A tecnologia tem desempenhado papel fundamental quando o quesito é inclusão e acessibilidade. Sinônimo de evolução, o setor de tecnologia da informação tem melhorado e desenvolvido softwares e hardwares que auxiliam no processo de inclusão dos PcDs (Pessoas com Deficiência).
Com o desenvolvimento de recursos de acessibilidade, as ferramentas de TIC abrem portas de combate ao preconceito e dão oportunidade de fazer com que a categoria cresça ainda mais e o melhor: de forma igualitária.
O Brasil, segundo o último censo realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), tem mais de 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência (visual, auditiva, física e intelectual; a mais declarada é a deficiência visual, que atinge 6,5 milhões de brasileiros. Grande parte deles ainda não teve seu ingresso no concorrido mercado de trabalho garantido.
Desafios profissionais
Na área de programação de computadores desde a década de 1980, Laércio Sant?Anna, da Prodam, afirma que, desde seu ingresso na profissão, o setor mudou muito. "Eu era programador de plataforma alta. Na época, os sistemas de plataforma baixa praticamente não existiam na Prodam. Usávamos terminais escravos ligados a uma controladora por cabos. Os únicos recursos de acessibilidade que tínhamos era uma impressora de impacto adaptada com uma borracha nas agulhas para a produção de Braille de baixa qualidade e um terminal da IBM com uma síntese de voz em inglês, que era um problemão para entendermos o que estava pronunciando", contou.
Um dos maiores desafios enfrentados por um deficiente visual está na formação, que exige materiais adaptados e didáticas que não sejam estritamente visuais. "As maiores dificuldades com que me deparo são a falta de acessibilidade de alguns softwares e documentos elaborados com gráficos", declarou o consultor em acessibilidade web Sidnei Silvestre da Silva, da MicroPower.
Em acordo com o colega, Laércio relatou que fez o ensino fundamental em escola especializada para pessoas com deficiência visual no Instituto de Cegos Padre Chico, que dispunha de ambiente totalmente adaptado. No entanto, a história foi diferente no ensino médio e na faculdade. "Não foi fácil, mas foi possível graças à boa base que tive no ensino fundamental", ressaltou.
Já na faculdade, a falta de livros em formato acessível foi o que mais dificultou o bom andamento dos estudos. "Na época, diferentemente do que temos hoje, não havia tanto material em formato digital e em áudio. Hoje, com um pouco de boa vontade, dá para se digitalizar um livro, isso se ele já não estiver disponível em e-book. Penso que, com os smartphones, internet e rede sociais, a vida do estudante com deficiência ficou bem mais facilitada", avaliou o funcionário da Prodam.
Para Laércio Sant’Anna, o esforço para encontrar sistemas específicos para deficientes visuais é constante. "Por mais que me esforce, ainda encontro sistemas e interfaces que não consideraram seu uso por uma pessoa que precisa de recursos de tecnologia assistida. Isso provoca um desgaste muito grande e até mesmo uma redução na produtividade. É uma luta constante para que, sempre que um novo sistema é desenvolvido, os recursos de acessibilidade sejam considerados", lamentou.
Em sua atuação no desenvolvimento no setor de implementação, Cláudio Teixeira, do Serpro, relatou que os maiores problemas que enfrenta na profissão é a falta de acessibilidade de alguns softwares e documentos elaborados com gráficos, ou seja, com apelos totalmente visuais.
Laércio Sant’Anna e Sidnei Silvestre contam que utilizam os leitores de tela Jaws For Windows – produto pago e importado dos EUA, o gratuito NVDA e o Virtual Vision, que é um leitor de tela desenvolvido na cidade de São Caetano, em São Paulo, pela empresa nacional Micropower, além de uma impressora Braille para uso interno.
Segundo Sant’Anna, o Jaws é o melhor leitor de tela do mercado. "Contudo, é imprescindível deixar claro que, quando os recursos de acessibilidade se esquecem de implementar as recomendações do WCAG do W3C, as condições de trabalho e uso dos sistemas ficam totalmente comprometidas", ressaltou.
Como grande parte dos softwares de acessibilidade são importados, quase não há treinamento e existe a necessidade de ser autodidata ou ainda de recorrer a fóruns internacionais para tentar solucionar problemas, de acordo com Sant?Anna.
Em alguns casos, como o de Silvestre, da Micropower, o suporte dado pelo CADEVI (Centro de Apoio ao Deficiente Visual), parceiro do Sindpd, é primordial para o desenvolvimento profissional, de ingressantes ou não na área de TI. "Inicialmente fiz cursos de digitação e informática básica no CADEVI assim que comecei a perder a visão; depois passei a dar aulas no mesmo local, período que aprendi muito. Em seguida fui para a Micropower trabalhar no suporte e fiz um curso com uma equipe de especialistas em acessibilidade web no RJ", contou.
No caso dos funcionários do Serpro, Prodam e Micropower, a aceitação e envolvimento dos colegas de trabalho foi tranquila. "Como a empresa já possuía pessoas com deficiência visual trabalhando como programadoras, eu encontrei um ambiente preparado. Mesmo estando longe do ideal, a presença desses colegas facilitou muito. Eles já me apresentaram os caminhos das pedras para contornar as dificuldades da época", relembrou Sant’Anna, da Prodam.
Para ele, a presença de pessoas com deficiência em uma empresa é um ganho para todos. "Sinto que, muitas vezes, até esquecem que tenho deficiência visual, tal é a naturalidade com que interagimos. Não acredito que isso ocorra em todas as empresas; as pessoas têm medo do novo, então, ao se depararem com alguém diferente, é muito natural a insegurança e o medo", disse Sant’Anna.
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