Em entrevista à InformationWeek Brasil, presidente do Sindpd fala sobre possível “apagão de TI”, caso as reivindicações não forem acatadas.
Carros de som circulam pela região da Avenida Berrini, em São Paulo, chamando trabalhadores da indústria de tecnologia da informação para reivindicarem melhores salários e condições de trabalho.
A região abriga um grande número de empresas do setor. A manifestação parte do Sindpd, entidade dos trabalhadores desta indústria no Estado paulista, que briga contra o sindicato patronal para conquistar questões como um reajuste de 11,9% de aumento salarial linear, plano de participação em lucros e resultados (PLR), auxílio-refeição de R$ 15 por dia e ampliação de pisos.
Em contrapartida, o sindicato patronal oferece 6,47% de reajuste, que seria apenas a reposição da inflação que foi de 5,9 % em 2010. O Sindpd alerta: sem acordo, haverá apagão de TI no Brasil. InformationWeek Brasil conversou com o presidente do sindicato, Antonio Neto, para entender a situação.
InformationWeek Brasil – Qual é a reivindicação?
Antonio Neto – Janeiro é o mês da convenção coletiva de trabalho. É quando ajustamos com sindicato patronal as regras para o ano. Uma espécie de CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) do setor. Houve um impasse na negociação. Durante o processo, o patronato chegou a um índice de reajuste salarial que a categoria acha insuficiente. A proposta deles apenas repõe a inflação do ano passado medida pelo INPC. Esperávamos a negociação com aumento real. O setor de TI teve um crescimento médio em torno de 12 a 14%, no ano passado. A perspectiva para este ano esta na faixa de crescimento entre 10% a 20%. Eles oferecem a inflação e não consideramos a proposta adequada, pois, se pensarmos, 70% do preço de produtos e serviços de TI é baseado no salário das pessoas. Discutimos e debatemos um índice melhor, na casa dos 10% ou 12% de reajuste. Além da questão da remuneração, há uma pauta enorme que precisa entrar na discussão. Parece que o patronato não consegue alcançar os patamares. Sem acordo vai para um tribunal.
IWB – Engrossou de vez?
Neto – Estamos tentando negociar. Houve assembleia na quinta-feira [dia 17 de fevereiro], com manifestação que reuniu quase 500 pessoas, dando recado que queriam um acordo que contemplasse esses interesses. Sem o acordo, protocola-se um dissídio coletivo, indo a tribunal para julgamento das cláusulas que estão em jogo. Isso normalmente tem um processo a seguir. Em 20 anos de relação entre os dois sindicatos foi-se apenas duas vezes ao tribunal. Não é uma coisa tão comum.
IWB – Mas por que está tão complicado chegar a um acordo?
Neto – Eles alegam que a redução da jornada de trabalho, convencionada no ano passado, que reduziu de 44 para 40 horas semanais, teria um impacto nas operações. Não adianta cobrar uma fatura de algo que está pago. É uma coisa do ano passado, quando aceitamos só 6% de aumento. O setor tem condições de pagar o que pedimos, é ascendente, lucrativo. Eles discutem que os encargos trabalhistas é muito alto. As coisas caminham para um impasse.
IWB – Que apagão é esse que vocês anunciam e o que isto representa?
Neto – A ideia do apagão é se o caso continuar no impasse for para julgamento ou como uma expressão de indignação dos profissionais. São os trabalhadores parando. Há um sentimento dentro das empresas, mesmo nas que anunciam lucro de milhões, de que existe dificuldade de reconhecer os funcionários. Isso significa que provavelmente tenhamos uma greve no setor [a última foi em 1988]. Chega-se a um momento que, ao que parece, quanto mais o mercado se concentra, mais difícil fica para os patrões concederem coisas aos trabalhadores.
IWB – A quem esta paralisação afetaria?
Neto – Apagão provocado pela paralisação dos profissionais nas empresas provedoras de serviços de tecnologia da informação. Essas prestadoras estão nos clientes. Mas isso seria a última coisa que faríamos. Conhecemos nossas responsabilidades.
IWB – Quantos filiados têm o sindicato?
Neto – Cerca de 42 mil filiados, mas representamos 80 mil funcionários no Estado de São Paulo. Calculamos, ainda, que há 40 mil ou 50 mil contratados como pessoa jurídica ou com contratos ilegais que não entram nessa base.
IWB – E qual a estimativa de adesão a uma greve?
Neto – Há uma legislação que rege o direito de greve. Não tenho ideia de adesão. Pelas panfletagens que temos feito, há um clamor grande dos trabalhadores de que sejam reconhecidos seus direitos.
IWB – Como nas manifestações no Egito, vocês usarão a tecnologia para se manifestar, redes sociais etc.?
Neto – Temos feito isso. Comunicamos com associados via e-mail. Na nossa página há matérias com vários tipos de comentários. Estamos trabalhando com todas as ferramentas necessárias. Vamos avançar nesse processo.
Fonte: por Felipe Dreher | InformationWeek Brasil
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