Por unanimidade, os cerca de mil trabalhadores da tecnologia da informação do estado de São Paulo que participaram da assembleia realizada hoje (12) pelo Sindpd, decidiram decretar estado de greve e ingresso de dissídio coletivo na Justiça do Trabalho. “Não nos deixaram outra alternativa. A categoria está coesa e consciente de que a paralisação e a Justiça do Trabalho é o melhor caminho para conquistarmos o nosso direito, que é o de termos um aumento digno, vale-refeição e PLR”, afirma o presidente do Sindpd, Antonio Neto.
Em sua intervenção, o presidente fez um histórico da negociação e explicou para os trabalhadores como o movimento irá prosseguir. “O Sindpd vai avisar a sociedade, por lei deve fazer um comunicado em jornal às empresas tomadoras e prestadoras de serviço de TI. Estamos em estado de greve e temos o direito de paralisar as atividades das empresas, começando pelas que integram a comissão patronal”, afirma Antonio Neto.
A negociação salarial dos trabalhadores de TI foi interrompida em janeiro depois de quatro rodadas de debates entre o sindicato patronal e o Sindpd. As principais reivindicações dos trabalhadores são 11,9% de aumento salarial linear, desenvolvimento de plano de Participação em Lucros e Resultados (PLR), auxílio-refeição de R$ 15 por dia e ampliação de pisos. O sindicato patronal oferece reajuste salarial de 6,47%, índice que apenas repõe a inflação, e refuta todas as outras solicitações.
De acordo com a lei de greve, por ser considerado serviço essencial, o sindicato deve publicar um anúncio em jornal de grande circulação, para informar as empresas tomadoras e prestadoras de serviços de TI. Após 72 horas da publicação, os trabalhadores poderão dar início às paralisações, que podem ser pontuais ou generalizadas. Ainda de acordo com a lei “é vedada a rescisão de contrato de trabalho durante a greve, bem como a contratação de trabalhadores substitutos”.
Durante a assembleia estiveram presentes trabalhadores de todas as regionais do Sindpd. Dentre elas, caravanas de Santos, Ribeirão, Sorocaba, Campinas e Araraquara. Contudo, o maior número de trabalhadores presentes foi da capital e região metropolitana, mesmo diante da tentativa de desmobilização patrocinada por algumas empresas. Uma delas, por exemplo, a Totvs, ofereceu um churrasco para os trabalhadores na hora da assembleia. “A TOTVS marcou um churrasco hoje no novo prédio, talvez assim evite a presença dos funcionários. Uma vergonha o nosso RH”, comentou um trabalhador.
Outro profissional da HP/EDS comentou o fato da empresa ter reajustado os salários pela inflação antes da assembleia. “Adiantar 6,47% sem que as negociações tenham sido concretizadas demonstra o medo de que essa greve seja realizada, tentando agradar o funcionário, se passando por uma excepcional empresa que esta do lado do trabalhador. Hoje eu quero GREVE, não pelo dinheiro, mas pelo respeito e valorização dessa classe que garante lucros exorbitantes para as empresas sobre um SERVIÇO ESSENCIAL em um mundo capitalista que necessita de ter a melhor TI a cada segundo”, disse.
Para o secretário geral do Sindpd e coordenador do interior, José Gustavo Oliveira Netto, a presença dos trabalhadores do interior é muito importante para este momento decisivo da categoria. “É fundamental a participação de todos. Tanto do interior, quanto da capital. Nós precisamos juntos, lutar por um auxílio refeição decente. Não dá para viver com auxílio coxinha. Nós temos força, vamos à luta”, frisa.
A votação para o deliberação de estado de greve foi unanime dentre os presentes. “Precisamos explodir, sair às ruas, as praças, as empresas. Trabalhador unido jamais será vencido”, pondera o diretor Paulo Teixeira Sabóia. “Sabemos que juntos somos mais fortes e podemos reivindicar o que é justo. Esse é um momento histórico para a nossa categoria”, completa o vice-presidente João Antonio Nunes Gomes.
No total foram quatro rodadas de negociação com o sindicato patronal. Entretanto o Sindpd não recebeu um retorno positivo. Desde 31/01 quando as negociações foram suspensas, o sindicato realizou várias manifestações. Além dos quase 40 mil sócios que receberam a convocação durante esse período, o sindicato procurou atingir as principais companhias nesta fase de mobilização. Vale lembrar que trabalhadores de outras empresas já foram mobilizados pela presença dos diretores do Sindpd como Stefanini, CPM Braxis, Prodesp, Prodam, BRQ, Softtek, Datasist, Prologos, Adp, Orservice, Tecban, Tecnoset e Spreed.
“O patronal tem condições de ofertar e pagar mais. Temos todos os dados da lucratividade do setor. Todos os dias os jornais publicam notícias afirmando isso.
Vejam alguns exemplos: Stefanini IT adquire duas empresas e já planeja novas aquisições; Stefanini faz compras nos EUA e Colômbia; 2011: um marco para o setor de TI; empresas gastam R$ 62 bi com TI; mercado brasileiro de TI crescerá 13% em 2011, projeta IDC; lucro da Totvs cresce 14,6% em 2010, para R$ 137,8 milhões; mercado brasileiro de TI será de US$ 25 bilhões em 2011; lucro da HP cresce 16% no primeiro trimestre fiscal; lucro da IBM alcança de US$ 5,3 bilhões no 4º trimestre. Nós queremos que as empresas lucrem, mas que este lucro seja dividido, que valorizem o empenho do trabalhador”, disse Antonio Neto.
Em 2010, o Brasil teve o maior crescimento dos últimos 26 anos. De acordo com a empresa de consultoria internacional Gartner, a previsão de crescimento para as empresas do setor de TI é de 12 a 15%. No segmento de TI a mão de obra é responsável por 70% do custo do produto final, a produção depende incondicionalmente dos trabalhadores. “Isso causa indignação, nós sabemos que existe muito dinheiro para dar aumento real. Eles estão precisando dos trabalhadores então essa é a hora de cobrar o que é nosso por direito”, analisa a dirigente Arlete Bittercourt. Para se ter uma ideia, um setor que cresce de 4 a 5% ao ano é considerado de alto rendimento. O segmento de TI apresentou aumento de 15 a 20% no ano passado.
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