A indústria de games no Brasil tem avançado significativamente nos últimos anos, impulsionada por uma série de programas de fomento que vêm auxiliando desenvolvedores a saírem do amadorismo. Iniciativas públicas e privadas oferecem não apenas apoio financeiro, mas também suporte técnico e mentorias, abrindo caminhos para a profissionalização do setor.
“Tivemos pouquíssimas iniciativas de investimento público nos últimos 20 anos. Só agora temos programas mais consolidados”, afirma Rodrigo Terra, presidente da Abragames (Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Digitais).
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Atualmente, há uma variedade de iniciativas em diferentes esferas (nacional, estadual e municipal) que contribuem com bolsas, orientação e acesso ao mercado.
Em São Paulo, a Spcine, empresa pública vinculada à Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa, atua há uma década na publicação de editais para o setor de games. Nos últimos anos, expandiu sua atuação com a criação de programas como a incubadora Spgame Start, o laboratório de game design Spgame_Lab e outras ações voltadas à inclusão de jovens da periferia no mercado de desenvolvimento.
“Hoje, as ações da Spcine estão focadas principalmente em empresas que são nascentes e no fomento ao desenvolvimento de jogos autorais, de IPs brasileiras. Esse é o nosso foco principal e as nossas ações têm seguido nesse sentido”, afirma Lyara Oliveira, presidente da Spcine.
Um exemplo do impacto dessas ações é o estúdio paulistano Mad Mimic, que recebeu R$ 150 mil por meio de um edital da Spcine para o desenvolvimento do jogo No Heroes Here. Luis Tashiro, CEO do estúdio, destaca a importância desse investimento para a trajetória da empresa.
“O primeiro projeto que a gente teve algum apoio foi o do jogo ‘No Heroes Here’, via edital da Spcine, em que a gente recebeu R$ 150 mil. Foi uma virada de chave ter esse recurso e poder desenvolver tendo alguma segurança financeira”, afirma.
Com esse apoio, a Mad Mimic pôde apresentar o No Heroes Here em eventos como o BIG Festival de 2018, em que o título foi premiado como Melhor Jogo Brasileiro. O reconhecimento rendeu parcerias, como com a Maurício de Sousa Produções para o lançamento do jogo Mônica e a Guarda dos Coelhos.
Hoje, com cerca de 35 funcionários, o estúdio trabalha em múltiplos projetos simultaneamente. Em janeiro, lançou Mark of the Deep, um jogo de ação no estilo “souls-like” com elementos de “metroidvania”. A empresa também está desenvolvendo a sequência de No Heroes Here, atualmente em acesso antecipado.
Além do suporte público, a Mad Mimic também recebeu apoio do setor privado. Em 2023, foi uma das dez escolhidas para o Google Indie Fund, que oferece US$ 200 mil (cerca de R$ 1,1 milhão) para estúdios da América Latina lançarem jogos em dispositivos Android. Os títulos passam a integrar o Play Pass, serviço de assinatura de games do Google.
“A gente sempre teve o desejo de entrar no mercado mobile, mas para nós, desenvolvedores indies, há uma barreira muito grande para chegar aos jogadores, ainda mais quando você não tem recurso de investidores”, diz Tashiro.
Além da Mad Mimic, outros estúdios brasileiros selecionados pelo Google em 2024 foram o baiano Vish Game Studio (Just King), o paulistano Little Leo Games (Astrea: Six-Sided Oracles), o catarinense Plot Kids (Play Together TV) e o carioca Minimol Games (Chessarama).
Rodrigo Terra ressalta a relevância do investimento privado, mas aponta a abrangência das políticas públicas como essencial para o setor. “A iniciativa pública é mais poderosa para o setor no momento em que estamos hoje. Não quer dizer que a privada não seja importante, mas ela é muito mais específica. O Google vai apoiar o mobile. Numa política pública, é jogo. Ele abrange mais. Não fica restrito a uma única plataforma”, afirma.
(Com informações de Folha de S.Paulo)
(Foto: Reprodução/Freepik)