A denúncia de lideranças dos movimentos sociais de que “a direita quer melar a eleição do Lula” teve uma repercussão surpreende. Os crescentes apoios ao manifesto não param de chegar. O texto exige a apuração do conteúdo do dossiê que envolve o ex-ministro da Saúde, José Serra, atual candidato tucano ao governo de São Paulo, com a máfia dos sanguessugas. Também, quer a apuração do episódio da suposta compra de um dossiê contra o tucano. Aqui, ainda, pode-se ler outros 4 artigos sobre a blindagem da imprensa sobre o conteúdo do Dossiê e o que esse escândalo, mal apurado, pode trazer para o futuro político e econômico do Brasil e brasileiros.
Movimentos Sociais assinam Manifesto
O manifesto lançado na quarta-feira (20) passada já contava com a adesão prévia de integrantes de mais de 70 movimentos sociais que apóiam a reeleição do presidente Lula. “O manifesto é assinado por membros das entidades representativas e não por esses movimentos, em termos institucionais”, explicou João Felício, diretor da CUT. “Nele, reivindicamos a apuração plena dos fatos e que se investigue o conteúdo das denúncias, para sermos justos, democráticos e éticos, sem aceitar uma lógica de dois pesos, duas medidas”, acrescentou.
Felício lembrou que uma série de denúncias apresentadas durante os oito anos de administração Fernando Henrique Cardoso (PSDB) foram “minimizadas”, enquanto o governo Lula sofre ataques a cada nova denúncia.
“O dossiê Cayman, as denúncias de esquemas fraudulentos nas privatizações da Companhia Vale do Rio Doce e da Telebrás, os casos Marka e FonteCindam, todos foram tratados como coisas menores. E contra nós (do PT) tudo vira verdade. Isso é golpe”, acusou Felício. “Estou louco para saber qual era o conteúdo do vídeo apreendido pela Polícia Federal”, acrescentou.
Nos próximos dias, as mobilizações da campanha em todo país estarão munidas do manifesto para distribuição. “Agora, com toda essa tentativa de melarem o processo eleitoral, a militância vai para a rua mesmo. Esse episódio não vai nos abater e nem tirar nosso ânimo”, disse Felício.
Uma das preocupações da campanha de Lula será evitar que os atos públicos possam resultar em problemas de violência ou agressão entre adversários políticos, com a tensão política provocada pela oposição golpista.
“O Comitê entrará em contato com todos os movimentos sociais ligados ao PT e orientará e estimulará mobilizações pacíficas. Que ninguém aceite provocações e entre em conflitos”, adiantou Felício.
“Não interessa para nossa campanha entrar em conflito ou aceitar provocações. Lideramos as pesquisas, poderemos vencer a eleição no primeiro turno e sempre surgirão grupos de provocadores para tentar gerar confrontos”, adicionou.
Leia a íntegra do manifesto de entidades pela apuração de denúncias contra Serra:
PERDEDORES QUEREM MELAR A ELEIÇÃO DE LULA
Os mesmos que desgovernaram o país entregaram nossas riquezas ao estrangeiro, privatizaram a Vale do Rio Doce, desempregaram e arrocharam salários, cortaram direitos, e fizeram o Brasil andar para trás, ameaçam o povo brasileiro com o uso da mais desavergonhada parcialidade e manipulação para tentar melar a eleição.
Sem conseguirem derrotar o presidente Lula no campo da democracia, PSDB, PFL e seu candidato Geraldo Alckmin buscam no tapetão, contando com seus tentáculos nos meios de comunicação, reverter a goleada do povo.
Sem darem resposta ao conteúdo das denúncias que incriminam o ex-ministro da Saúde José Serra, com a máfia das sanguessugas, tentam tapar o sol com a peneira, usando métodos nazistas, para quem uma mentira repetida mil vezes se tornava verdade.
Felizmente, a sabedoria popular separa o joio do trigo e tem reafirmado sua confiança na honestidade e no compromisso de Lula com a construção de um novo Brasil.
