Mulheres – Apesar de progressos isolados, o cenário de oportunidades permanece difícil para mulheres na área de tecnologia. Embora 31% das profissionais tenham ingressado no setor durante a pandemia (2020-2023) – taxa duas vezes maior que a masculina (16%) –, sua representatividade não supera 30% em nenhuma etapa da carreira no ramo.
De acordo com a pesquisa “Women in tech-Brasil/Latam”, conduzida pela consultoria McKinsey e pela Laboratoria, mulheres ocupam mais vagas em posições iniciais, mas a situação se torna mais crítica nos altos escalões. Em 60% das organizações, apenas um quarto dos cargos executivos são ocupados por mulheres.
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O estudo entrevistou 819 profissionais de diversos níveis e 126 empresas (com 500 a mais de 5 mil funcionários) em oito países: Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, México, Panamá e Peru.
“Outro dado preocupante no levantamento é a disparidade salarial”, destaca Paula Castilho, sócia da McKinsey no Brasil. “Mesmo quando alcançam postos semelhantes aos dos homens, as mulheres ganham, em média, 24% a menos”. E o problema não para por aí, diz. “Apenas metade das companhias pesquisadas têm alguma política de equidade salarial, reforçando um ciclo de desigualdade que dificulta a retenção das profissionais”, acrescenta.
Castilho argumenta que os resultados não indicam desinteresse feminino pela área, mas ambientes pouco receptivos e obstáculos à ascensão. “Os números mostram que um em cada três candidatos a vagas na área é mulher e, quando contratadas, elas se concentram em funções como UX [experiência do cliente] e controle de qualidade; enquanto nichos mais técnicos, como cibersegurança e ‘back-end’ [infraestrutura e operações não visíveis] seguem inacessíveis”.
A especialista também ressalta que metade das empresas não adota estratégias claras de inclusão. “Isso significa que, mesmo com uma maior presença de funcionárias, não há diretrizes para garantir o crescimento das equipes”, afirma.
Para transformar esse cenário, Castilho defende ações práticas. O primeiro passo é ampliar o acesso a treinamentos e mentoria, atraindo mais mulheres para áreas historicamente masculinas. “Além disso, o processo seletivo deve ser mais justo. O recrutamento às cegas [que não identifica características pessoais da pessoa candidata, como gênero e raça, por exemplo] e as bancas mistas nas entrevistas são práticas simples que podem reduzir vieses inconscientes”.
A retenção de talentos também exige medidas como flexibilidade de horários e planos de carreira. “Depois de contratadas, as executivas devem enxergar um caminho de ascensão. Para isso, é central adotar diretrizes de equidade salarial e mecanismos como flexibilidade nos expedientes e planos de desenvolvimento de carreira. São medidas que ajudam a ‘equilibrar o jogo’ e garantir a permanência”.
Quem superou barreiras no setor apoia a análise. Cíntia Scovine Barcelos, CTO do Bradesco, com 32 anos de experiência, enfatiza a necessidade de estimular o interesse desde cedo. “Precisamos incentivar nossas meninas, desde muito jovens, a desenvolverem habilidades específicas e oportunidades de aprendizado”, diz.
“Fui uma criança que adorava matemática. Meu pai me incentivava a fazer contas de cabeça e íamos à feira todos os sábados para testar meus conhecimentos. Quando chegou o momento de escolher uma profissão, optei pela faculdade de engenharia eletrônica. Éramos apenas duas mulheres na turma”, conta.
Promovida em 2024 ao cargo atual, Barcelos lidera 5,3 mil colaboradores, sendo 1,2 mil mulheres. “Exemplos são ‘tudo’. É muito mais fácil quando a gente olha para o lado e pensa: ‘um dia, vou ser como aquela pessoa’”, afirma.
Fabiane Nardon, diretora de plataformas de dados da Totvs, reforça a importância da educação. “Com mais mulheres no mercado, naturalmente novas lideranças surgirão”, diz. “Aos 12 anos, pedi um videogame de aniversário, mas ganhei um computador. Meu pai acreditava que seria mais útil – e ele estava certo. Como não ganhei o presente que queria, comecei a programar meus próprios jogos no PC”.
Ellen Cristina Gouveia, CTO da fintech PilotIn, relata situações emblemáticas.
“Lembro de uma reunião com potenciais investidores, em que todos os olhares se dirigiam para os meus colegas homens, pois achavam que a liderança técnica era deles. Quando comecei a apresentar a estratégia da empresa, percebi uma mudança de comportamento no grupo, que mostrou atenção redobrada e até mesmo admiração. Meu conselho para outras colegas é ‘comece!’. Não espere ter todas as habilidades necessárias para dar um primeiro passo. Procure cursos, participe de comunidades de tecnologia e valorize as chances de aprendizado. E lembre-se: você merece estar onde está”, conclui.
Maratona 8 de Março
Durante todo o Mês da Mulher, o Sindicato dos Trabalhadores em Tecnologia da Informação de São Paulo (Sindpd-SP) está promovendo palestras, debates e outras atividades em parceria com empresas com o objetivo de promover o bem-estar e valorização das trabalhadoras de TI, além de incentivar a inclusão de mais mulheres no setor.
Saiba todos os detalhes da Maratona e acompanhe os eventos pelo site especial da campanha (acesse clicando aqui).
O encerramento da Maratona será em 29 de março, quando o Sindpd promoverá um Techday com palestrantes renomadas e painéis sobre diversos temas de relevância para o setor de TI e o empoderamento feminino. O Techday será no Hotel Meliá Ibirapuera, das 9h às 16h. (Inscreva-se no Techday clicando aqui).
Ao final do evento, será realizado o sorteio de dois iPhones 16, um para todas as mulheres sócias e contribuintes que participaram da Maratona e realizaram o cadastro prévio, e outro para aquelas que estiverem presentes no Techday.
(Com informações de Valor Econômico)
(Foto: Reprodução/Freepik)