São Paulo, 24 de Maio de 2011
Fonte: TI Inside
Nunca foi tão complicado preencher vagas, mesmo de segundo ou terceiro escalão, sem falar de direção, no mercado de TIC. O crescimento da economia nacional – com os mais de 7% de aumento do PIB em 2010 – que se reflete no mercado de tecnologia com a profusão de novos projetos e a evolução de plataformas como a de mobilidade e cloud computing, entre outras razões, não é acompanhada pelos cursos universitários e profissionalizantes ou mesmo pela atividade dos trabalhadores.
Fatores que se aceleraram ainda mais no ano passado. “A demanda por projetos foi explosiva e esquentou a busca por profissionais. Cada vez mais o perfil exigido é o de quem entende dos negócios da empresa ou traga uma nova visão. Outro ponto é que tenha atribuições de um consultor”, garante Carolina Verdelho, diretora da Fesa, empresa de recrutamento e seleção de executivos. A consultoria, ela revela, registrou um aumento de 110% no recrutamento de altos executivos em 2010 comparado com o ano anterior, e a previsão para este ano não é de números modestos.
Carolina aponta ainda que fatores externos, como a ideia corrente de que os países emergentes são a “bola da vez” da economia mundial também contribuem neste sentido. Muitos fabricantes, fornecedores de tecnologia, canais e provedores, não por acaso, criam novas definições geográficas com cargos específicos, como aconteceu com a criação da divisão de “emerging markets” da IBM, que mesmo localizada fisicamente na China tem um bom contingente de executivos “brazucas”.
O aquecimento do mercado não afeta apenas o topo da pirâmide dos empregos de TI. “Até mesmo para estudantes aparecem oportunidades bem interessantes e melhor remuneradas. Para quem tem um bom nível e experiência, como aqueles que possuem competências técnicas e vivência como gestor, a procura é grande. Ter fundamentos e conseguir atribuir significados às propostas dos gestores corporativos em TIC garante boas posições no mercado”, aponta Janete Dias, que entre as suas muitas atividades é coordenadora da área de gestão de carreiras da FIAP e da Faculdade Módulo e sócia-proprietária da consultoria Global Coaching.
Sobrou pro RH
Essa ebulição pode ser comprovada até mesmo quando se descobre que a figura do profissional de RH na área de TIC, que tenha experiência neste mercado, é uma “avis rara” com oportunidades amplas. Um reflexo direto da onda de investimentos em pessoas ou colaboradores, como se fala no RH, no setor como um todo.
Outras funções, como a de gerente de data center – entre provedores de tecnologia e em qualquer vertical da economia – e de profissionais de maior caráter consultivo também estão entre as mais procuradas. Assim como especialistas em web e mobilidade, gestores de projetos, BI – pela grave falta de pessoas capacitadas – ou no mais que emergente mercado de Cloud, também ganham muito espaço (veja mais no Box Perfil do “clouder”).
“Já há algum tempo se fala em oportunidades para especialistas em Cloud, mas agora é que surgem cases em maior número, e é possível dizer que não é um modismo, o que se reflete na busca por profissionais que conheçam ou tenham experiência na plataforma”, admite Júlio Graziano Pontes, gerente de serviços da True Access Consulting e certificado como CSA (Cloud Security Alliance). Para o especialista em segurança na “nuvem”, as vagas começam a surgir tanto nos provedores como nas corporações, interessadas em criar nuvens privadas.
Janete, da FIAP, concorda com o início de uma maior procura por especialistas em Cloud, principalmente oriundos de áreas como segurança, gestão de redes e mesmo no desenvolvimento de aplicações voltadas para a “nuvem”, porém faz uma ressalva. “Essa especialização ou migração exige investimento, tanto por parte das empresas como do profissional. Muitas corporações estão na construção de áreas de gestão de projetos, e Cloud tem ligação estreita com essa prioridade”, garante.
Outra vertente levantada por Janete, como uma tendência de futuro em TI, é a da busca por profissionais que associem a tecnologia da informação com a necessidade dos eventos macros que o Brasil sediará, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, seja em práticas como gerenciamento de redes, integração ou mesmo em entender o business do esporte e suas possíveis conexões com o mundo de TIC. “É ainda mais evidente a formação técnica aliada aos aspectos de negócios atualmente, ao informar também quem entende dos mercados de energia, como óleo e gás, terá ainda mais oportunidades”, enumera Janete.
E o salário, companheiro?