Diante da intensidade dos ataques golpistas, da onda de mentiras e baixarias patrocinadas pelo que há de mais reacionário e apodrecido no país, os militantes dos movimentos sociais exigem imparcialidade da justiça eleitoral e vêm a público alertar a população sobre esta tentativa de melar a eleição, desrespeitando a vontade popular. Querem impedir a vitória que se construiu por meio de um governo com profundas raízes nas camadas populares, que começou a mudança e que vai aprofundá-las em um segundo mandato.
A nossa resposta é tomar as ruas e ampliar ainda mais a mobilização e unidade, afirmando com uma só voz: “Com a força do povo, é Lula de novo!”.
Para garantir a vitória de Lula, participe de todas as mobilizações no seu Estado
Assinam este manifesto, dirigentes e militantes das seguintes entidades dos movimentos sociais:
Central Única dos Trabalhadores
Central Geral dos Trabalhadores Brasil – CGTB
Força Sindical
União Nacional dos Estudantes – UNE
União Brasileira dos Estudantes Secundaristas – UBES
Coordenação Nacional de Entidades Negras – CONEN
União Nacional de Negros pela Igualdade – UNEGRO
Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira – CENARAB
Confederação Nacional das Associações de Moradores – CONAM
Central de Movimentos Populares – CMP
União Nacional por Moradia Popular – UNMP
Movimento Nacional de Lula por Moradia – MNLM – Brasil
Movimento de Evangélicos Progressistas – MEP
União Brasileira de Mulheres – UBM
Marcha Mundial das Mulheres
Conf. das Mulheres do Brasil – CMB
Conf. Nacional dos Trabalhadores em Educação – CNTE
Conf. Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG
Federação Única dos Petroleiros – FUP
Fed. Nac. Trab. Agricultura Familiar – FETRAF Brasil
Conf. Nac. dos Metalúrgicos da CUT – CNM
Conf. Nac. dos Trab. do Ramo Financeiro – CONTRAF
Conf. Nac. Químicos e Similares – CNQ
Conf. Nac. Trab. Em Vestuários da CUT – CNTV
Conf. Nac. Trab. Em Seguridade Social – CNTSS
Conf. Nac. Trab. em Transportes – CNTT
Conf. Nac. Trab. no Serviço Público Municipal – CONFETAM
Conf. Nac. Trab. no Comércio e Serviços – CONTRACS
Conf. Nac. Trab. Ind. Alimentação e Afins – CONTAC
Conf. Nac. Trab. Ind. Da Construção e da Madeira – CONTICOM
Fed. Nac. dos Urbanitários – FNU
Fed. Nac. Trab. Processamento de Dados – FENADADOS
Fed. Interest. Trab. em Empresa de Telecomunicações – FITTEL
Fed. Nac. Trab. Emp. Correios e Telégrafos e Similares – FENTECT
Fed. Nac. Trab. Domésticos
Fed. Nac. Jornalistas
Conf. Nac. Trab. em Estabelecimentos de Ensino – CONTEE
Fed. Assoc. Sind. Servid. da Extensão Rural
Fed. Nac. dos Portuários
Sind. Nac. dos Trab. de Instituições de Pesq. e Desenv. Agropecuário
Fed. Interest. dos Odontologistas
Fed. Nac. dos Arquitetos
Fed. Interest. de sind. de Engenheiros
Fed. Nac. dos Médicos
Fed. Nac. dos Aeronautas
Fed. Nac. Trab. Ind. Gráficas
Sind. Nac. dos Aeroviários
Fed. Nac. Trab. em Anseio/Conservação e Limpeza Urbana
Sind. Nac. Trab. do Setor Mineral
Fed. Interest. Trab. em Radiofusão e Televisão
Fed. Nac. dos Farmacêuticos
Fed. Nac. dos Sociólogos
Fed. Nac. Serv. das Autarquias de Fiscalização Profissional
Fed. Nac. Trab. na Ind. Coureira do Brasil
Federação Nacional das Associações do Pessoal da CEF – FENAE
Sindicato Nacional dos Servdiroes do Plano Especial de Cargos do Departamento de Polícia Federal
APCEF/SP – Associação do Pessoal da Caixa Econômica Federal de São Paulo
E também militantes de organizações de aposentados, de movimentos em defesa de pessoas portadoras de necessidades especiais, do terceiro setor, economia solidária, da cultura e artistas.
