O uso de inteligência artificial generativa já alcança 50 milhões de brasileiros, o equivalente a 32% da população conectada. Apesar do avanço expressivo, a tecnologia permanece muito mais presente entre pessoas de maior renda e com ensino superior. Nas classes D e E, apenas 16% usam esse tipo de ferramenta, evidenciando um novo capítulo do abismo digital no país.
Os dados integram a pesquisa TIC Domicílios 2025, divulgada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) nesta terça-feira (9). O estudo aponta que, assim como ocorreu com a internet, a incorporação da IA também reflete desigualdades profundas na sociedade brasileira.
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Para Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br, a disparidade no uso da IA se torna ainda mais preocupante à medida que essas ferramentas passam a influenciar aspectos cada vez mais amplos da vida cotidiana. Segundo ele, renda e escolaridade continuam determinando quem consegue se beneficiar da tecnologia.
Entre os usuários da tecnologia, a grande maioria (84%) recorre à IA para atividades pessoais. Em seguida, aparecem uso acadêmico (53%) e aplicações profissionais (50%).
Na educação, o impacto é ainda mais evidente: 86% dos estudantes afirmaram utilizar IA em pesquisas e trabalhos escolares ou universitários.
A desigualdade, porém, volta a aparecer entre quem não usa IA. Entre pessoas que têm até Ensino Fundamental, 65% apontaram falta de habilidade como principal motivo para não adotar ferramentas de IA. O dado reforça como a ausência de familiaridade tecnológica pode perpetuar ciclos de exclusão.
Para Fabio Storino, coordenador da TIC Domicílios, os resultados mostram que a tecnologia tem sido apropriada de maneira diferente pelos diversos grupos sociais. Ele aponta que pessoas com maior nível de instrução tendem a trabalhar em áreas mais digitalizadas e, por isso, utilizam IA para atividades profissionais – vantagem que pode ampliar desigualdades já existentes.
Segundo Storino, a apropriação da IA como ferramenta de estudo, por exemplo, pode colocar em vantagem quem domina seu uso, deixando para trás quem não tem acesso ou habilidade.
O estudo também investigou os motivos de quem não aderiu à tecnologia. Os principais são:
• Falta de interesse ou necessidade – 76%
• Preocupações com segurança ou privacidade – 63%
• Falta de habilidade – 58%
• Desconhecimento sobre a existência da ferramenta – 52%
Entre pessoas com até o Ensino Fundamental, os índices são ainda mais altos: falta de habilidade chega a 65% e falta de conhecimento, a 63%.
A pesquisa revela, assim, que o avanço da IA generativa no Brasil ocorre em ritmo acelerado, mas não de forma igualitária. Sem políticas que ampliem o acesso e fortaleçam a formação digital, a tecnologia tende a aprofundar disparidades já existentes entre grupos sociais.
(Com informações de Convergência Digital)
(Foto: Reprodução/Freepik)
