A estratégia dos Estados Unidos de permitir a exportação do chip H200 da Nvidia para a China não está surtindo o efeito esperado. Segundo David Sacks, “czar” de inteligência artificial da Casa Branca, Pequim tem rejeitado o semicondutor americano em favor de tecnologias desenvolvidas internamente, em um movimento clara de garantir independência no setor.
Em entrevista à Bloomberg Tech, Sacks afirmou que a China compreendeu a lógica por trás da decisão americana. “Eles estão rejeitando nossos chips”, disse, citando um artigo que havia lido no mesmo dia. “Aparentemente, eles não os querem, e acho que a razão para isso é que eles querem independência em semicondutores.”
O presidente Donald Trump anunciou que permitiria o envio do H200 da Nvidia à China. A decisão fazia parte de um esforço do governo, apoiado por Sacks, para desafiar empresas chinesas como a Huawei, levando concorrência americana ao mercado interno de Pequim. No entanto, antes disso, o próprio Sacks já havia sinalizado dúvidas sobre a eficácia dessa abordagem.
Os comentários do assessor levantaram questionamentos sobre a capacidade da Nvidia de recuperar receitas no mercado chinês de data centers, que a empresa chegou a retirar completamente de suas projeções. Ainda assim, o CEO Jensen Huang estimou esse mercado em US$ 50 bilhões neste ano. Analistas da Bloomberg Intelligence calculam que a receita anual do H200 na China poderia alcançar US$ 10 bilhões, desde que o país aceite os chips.
Em comunicado divulgado por um porta-voz, a Nvidia afirmou que segue trabalhando com o governo dos EUA nas licenças do H200 para clientes aprovados. “Embora ainda não tenhamos resultados para divulgar, está claro que três anos de controles de exportação excessivamente amplos fortaleceram concorrentes estrangeiros dos EUA e custaram bilhões de dólares aos contribuintes dos EUA”, afirmou a empresa.
Paralelamente, a China avalia um pacote de incentivos de até US$ 70 bilhões para fortalecer sua indústria local de fabricação de chips, segundo informou a Bloomberg na sexta-feira. A iniciativa reforça a determinação de Pequim em reduzir a dependência de fornecedores estrangeiros como a Nvidia e indica que o governo continuará apoiando empresas nacionais como Huawei e Cambricon, mesmo com a liberação do H200 para exportação.
Lançado em 2023, com entregas iniciadas no ano passado, o H200 integra a geração Hopper de chips da Nvidia. Ele é considerado a segunda melhor linha da empresa, atrás da Blackwell e dois ciclos antes da futura série Rubin. O atraso de 18 meses em relação aos chips mais recentes foi parte da justificativa do governo Trump para autorizar sua exportação à China.
Sacks, que ingressou no governo em janeiro após carreira como capitalista de risco, apontou o apoio estatal chinês à Huawei como fator central para a resistência ao H200. Ainda assim, ele defendeu a decisão americana de liberar a venda do chip, que classificou como uma tecnologia “defasada” e já fora da ponta.
“O que se vê é que a China não está aceitando esses chips porque quer apoiar e subsidiar a Huawei”, disse Sacks. “Isso fez parte do nosso cálculo: vender para a China não os melhores chips, mas sim chips defasados, de modo que se pudesse tirar participação de mercado da Huawei. Mas acho que o governo chinês percebeu isso, e é por isso que eles não estão permitindo a entrada desses chips.”
A decisão dos EUA foi motivada, em parte, pela avaliação de que a Huawei já oferece sistemas de IA com capacidade comparável, como a plataforma Cloud Matrix 384, que conecta centenas de processadores para compensar o desempenho inferior de cada chip individual. Alguns funcionários americanos enxergaram o H200 como um meio-termo após a tentativa frustrada da Nvidia de exportar uma versão do chip Blackwell para a China, segundo uma pessoa familiarizada com o assunto.
Na semana passada, enquanto a decisão ainda era analisada, Huang afirmou a repórteres em Washington que não sabia se a China aceitaria o H200. Já na segunda-feira, Trump declarou em uma postagem no Truth Social que o presidente chinês Xi Jinping respondeu de forma positiva à possibilidade de aprovações para exportação do chip.
Até o momento, Pequim não confirmou publicamente se permitirá a importação do H200 da Nvidia, nem anunciou uma rejeição formal. No início deste ano, no entanto, a China recusou o H20, um chip significativamente menos avançado que Trump já havia autorizado, reforçando as incertezas sobre o futuro da presença da Nvidia no mercado chinês.
(Com informações de O Globo)
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