Imprensa paulista preserva a fauna tucana
Adorava um grafite, feito de caneta vermelha e porosa, escrito nos banheiros da Folha de S.Paulo toda vida que o ouvidor da mesma entrava em merecido recesso: “Senhores jornalistas, podem cagar à vontade, o ombudsman está de férias”. Um clássico da história da imprensa da gloriosa Barão de Limeira, desde Caio Túlio Costa, o primeiro ombudsman dessa terra.
Aproveito a descarga barulhenta, de cordinha, das antigas, para fazer uma provocação rápida: a imprensa da paulicéia, que cobriu excepcionalmente bem os escândalos do PT, e deveria ter coberto melhor e mais apuradamente ainda, só revelou duas, três coisas que sabemos sobre o Geraldinho Alckmin: o caso da Nossa Caixa, o mensalinho paulista, graças a uma excelente reportagem isolada de Frederico Vasconcelos. E a fofoca, igualmente escandalosa, dos vestidos da primeira-dama. E, creio, ficamos só mesmo nessas duas coisas, nem nas três chegamos, uma vez que o noticiário do PCC dificilmente levava o rótulo do PSDB ou garrafais com nomes dos supostos responsáveis. Era difuso, até com alguma razão, pois a violência, desde Caim e Abel, é de difícil cobertura, como provam as versões imparciais da Bíblia, né?.
Reparem bem, para evitar mal-entendidos, principalmente nesta semana passionalíssima e final: não é que a imprensa tenha sido injusta com os petistas. Nada disso. É que ela não investigou os tucanos, deixou os tais a flanar e cantar de galos udenistas, foi uma cobertura em cima de uma nota só, como no samba de João Gilberto.
Lembro, só para citar a mesma gloriosa Folha, já que não é tradição do centenário Estadão mostrar os podres do poder ligado a São Paulo [não valem citar as campanhas fora de época contra Quércia e Maluf!], de como o mesmo jornal ia à fundo em coberturas passadas na vida de todos os candidatos. Não haviam inimputáveis. Se que bem que o Serra sempre foi meio intocável, mais por afinidades eletivas, ou fisiologia do gosto mesmo, do que por proteção de fato. Sobrava denúncia até para Francisco Rossi, na época prefeito de Osasco. Tinha para todos. Os daqui e os de fora. O matutino também não ficava apenas à reboque de denúnicias da PF ou de CPIs. Se Alckmin foi governo por três mandatos em São Paulo, merecia uma radiografia apuradíssima do que fez e do que não fez, não acham?
Recordar é viver: Collor ganhou a eleição, mas antes os leitores souberam, graças a uma bela matéria de Elvira Lobato, ainda durante a campanha, do acordo com os usineiros para financiá-lo. E era paulada para todo lado. Um gol de placa, jornalismo de verdade, independentemente de lambanças internas dos partidos, como agora o vergonhoso dossiê do PT ou conclusões de comissões parlamentares de investigações. Essas comissões, em tempos de eleições, não deixam de ser aparelhadas, aparelhadíssimas, vão saltando nomes para queimar gente qual a velha inquisição queimava bruxas!
Cada vez mais à reboque da Polícia Federal e das CPIs, faltou investigação da imprensa em SP nestas eleições. Uma rápida justiça seja feita: José Alberto Bombig, na Folha, andou a falar das 69 CPIs represadas contra o tucanismo e explicar o que se passava na área. Pena que nenhum pauteiro (os caras que além de acordar muito cedo e ganhar pouco têm que negociar com quem manda o que vai sair mesmo nos jornais) tenha conseguido emplacar a sequência de tal cobertura. As 69 CPIs são assunto proibido. Para completar, a Assembléia Legislativa é um antro sem importância, tudo ficou voltado para Brasília. Para cada 70 repórteres e duzentos blogueiros investigando um só candidato, havia meio foca no Palácio dos Bandeirantes, lugar onde também desempenhei, orgulhosamente, na chegada a SP, a vaga de meio-foca, nem meio, acho. Mas é do jogo. Nem é má vontade, só falta de jornalismo equilibrado, que mostre a podreira de todos os candidatos. Ou, o que também é lindo, que os donos de jornais mirem-se no exemplo americano, e declarem o voto em seus preferidos. Fica tudo mais honesto e não dão razão a neguinho ficar chiando, como torcedor reclamando do pênalti escandaloso do domingo!
