A chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que a União Europeia pode adotar tarifas sobre serviços digitais dos Estados Unidos se as negociações com Donald Trump para resolver a disputa comercial — iniciada com a reintrodução de taxas sobre aço e alumínio — não forem bem-sucedidas.
Durante o período de 90 dias em que Washington suspendeu novas tarifas, a UE busca um acordo “totalmente equilibrado” com os EUA, disse. No entanto, von der Leyen destacou que medidas de resposta estão sendo preparadas, incluindo a possível cobrança de impostos sobre a receita de publicidade de empresas de tecnologia como Google e Meta (dona do Facebook, Instagram e WhatsApp).
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A proposta estabelece que a taxação seria aplicada de forma igualitária em todo o mercado europeu, ao contrário dos tributos digitais já implementados individualmente por alguns países do bloco.
Segundo a líder europeia, esta é a primeira vez que o mecanismo de defesa comercial da UE pode ser usado para atingir exportações de serviços americanos.
As tarifas impostas pelos EUA no início de abril, de 20% sobre produtos industriais europeus, levaram Bruxelas a suspender temporariamente retaliações que afetariam €21 bilhões em importações dos Estados Unidos, como suco de laranja, iates e carne de frango. Se as conversas não avançarem, essas medidas serão retomadas automaticamente.
Von der Leyen afirmou que Trump provocou uma “mudança radical no comércio global” ao desafiar o status quo e priorizar acordos bilaterais.
“Nessa guerra comercial, não há vencedores, apenas perdedores”, declarou, mencionando a instabilidade nos mercados financeiros como consequência da situação atual.
Ela reforçou que não cederá em temas como o Imposto sobre Valor Agregado (IVA) — comparável ao sales tax americano — nem nas regras europeias sobre conteúdo digital e concorrência, consideradas inegociáveis pelo bloco.
A administração Trump acusa a Europa de criar barreiras não tarifárias por meio de regulamentações técnicas e fiscais. Von der Leyen disse estar disposta a discutir a harmonização de normas, mas ressaltou que diferenças culturais e de hábitos limitam essa convergência.
O bloco também estuda a aplicação de tarifas sobre exportações de resíduos metálicos para os EUA, devido à forte demanda do país.
Outra preocupação é o possível desvio de produtos chineses barrados pelos Estados Unidos para o mercado europeu, o que poderia levar a UE a adotar medidas protetoras.
Independentemente do resultado das negociações com Trump, a presidente da Comissão Europeia afirmou que o contexto atual já está acelerando a busca por novos acordos comerciais com nações da Ásia e do Golfo, como Indonésia, Emirados Árabes, Malásia, Tailândia e Filipinas.
Ela também defendeu a atualização das regras da Organização Mundial do Comércio, argumentando que as normas atuais não são capazes de lidar com as distorções causadas pelos subsídios da China.
“Não podemos desperdiçar uma boa crise”, concluiu von der Leyen.
(Com informações de O Antagonista)
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