Alessandra Carneiro e Cristina De Luca
Matéria publicada no Jornal O Dia
Há onze projetos de lei já escritos, muitos ainda em tramitação no Congresso, para regulamentar as profissões de Tecnologia da Informação. Tentam, todos, pôr ordem em um mercado bastante confuso, conforme demonstra a primeira pesquisa salarial promovida pelo Seprorj (Sindicato das empresas de Informática). Ouvindo apenas 23 pequenas empresas prestadoras de serviço de TI, levantou 359 cargos, agrupados depois em 16 (tabela abaixo). Deles, a convenção trabalhista da categoria, no Rio de Janeiro, reconhece só três:
Digitador, Programador (nível técnico de 2 grau) e Analista Programador (de formação superior).
“Encontramos obstáculos na falta de regulamentação da profissão. Mas nossa idéia é aumentar esse número na próxima convenção, que acontece este ano”, explica o diretor do Sindpd -RJ, Márcio Diniz.
Apesar do universo pequeno, Benito Paret, presidente do Seprorj, considera a pesquisa da entidade representativa e surpreendente. Entre as revelações, chama atenção a expansão dos contratos de terceirização: 15 das 23 empresas já contrataram PJs. “Mas as cooperativas estão em desuso”, diz Martha Santos, coordenadora do Seprorj.
Outro dado relevante é o fato de Operadores e Digitadores não figurarem entre os 359 cargos levantados. Em compensação, cresceu a contratação de “Testadores” e “Programadores” de nível médio.
E os salários? De um modo geral estão mais baixos. Especialmente nas pequenas prestadoras de serviço de TI. “Hoje ainda há bastante oferta. Mas como também há muitos profissionais se formando, os salários estão baixando”, constata Felipe Diniz, 34 anos, Analista de Sistemas da Relacional Consultoria alocado na H.Stern.
A formação de mão-de-obra é outro fator preocupante. “O fim dos cursos de tecnólogo fez a qualidade cair”, avalia Benito.
“Uma área em alta, com escassez de mão-de-obra, é a de programadores especializados em linguagens de mainframe. Já a de programadores de aplicativos Windows está saturada”, afirma Luigi Nese, presidente do Seprosp, sincato paulista.
Estatística que serve de bússola
Para chegar aos valores salariais da tabela, o consultor Luiz Mota, da Decisum, que foi o intermediário entre o Seprorj e as empresas pesquisas, considerou como salário médio o desvio-padrão (50%) entre o menor e o maior valor pago para cada função. Foram desconsideradas as funções de direção.
O Seprorj já está convocando as empresas associadas a participarem da Pesquisa Salarial 2005/2006. A intenção é ampliar a respresentatividade.
Áreas de atuação das empresas
O gráfico acima mostra a área de atuação das empresas participantes da pesquisa salarial do Seprorj. A maioria (19) é de pequeno porte, definida pelo número de funcionários (menos de 99). Duas são médias e outras duas são grandes (mais de 500 colaboradores).
As empresas de Desenvolvimento Customizado de Aplicativos – que envolve a entrega de softwares personalizados para um cliente específico – têm a maior incidência no Rio: são nove entre as 23 pesquisadas. Em seguida, vêm as empresas de Gerenciamento de Aplicativos (oito), que cuidam da manutenção, suporte e grenciamento diário dos sistemas; e as de Instalação e Suporte a Software (sete), especializadas na instalação e configuração de aplicativos.
Ja a área de menor incidência no Rio é a de Educação e Treinamento em TI, com apenas uma empresa listada.
Carteira assinada, sim
Contratos CLT ainda são maioria entre os profissionais cariocas
Entre as 23 empresas pesquisadas pelo Seprorj, 65% têm funcionários terceirizados no mercado. Ao todo, foram encontrados 359 cargos, dos quais 320 – que representam 89% – estão em regime de contrato CLT. Já os terceirizados ocupam 11% das vagas, com 39 cargos.
Luigi Nese, presidente do Seprosp, afirma que em São Paulo o número de profissionais terceirizados é bem maior, atingindo quase 40%. “Porém, há uma pressão do Ministério do Trabalho para que o número de contratados CLT aumente”, acrescenta. Nese lembra ainda que, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Seprosp há dois anos, 51% dos terceirizados preferiam continuar assim. Por outro lado, 65% dos contratados com vínculo empregatício (CLT), não queriam se tornar terceirizados.
Legislação considera terceirização ilegal
Benito Paret, do Seprorj, lembra que a legislação trabalhista considera ilegal a tercerização para atividade fim. “Mas as pressões do mercado se impõem. Em São Paulo há uma convenção específica para contratação de terceirizados com salários acima de R$3 mil”, diz.
O analista de sistemas Felipe Diniz, 34 anos, lamenta que as empresas estejam cada vez mais abrindo mão de contratos com carteira assinada para dar lugar a profissionais terceirizados. “Muitas empresas só estão contratando funcionários por cooperativas, o que tende a piorar a situação do funcionário”, afirma.
“O PJ (Pessoa Jurídica) tende a receber mais, mas eles não tem direito a nada, caso aconteça alguma coisa com a empresa, por exemplo”. Felipe acredita que com os cooperativados a situação não é muito diferente.
“Na verdade, os cooperativados são sócios de uma empresa que presta serviços para alguém. Mas é bom lembrar que esse contrato de prestação de serviços pode ser interrompido sem muita dificuldade”, alerta.
Cargo de Digitador em baixa, e Testador em alta
Como hoje em dia praticamente todas as informações sobre os sistemas e programas já vêm digitalizadas, a carreira de Digitador tende a desaparecer. Hoje, os digitadores estão sendo absorvidos por outras áreas que também não necessitam de um curso superior. “Muitos agora trabalham em áreas de atendimento, suporte e operadores de sistema”, diz Nese.
Por outro lado, uma outra carreira aparece com maior freqüência no mercado, a de Testador. “As duas carreiras existem há bastante tempo, só que uma cresce, enquanto a outra está sumindo”, diz Felipe Diniz, que trabalhou como digitador da Caixa Econômica Federal entre 1994 e 1996, e como testador da Sendas em 1998. “Quando eu comecei, ainda tinha muita informação em papel, que tinha que ser digitada para ser processada. Hoje é tudo digital. E como é cada vez mais importante ter um diferencial, as empresas tendem a investir mais dinheiro em qualidade. Para isso, um testador é fundamental”, acredita.
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