Publicado por Xico Sá – 25/09/06 8:06 AM
E as revelações da Isto É?
Por: Carlos Lopes/HP
Para a oposição, denúncia dos Vedoin só vale contra o governo
Desde sexta-feira passada, e sobretudo após a história de uma suposta e fracassada compra de informações sobre as atividades ilícitas de alguns membros da oposição, uma certa espécie de mídia dedicou-se a encobrir o que realmente de novo apareceu no caso do esquema dos sanguessugas. São litros e litros de tinta e toneladas de papel, horas e horas de televisão, empregados numa única função: como impedir que as novas denúncias dos Vedoin sejam apuradas.
ABAFA – Naturalmente, tal tentativa está condenada a não prosperar. As revelações dos Vedoin na entrevista dada à “IstoÉ” não vão ser apagadas porque se escrevem litros de tinta para escondê-las, ou porque se tenta confundi-las com um suposto dossiê que nem apareceu. O que está na “IstoÉ” já é material suficiente que demanda apuração urgente.
Por outro lado, tal tentativa de abafamento parece mais própria a manicômios do que a órgãos de imprensa, pois desde que a Polícia Federal, convocada pelos ministros Humberto Costa e Saraiva Felipe, estourou o esquema dos sanguessugas, os seus organizadores, Darci e Luiz Antônio Vedoin, tinham se transformado nos oráculos da mídia e da oposição ao governo. Com base nas declarações e documentos apresentados por eles, foram acusados e estão sob processo de cassação 72 parlamentares e, segundo alguns, podem chegar a mais de 120.
Mas, pelo jeito, a oposição e essa mídia acham que isso somente vale quando o alvo são parlamentares da base governista. Quando é o seu próprio terreiro, aí trata-se de “armação”, de “baixaria”, ou seja lá que tergiversação diversionista se escolha. No entanto, não pode ser assim. Afinal, todos não são iguais perante a lei?
Realmente, a mídia oposicionista foi muito imprudente. Ela açulou o PSDB e o PFL para que formassem a CPI dos Sanguessugas, ela os impulsionou a tomaram de assalto essa CPI, ela dirigiu, com suas pautas diárias, os interrogatórios, ela fez com que os parlamentares oposicionistas levassem colegas ao pelourinho – e fez tudo isso promovendo os Vedoin de réus a acusadores.
Era uma imprudência porque, desde o início, era claro que o esquema existia desde 1998, ou seja, por coincidência, desde que o sr. José Serra assumiu o Ministério da Saúde. Sem dúvida que as revelações não ficariam nos parlamentares da atual base governista. No entanto, essa foi a ilusão, desde o início. Bastava os Vedoin falarem alguma coisa, que era tido por verdade inabalável. Qualquer menção deles a alguém, transformava-se imediatamente numa sentença à pena capital. O prêmio pela delação não era apenas escapar da cadeia: era a notoriedade ofuscante sob os refletores da mídia.
Pois bastou os Vedoin chegarem onde a mídia e a oposição não queriam, para ser um Deus nos acuda e tudo virar ao contrário. E isso, literalmente, de um dia para o outro. Aliás, algumas horas depois que a “IstoÉ” saiu às bancas com uma entrevista dos Vedoin, lá estavam os mesmos escribas, os mesmos locutores e os mesmos tucano-pefelistas que antes os incensavam como a fonte do “desmascaramento do maior esquema de corrupção da História da República” (sic) deblaterando contra a falta de credibilidade daqueles que eram os seus heróis na manhã daquele mesmo dia.
Mas o que não se quer investigar? O que disseram os Vedoin na “IstoÉ”? Vejamos alguns trechos:
Luiz Antônio – No melhor período, quando o Serra e depois o Barjas eram os ministros, a bancada do PSDB é que conseguia agir com maior rapidez. Com eles era muito mais fácil e muito rápido. Quando as emendas eram da bancada era coisa de um dia para o outro.
Darci – A confiança de pagamento naquela época era tão grande que nós chegamos a entregar cento e tantos carros somente com o empenho do Ministério da Saúde, antes de o dinheiro ser liberado. Isso acontecia no País inteiro. Sempre quando se tratava de parlamentares das bancadas ligadas ao governo.
