No Brasil, a implantação de “smart grid”, ainda em fase de regulamentação pelo governo, abre para as empresas de tecnologia um potencial de geração de negócios de pelo menos R$ 22,4 bilhões, segundo cálculo da consultoria Accenture, que estima um gasto de aproximadamente US$ 200 (R$ 344) por medidor eletrônico. Esse seria o valor necessário para substituir 65 milhões de medidores em uso hoje e para implantar sensores ao longo das redes de distribuição, conectados a um sistema integrado tráfego de dados e de energia. Essa substituição está prevista para ser feita no prazo de dez anos.
O gerente de utilities da Accenture no Brasil, Roberto Falco, observa que em países europeus, a medição eletrônica já foi adotada. Mas, nos Estados Unidos, a tecnologia está na fase de implantação dos medidores. “O Brasil está no início do processo, na fase de regulamentação. Tudo indica que o setor de TI será beneficiado no mundo todo pelas mudanças do setor elétrico”, opina Falco.
Distribuidoras precisarão aprender a lidar diretamente com o consumidor, como ocorreu na telefonia
No dia 9 de dezembro, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) realiza a consulta pública presencial nº 043/2010 para discutir com o setor privado as normas para implantação dos medidores inteligentes de energia. Segundo a área técnica da Aneel, após a consulta a norma técnica será finalizada e deve ser publicada até março. A partir daí, as empresas terão 18 meses para iniciar a substituição dos medidores – o prazo foi estipulado devido à produção ainda em pequena escala desses equipamentos no Brasil.
A troca dos medidores é uma parte da “smart grid”, prevista na Portaria nº 440/2010 do Ministério de Minas e Energia. O plano inclui a adoção de sistemas mais robustos para o monitoramento dos dados fornecidos pelos medidores – como consumo por horário e por tipo (eólica, hidrelétrica etc.). Esses sistemas serão capazes de informar, por exemplo, o custo do KW/h de cada casa em diferentes horários do dia. Isso será fundamental para que as empresas de energia possam trabalhar com tarifas diferenciadas ao longo do dia, estimulando o consumo fora dos momentos de pico de demanda, como ocorre no setor de telefonia. O projeto prevê ainda a instalação de sensores ao longo das redes de distribuição e nos transformadores, para identificar falhas e avisar à central para que ela determine a correção à distância.
O gerente de soluções de utility da IBM Brasil, Gadner Vieira, que participou de reuniões do grupo de trabalho criado pelo Ministério de Minas e Energia para discutir o tema, diz que com a “smart grid” o sistema de energia terá uma estrutura semelhante à existente hoje nos setores de telecomunicações e bancário. “As distribuidoras têm sistemas automatizados até as subestações e elas não são integradas”, afirma. O resultado é que a distribuidora não consegue identificar falhas que ocorrem entre a subestação, os transformadores e as residências ou empresas. “Hoje, ela [distribuidora] só sabe que ocorreu um problema porque as pessoas ligam no SAC [atendimento ao cliente] da empresa”, compara. Vieira estima que a “smart grid” no Brasil demandará investimento próximo a US$ 30 bilhões. Ele compara com o projeto dos Estados Unidos, que tem aporte previsto de US$ 90 bilhões para implantar 190 milhões de medidores.
Elucid, que presta serviço para 45% das concessionárias do país, estima investimentos no setor de até R$ 60 bilhões, afirma o presidente da companhia, Michael Wimert. Além de gerar negócios nas áreas de equipamentos eletroeletrônicos e software, a rede inteligente cria também um mercado potencial para as empresas de telecomunicações de tráfego de dados dos sensores com as centrais de energia. “As redes inteligentes vão abrir oportunidade para a oferta de serviços como banda larga, TV por assinatura e VoIP [voz sobre IP] em regiões onde as teles não têm interesse em investir e que são áreas de concessão das distribuidoras de energia”, afirma.
A americana Convergys, especializada em sistemas de faturamento (billing) e prestadora de serviços a operadoras de telefonia no Brasil, também vê potencial de negócios para as empresas que desenvolvem sistemas de relacionamento com o cliente (CRM). “Os sistemas de relacionamento com o cliente serão essenciais no processo de consolidação das redes inteligentes, para conscientizar os consumidores e incentivá-los a usar a energia em determinados horários a preços mais acessíveis”, afirma Thereza Giovannini, gerente de marketing da Convergys.
O chefe do departamento de gestão tecnológica do sistema Eletrobrás, Luís Frade, diz que boa parte das tecnologias que o setor demandará ainda terá de ser desenvolvida: “Existem medidores, software e telefonia, mas ainda falta muita coisa.” Hoje, existem 5 mil projetos de pesquisa e inovação sobre energia no país, dos quais cerca de 5% voltados para “smart grid”, segundo a Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei). Até 2012, haverá 7 mil pesquisas em andamento, sendo ao menos 10% sobre as redes inteligentes.
Fonte: publicado no jornal Valor Econômico por Cibelle Bouças (colaborou Moacir Drska)
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