A Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês), antes associada à automação residencial, vem ganhando cada vez mais espaço na indústria. De acordo com o estudo “Panorama do IoT no Brasil 2025”, realizado pela Associação Brasileira de Internet das Coisas (ABINC) em parceria com a TI Inside, 38% das empresas fornecedoras do setor já oferecem soluções com inteligência artificial (IA) embarcada, enquanto outras 43,7% estão em fase de desenvolvimento.
Gigantes como Siemens e Bosch estão entre as líderes no avanço tecnológico que une IoT e IA. A melhora na conectividade com o 5G, a redução de custos e a pressão por sustentabilidade são apontados como os principais fatores que impulsionaram essa transformação.
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Na indústria alimentícia, a Seara, subsidiária da JBS, utiliza IoT nas granjas para monitorar, em tempo real, parâmetros ambientais e comportamentais, melhorando o bem-estar animal e a produtividade. Já a transportadora TRS, também do grupo, implementou um sistema que desde 2022 evitou mais de mil potenciais acidentes, detectando sinais de fadiga e comportamentos de risco dos motoristas.
No setor de medição e uso consciente da água, a paulista Urbatech desenvolveu um equipamento com IoT que individualiza o consumo de água e gás em condomínios. Segundo Priscilla Virginia, gerente comercial da empresa, a tecnologia contribui para uma cobrança mais justa e um consumo mais consciente.
“Essa é uma forma importante para ensinar sobre o uso consciente dos recursos, mas também é a única forma de se cobrar o consumo correto”, afirma.
A ferramenta também auxilia na detecção de vazamentos. Em um caso recente, foi possível localizar a origem de um desperdício diário de 15 mil litros de água em um prédio comercial.
A Siemens já triplicou o número de clientes atendidos com IoT no Brasil nos últimos dois anos, atuando em setores como alimentos e bebidas, data centers, mineração, petróleo e gás, química e energias renováveis. Para superar a limitação da infraestrutura industrial brasileira, a empresa passou a oferecer redes 5G privativas.
“Precisamos de uma infraestrutura robusta. Um problema é que a base instalada da indústria brasileira ainda é obsoleta. Se 90% dos ativos de uma indústria não são compatíveis com o 5G, como o investidor vai se interessar por essa tecnologia?”, questiona Davi Carboni, líder da área digital da Siemens.
Na Bosch, cerca de 70% das linhas de produção já operam de forma conectada. Máquinas fazem pedidos de materiais automaticamente e acionam robôs para a entrega.
“Se a máquina para por duas horas, o ser humano observa apenas que a máquina parou duas horas. Um sistema com sensores vai dizer se ainda havia peças em produção, se a linha de produção foi completamente interrompida ou até mesmo se uma peça está sendo produzida em 11 segundos, ao invés de 10 segundos”, explica Julio Monteiro, diretor industrial da Bosch.
Ele relata que sistemas com IA ajudam a prever falhas, monitorar ruídos e agilizar manutenções com base em dados históricos.
“Temos anos de informações sobre manutenção de máquinas. Tudo que foi realizado nas máquinas está nesse sistema. Só que cada manutentor preenche os dados de uma forma. A IA consegue buscar informações e correlacionar com erros. O sistema sabe o problema e como as pessoas resolveram”, afirma.
Ele estima uma redução de 30% a 40% na força de trabalho da empresa, embora novas vagas surjam em TI e engenharia de software.
A Squair, voltada ao setor de alimentos e bebidas, utiliza sensores inteligentes para monitorar equipamentos de refrigeração. No Zé Delivery, cliente da empresa, o consumo de energia caiu 24%, o que representa uma economia anual de R$ 36 mil.
“Esses equipamentos servem para manter os produtos em temperatura ideal que funcionam 24 horas por dia, mas entendemos que podem trabalhar de forma diferente ao longo do dia e ao longo do ano. Geramos de 25% a 30% de economia no custo de energia”, relata Manuel Vargas, CEO e cofundador da plataforma.
Já a Diel automatiza aparelhos de ar-condicionado com sensores que monitoram falhas e desempenho em tempo real.
“Muitas lojas têm temperatura inadequada. Você perde duas vezes: além do desconforto, gasta mais energia. Um cliente tinha um setor da loja muito frio e outro muito quente. Quando padronizamos, os clientes passaram a ficar mais tempo e o tíquete médio aumentou 120%”, conta Victor Arcuri, fundador e diretor comercial da empresa.
Na área de iluminação e consumo de água, a Group Link projeta instalar 2 milhões de dispositivos até o fim do ano. De menos de mil em 2022, a empresa passou a quase 100 mil no ano passado e teve crescimento de mais de 1.500% no faturamento. Entre os lançamentos recentes, está a tornozeleira eletrônica ProLink, equipada com IA e voltada à proteção de mulheres vítimas de violência doméstica.
“Atualmente a mulher precisa avisar que viu seu agressor, mas muitas vezes o agressor se esconde. Conseguimos colocar um aplicativo no celular da mulher que avisa quando o agressor está próximo e avisa a polícia. Se ele passar em um ônibus próximo, o sistema consegue corrigir rapidamente e entender como um alarme falso”, explica Guilherme Rodrigues, sócio da companhia.
Com soluções voltadas à segurança, sustentabilidade e produtividade, a integração entre IoT e IA consolida seu papel estratégico nas empresas brasileiras, prometendo transformar ainda mais os processos produtivos nos próximos anos.
(Com informações de O Globo)
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