ISTOÉ – Os srs. estiveram reunidos pessoalmente com o ex-ministro José Serra alguma vez?
Darci – No ano de 2001 estivemos com ele em dois eventos no Mato Grosso. Um na capital e outro em Sinop.
ISTOÉ – O ministro sabia que nos bastidores daqueles eventos havia um esquema de propinas?
Luiz Antônio – Era nítido a todos.
Darci – Posso te afirmar que as emendas quando eram destinadas para esses eventos saíam ainda mais rápido.
ISTOÉ – Quem é Abel Pereira?
Luiz Antônio – É um empresário de Piracicaba que operava dentro do Ministério da Saúde para nós. Era ele quem conduzia todo o processo e fazia sair todos os empenhos… Era um operador, uma pessoa indicada e muito ligada ao Barjas Negri, secretário executivo do Ministério quando José Serra era o ministro e seu sucessor.
Darci – O Barjas Negri é o braço direito do José Serra. Nosso esquema já funcionava no Ministério. Quando o Serra saiu, o Barjas assumiu o Ministério e foi indicado o Abel para continuar a operar.
ISTOÉ – O Abel, então, deu continuidade a um esquema que já existia?
Darci – Quando nós iniciamos a montagem, em 1998, já existia esquema dentro do Ministério da Saúde, com os parlamentares. Nós acertávamos com os parlamentares e o dinheiro saía. Naquela época era muito mais rápido para sair os empenhos e os pagamentos.
ISTOÉ – A que época o sr. se refere exatamente?
Darci – Entre 2000 e 2002. Quando o Serra era ministro foi o melhor período para nós.
As coisas saíam muito rápido.
Tudo isso é essencialmente corroborado pela documentação e pelos dados do próprio Ministério da Saúde. Por exemplo, das 891 ambulâncias que a empresa dos Vedoin entregou entre 2000 e 2004, 70% delas (681) foram até o final de 2002, ou seja, durante a gestão de Serra e de Barjas Negri.
Sobre os documentos referidos na reportagem da “IstoÉ” encontram-se “cópias de pelo menos 15 cheques emitidos pela Klass [outra empresa dos Vedoin]”, que foram entregues ao mencionado Abel Pereira, somando R$ 601,2 mil. “Um deles, o de número 850182, datado de 30 de dezembro de 2002, tem o valor de R$ 87,2 mil. No mesmo dia, há outros sete cheques, seis deles são de R$ 30 mil e recebem os números de 850183 a 850188. O cheque 850181, também de 30 de dezembro de 2002, tem o valor de R$ 45 mil”. Segundo Darci Vedoin, “depois que eles perderam a eleição, o Abel me procurou e passamos a fazer muitas liberações”. E, realmente, como observa a revista, em 2002 a empresa dos Vedoin vendeu mais ambulâncias, pagas com a verba do Ministério da Saúde, do que em qualquer outro ano: 317.
INVESTIGAÇÃO – Há também vários depósitos em conta de empresas, indicadas por Abel Pereira. Por exemplo, uma denominada Kanguru Factoring Sociedade de Fomento Comercial, com o CGC 003824340/0001-25, que fechou após a posse do presidente Lula. Outros foram feitos na conta de empresas como a Datamicro Informática, de Governador Valadares (MG) e a Império Representações Turísticas, de Ipatinga.
Já se sabe que Abel Pereira é hoje um emérito vencedor de licitações na Prefeitura de Piracicaba, cujo prefeito chama-se Barjas Negri.
Portanto, o que investigar, naquilo que os Vedoin já disseram, é o que não falta. Quando mais não seja para descobrir como a gestão ministerial daquela época não conseguiu perceber, em meio a tal enxurrada de ambulâncias, que elas eram superfaturadas. Diante de questões tão evidentes, não há barulho que possa impedir as investigações de continuar.
