Mesmo sob ameaças do governo dos Estados Unidos, o Brasil segue aprofundando sua parceria com a Huawei na área de inteligência artificial (IA). A empresa chinesa firmou novos acordos no país envolvendo data centers e soluções tecnológicas para setores como saúde, mobilidade e segurança pública.
Durante sua visita à China, no último dia 14, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou o papel estratégico da relação entre os dois países. “A nossa relação com a China é estratégica. A gente quer inteligência artificial. A gente quer tudo o que eles podem compartilhar conosco”, afirmou em Pequim.
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Na véspera, Lula e o presidente Xi Jinping anunciaram um acordo entre a estatal brasileira Dataprev e a Sparkoo, plataforma de serviços em nuvem da Huawei, voltado à construção de infraestrutura e serviços para a criação da Infraestrutura Nacional de Dados de Inteligência Artificial.
Segundo Lula, o acordo é um dos primeiros resultados das “sinergias” buscadas entre programas como o Novo PAC, a Nova Indústria Brasil e a Iniciativa Cinturão e Rota da China. Ele anunciou ainda: “O Centro Virtual de Pesquisa e Desenvolvimento em Inteligência Artificial, fruto da parceria entre Dataprev e Huawei, será essencial para o desenvolvimento de aplicações em agricultura, saúde, segurança pública e mobilidade”.
De acordo com um especialista brasileiro baseado na China, a parceria envolve data centers da Dataprev e de instituições acadêmicas localizadas no Nordeste, em cidades como Fortaleza. A Huawei deve fornecer tecnologia de IA voltada aos setores citados e uma versão adaptada para a língua portuguesa do modelo de IA Pangu, já utilizado em smartphones na China desde 2022.
Embora não haja confirmação sobre o fornecimento de chips de IA, o entendimento firmado entre Brasil e China prevê a cooperação em infraestrutura e na construção de conjuntos de dados de alta qualidade para IA.
Outro projeto em negociação, ainda não formalizado, envolve a criação de um “hospital inteligente” com tecnologia da Huawei no complexo do Hospital das Clínicas, em São Paulo. O espaço será instalado em um prédio cedido pelo governo estadual e abrigará o Instituto Tecnológico de Medicina Inteligente.
O projeto será parcialmente financiado pelo Novo Banco de Desenvolvimento, o Banco do Brics, sediado em Xangai, onde autoridades brasileiras como Rui Costa, chefe da Casa Civil, e Ana Estela Haddad, secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde, vêm mantendo reuniões com executivos da empresa chinesa.
A atuação internacional da Huawei em IA, tanto em software quanto em hardware, incluindo possíveis chips, não se restringe ao Brasil. Segundo o pesquisador Kyle Chan, da Universidade de Princeton, “muitos países já têm datacenters de nuvem IA que parecem usar os chips Ascend da Huawei”, citando Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Tailândia e Malásia como exemplos.
No entanto, o avanço da Huawei na América Latina encontra obstáculos. Em um evento realizado no fim do ano passado, o fundador da empresa, Ren Zhengfei, relembrou as dificuldades enfrentadas no Brasil.
“As leis são tão complexas que é muito difícil para os advogados entenderem a legislação brasileira”, afirmou. “Levamos 20 anos para finalmente passarmos do prejuízo para o lucro no Brasil. Até hoje, não é possível dizer que vamos sobreviver.”
(Com informações de Folha de S. Paulo)
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