IA – Um estudo realizado no DipLab, laboratório o Instituto Politécnico de Paris, na França, revelou que as mulheres representam 64% dos trabalhadores que treinam sistemas de Inteligência Artificial (IA) no Brasil. O artigo conta com colaboração de Matheus Viana Braz, professor de psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM), e aponta também que grande parte dessas trabalhadoras são mães que conciliam o trabalho doméstico com a geração de renda online.
A pesquisa analisou trabalhadores do Brasil, Argentina e Venezuela, que realizam tarefas repetitivas, como classificação de imagens, transcrição de áudios e revisão de textos para aprimorar sistemas de IA. Nos países vizinhos, a participação masculina ainda é predominante; na Argentina, 70% dos trabalhadores são homens, enquanto na Venezuela esse número é de 64%.
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Segundo Viana Braz, a busca por flexibilidade leva muitas mulheres a essa ocupação. “As brasileiras encontram nessas plataformas uma falsa promessa de compatibilidade entre o trabalho doméstico, o trabalho do cuidado e uma obtenção de renda sem sair de casa. Contudo, essas mulheres dedicam 40% mais tempo a atividades domésticas que os homens”, afirma. “O trabalho de dados se soma a outras formas invisíveis de trabalho, sem lhes proporcionar independência financeira”.
Na Venezuela, 75% dos entrevistados dependem exclusivamente dessa ocupação para sustentar suas famílias, enquanto no Brasil e na Argentina, o trabalho é, em geral, um complemento de renda. Além disso, muitos profissionais precisam atuar em horários incomuns, como de madrugada, para alinhar-se à demanda de clientes estrangeiros.
Outros problemas incluem infraestrutura precária, como conexões instáveis de internet e quedas de energia frequentes, especialmente na Venezuela. Os argentinos, utilizam os ganhos em dólar como estratégia para se protegeram da inflação galopante do país.
O estudo, que ouviu 911 pessoas entre 2021 e 2023, mostra que a maioria dos trabalhadores possui diploma universitário, mas recebe salários baixos. No Brasil, o rendimento médio mensal é de US$ 112 (cerca de R$640), superior ao da Argentina (US$ 83) e da Venezuela (US$ 70).
O levantamento contou ainda com a participação de especialistas do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS) da França e da Universidade Nacional de La Plata, na Argentina. O artigo passou por revisão de pares e deve ser publicada na revista Globalizations.
(Com informações de Folha de São Paulo)
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