Dossiê revela que gestão tucana abandonou a saúde no Estado de São Paulo
Por: Viviane Barbosa e Luiz Carvalho
Na segunda parte do especial “SP Urgente”, o tema analisado é o quadro da saúde do Estado de São Paulo. Segundo dossiê divulgado pelo SINDSAÚDE (Sindicato dos Trabalhadores de Saúde do Estado de São Paulo), em maio de 2002, 18 unidades de atendimento, entre hospitais e postos de saúde já apresentavam estado de sucateamento, que incluía falta de pessoal e equipamentos, além de escassez de medicamentos. “A situação da saúde pública no Estado é reflexo do abandono das políticas públicas implementadas durante a gestão do PSDB nos últimos 12 anos à frente do Estado”, conta a presidente, Célia Regina Costa.
Segundo o Conselho Nacional de Saúde (CNS), em 2004 e 2005, o então governador, Geraldo Alckmin, não cumpriu a determinação da Emenda Constitucional 29/2000, que obriga o Estado a gastar 12% do orçamento em saúde. O governo estadual desvirtuou a utilização dos recursos da saúde, aplicando-os em outras áreas, fazendo vista grossa para os reais problemas enfrentados pelo sistema.
Segundo o CNS, o governo colocou, ilegalmente, o dinheiro no “Programa “Viva leite”, no atendimento em saúde dos policiais militares e pagou aposentadorias dos servidores da Secretaria de Saúde
No começo deste ano, o ex-governador enviou novamente proposta orçamentária que não respeita o limite constitucional de aplicação de verbas para a saúde.
INVERSÃO DE PAPÉIS – De acordo com o Sindsaúde, o modelo de saúde tucano é neoliberal, ou seja, que reduz o papel do Estado, que não investe na valorização dos funcionários e muito menos na melhoria da prestação de serviços do setor, que, além de um direito, é fundamental para a população. “O modelo tucano só tem priorizado hospitais que parecem oásis que não tem uma gestão participativa. O Sistema Único de Saúde (SUS) nunca existiu na prática, apesar de estar na lei. Essa proposta de mutirões, por exemplo de cataratas, são uma enganação porque se houvesse um atendimento constante, de qualidade, não haveria necessidade de mutirões”, diz Célia.
A sindicalista ainda frisa que se o governo do Estado contratasse, por meio de concurso público, mais profissionais, e investisse na sua valorização, o atendimento seria mais humanizado. “Hoje, o número de trabalhadores da rede estadual de saúde é igual ao da década de 70. Hoje, o funcionário é obrigado a produzir três vezes mais, ganha mal, e ainda por cima tem que atender uma demanda de pacientes que é bem superior. Como o atendimento pode ser humanizado desta forma?”, questiona.
Lula responsabiliza Berzoini por contratar envolvidos com dossiê
Reuters
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva responsabilizou nesta segunda-feira o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), pela contratação dos envolvidos na compra de um dossiê contra os tucanos.
Em entrevista às rádios Tupi Rio, Tupi São Paulo e Capital, na manhã desta segunda-feira, Lula chamou os petistas que participaram da operação de “bando de aloprados”, mas insistiu que é preciso investigar também o conteúdo do dossiê.
“A vida humana é assim. Você escolhe um companheiro para determinada função… quem escolheu (a equipe) foi o presidente do partido (Berzoini), que era o coordenador da campanha eleitoral”, disse Lula. A entrevista não estava agendada previamente.
O presidente reiterou que não se sente responsável pela escolha dos seus assessores de campanha. “Não admito que errei na escolha dos meus pares”, completou Lula.
“Eu quero saber não apenas de onde veio o dinheiro. Eu quero saber quem foi que mudou a engenharia política para essa barbárie que foi feita. Eu quero saber quem foi o engenheiro que arquitetou uma loucura dessas”, afirmou Lula.
“Eu quero saber quem é o engenheiro que arquitetou uma loucura destas. Porque se um bando de aloprados resolveu comprar um dossiê, é porque alguém vendeu para eles. E este dossiê deve ter coisas do arco da velha. Ou seja, eu não quero apenas saber do dossiê, eu quero saber do conteúdo que levou estas pessoas a cometerem a barbárie. Eu quero saber o conjunto da obra”, afirmou o presidente.
Segundo ele, o papel da Procuradoria Geral da União, do Ministério Público e da Polícia Federal é de esclarecer todos os fatos à opinião pública. O presidente acrescentou que no seu governo “não existe lixo debaixo do tapete”.
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