, à Dilma, a Lupi, enfim, aos melhores filhos de nossa Pátria.
Contudo, o centro desta comemoração é Getúlio. Ele liderou o nosso povo, venceu a oligarquia e iniciou a construção de uma Nação independente, onde os trabalhadores passaram a sonhar e a lutar por uma vida mais digna e pelo direito de olhar para os seus filhos e dizer que eles terão as mesmas oportunidades de se alimentar, de estudar, de crescer, do que têm os herdeiros das famílias abastadas.
Ele criou as leis trabalhistas, alicerçou o nosso desenvolvimento. Foi ele o criador da Petrobrás, foi o seu sangue que possibilitou que esta empresa rasgasse o nosso subsolo, o nosso mar, e revelasse ao mundo que os brasileiros são donos de uma das maiores reservas de hidrocarbonetos existentes no Planeta.
A obra de Getulio foi o Brasil. Não foram poucos os exercícios acadêmicos que buscaram apagá-la. Mas isso é impossível, aliás, esta é uma característica que diferencia os vertebrados das amebas. A coluna vertebral permanecerá para as futuras gerações. Getulio não foi apenas fiel às suas palavras, aos seus discursos. Ele as colocou em prática, pois sabia que a sua obra era o começo e que um dia os trabalhadores chegariam ao governo para completá-la. Getulio nos ensinou que não é possível um país se desenvolver para “proporcionar aos homens, às mulheres e às crianças a existência digna, segura, próspera e confortável a que têm direito”, sem a forte e planejada presença do Estado na economia. O Estado é indissociável do processo de desenvolvimento. Sem Estado, não há desenvolvimento.
Foi necessário passarmos pela consumada leviandade do neoliberalismo para que o conjunto do povo absorvesse com mais profundidade este ensinamento. Não diria que Getúlio fora um profeta. Mas foi um brasileiro visionário, que tinha certeza de que os seus feitos renderiam frutos.
Por isso, um dia, em um de seus mais famosos discursos, disse aos trabalhadores: “Hoje estais com o governo. Amanhã sereis governo”.
Sim, os trabalhadores chegaram ao poder. Hoje, temos um trabalhador na Presidência da República. Lula iniciou o resgate da obra getulista, reestruturou o Estado e começou a invalidar as distâncias sociais que começaram a aumentar entre os brasileiros. Este projeto está ancorado, sobretudo, no Programa de Aceleração do Crescimento, na reconstrução da Petrobrás, na valorização gradual e constante do salário mínimo, na geração de empregos e nos programas sociais, que podem ser compreendidos por todo e qualquer serviço público oferecido pelo Estado, seja na educação, saúde ou no apoio aos brasileiros que precisam de ajuda complementar.
Tem uma frase de Getúlio que eu não canso de citar. Para mim ela revela muito da incontrolável vontade que ele tinha de ver este país livre. Esta frase – mais atual do que nunca – diz o seguinte:
“A semente que plantastes começa a produzir os seus primeiros frutos sazonados. E a imensa floração, que se estende por todos os quadrantes da Pátria, é a prova de que o seu sangue derramado pela libertação do país não caiu em terreno sáfaro. Do Norte ao Sul, o Brasil se levanta, moral e materialmente, do torpor, do abatimento, do largo sono infecundo em que, por tantos anos, esteve mergulhado”.
Nosso compromisso, dos trabalhadores e dos cidadãos de bem deste país, é completar a obra de Getulio, comprovando a assertiva de que “o seu sangue derramado pela libertação do país não caiu em terreno sáfaro”, pelo contrário. Para tanto, precisamos aprofundar e colocar em prática as mudanças necessárias para o Brasil seguir em frente.
Tal programa está estampado no projeto de Nação defendido pelas centrais sindicais, que reuniram mais de 25 mil dirigentes em evento histórico no estádio do Pacaembu, e aprovaram a Agenda da Classe Trabalhadora para um projeto nacional de desenvolvimento com soberania e valorização do trabalho.
Defendemos que o crescimento econômico esteja orientado diretamente para a ampliação do mercado interno de consumo de massa, com geração de emprego e ampliação da renda do trabalho. Ao mesmo tempo é necessário avançar nas diferentes políticas sociais, em especial nas áreas de educação, saúde, habitação, infraestrutura e de transferência de renda. Um dos nossos grandes desafios está concentrado em evitar a desnacionalização de nossa economia. Este talvez tenha sido o grande embate de Getúlio.
Em seu memorável discurso de 31 de janeiro de 1954, ao falar sobre a necessidade de criação da Eletrobrás para garantir a energia necessária para o desenvolvimento do país, uma vez que o consumo crescia em média 14% ao ano, Vargas disse:
“Eu não pretendo nacionalizar nem os bens, nem o capital estrangeiro. Não pretendo nem encampar nem desapropriar empresas. O que eu tenho o dever de evitar é a desnacionalização do Brasil”.
Esta batalha se estende ao nosso Pré-sal, riqueza incomensurável descoberta pela principal empresa criada por Getúlio, a Petrobrás. É nosso dever patriótico fazer com que os recursos advindos desta atividade sejam usados para pagar uma dívida histórica com o povo mais sofrido, implementando a justiça e a igualdade social.
Este é o nosso compromisso, é a nossa dívida com Getúlio e com os milhares de brasileiros que sacrificaram suas vidas para construir esta grande Nação chamada Brasil. Digo isso porque o próprio Vargas tinha consciência de que a Revolução havia apenas começado. Com a palavra, Getúlio:
“Explosão da consciência coletiva do país, a Revolução não deve ser considerada apenas como um simples movimento político, nem fato exclusivamente circunscrito à vida brasileira. Não devemos jamais esquecer que a Revolução ainda não terminou”.
Sim, comandante Getúlio. Enquanto houver neste mundo um ser humano passando fome; enquanto houver neste país um filho de trabalhador sem acesso ao ensino fundamental e universitário; enquanto houver ameaça a nossas riquezas naturais. Enquanto houver a mínima exploração do homem sobre o homem ou qualquer pigmento de espoliação estrangeira, nós carregaremos o seu nome como a nossa bandeira de luta e os seus ensinamentos para construir um país livre, soberano e com oportunidades para todos.
Viva Getúlio! Viva a classe trabalhadora brasileira!
Muito obrigado.
(*) Antonio Neto é presidente do Sindpd e da CGTB
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