Neste início de ano, algumas questões passam a ser discutidas no segmento, como a falta de acordo entre patrões e empregados no setor de TI em relação aos salários. Enquanto os trabalhadores, representados pela Sindpd (Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados e Tecnologia da Informação), desejam 13,41% de aumento, a entidade patronal acena com apenas 6%.
Esse verdadeiro abismo é um reflexo da valorização do profissional, do avanço da economia como um todo e da desempenho das corporações do setor, mas também das práticas, digamos assim, heterogêneas do mercado. “As empresas do setor são bem criativas para bolar estratégias de remuneração, bônus e contratação. A regulamentação do setor é deficiente, e não existe um salário definido para os mais variados cargos em TI, com diferentes nomenclaturas para a mesma função”, diz Janete, da FIAP. Sem contar as diferenças de remuneração entre provedores de serviço e corporações em geral, com vantagem para os primeiros, claro.
Com um cenário assim, o que se vê são diferentes médias salariais e o uso indiscriminado – embora já com filtros de ações do Governo – do recurso das notas fiscais fazendo do trabalhador uma pessoa jurídica. Para melhorar ou piorar, está em tramitação uma lei que prega a redução da jornada de trabalho no setor, o que pode azedar de vez a relação entre patrões e empregados.
Ironicamente, a especialista da Fiap aponta que não apenas o salário que move os profissionais do setor. A posição deve trazer um desafio e uma oportunidade de crescimento profissional, mais até que a remuneração. “E quem está começando é ainda mais exigente neste sentido, ele não quer se frustrar”, argumenta a professora e consultora.
O ovo ou a galinha?
Colocando esses problemas de lado, voltamos a questão inicial: como resolver o gargalo da falta de gente capacitada em TIC. O caminho mais lógico e óbvio, embora não de curto prazo, é que os Governos investissem na criação de novos cursos, vagas e mesmo no incentivo aos estudantes.
No entanto, setores do Governo começam a articular opções polêmicas para a resolução, no médio prazo, do problema, por meio da abertura ou estímulo a entrada de trabalhadores estrangeiros em nosso mercado, desde que em setores carentes e previamente mapeados por uma pesquisa que seria encomendada. Mas será que os critérios e mesmo a radiografia serão produtivos ou paliativos que acabarão criando uma nova classe de trabalhadores em TI?
“Acho que temos problemas graves de infraestrutura no setor, como a universalização da banda larga, por exemplo, que deveriam ser sanados antes de tudo. Mas por quê não priorizar o investimento em capacitação antes do próprio censo? Sabemos que esse mapeamento vai demorar, e vai todo mundo ficar esperando?”, reage indignada Carolina, da Fesa. Ela não descarta a possibilidade do censo, porém deseja que, no mínimo, as coisas sejam feitas em paralelo com o investimento em novas vagas.
Mas será que é preciso mapear para saber o quão grave é essa questão? “Chegamos a ter 700 ou 800 vagas sendo divulgadas na Fiap ao mesmo tempo, e muitas demoram semanas para ser ocupadas”, adianta Janete. Ela até admite a importância do censo, para ter algo mais estruturado em um cenário grave, porém também é favorável ao estímulo de abertura de cursos.
E quanto a entrada de estrangeiros? Para Carolina, da Fesa, já existe essa corrente migratória mesmo sem apoio formal do Governo. “Essa rota já está inflacionando os salários. Fazemos a busca de contratação de executivos para o Brasil no exterior e as empresas sabem que terão que oferecer salários altos. O imposto aqui é “salgado” e a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) é complexa”, garante. Não é raro que entre as vantagens ou bônus as viagens ou a entrada em hotéis sejam diferenciais.
Portas abertas
No entanto, sem filtros claros se torna algo prejudicial para o florescimento de novos profissionais ou mesmo para a sua ascensão a chegada dos estrangeiros. O que se vê hoje é que aqueles que chegam para ocupar cargos respondem na maioria à falta de mão de obra local em número ou qualidade suficientes. “Acredito que é preferível investir e incentivar a formação e informação para que mais pessoas ingressem na área de TI. Abrir o mercado é algo que exige seriedade, equilíbrio e muita reflexão”, alerta Janete.
Para quem quer se recolocar no mercado as opções crescem na mesma proporção que a demanda por profissionais. A presença de consultorias de RH no Brasil, voltadas ou não para TI, tanto locais como estrangeiras, tem se acentuado assim como o uso das redes sociais como instrumento de captação de talentos. Desde a oferta de vagas até a pesquisa por quem atenda aos pré-requisitos do cargo.
Entre as redes, as mais utilizadas são o Linkedin, que possui perfil executivo, e que permite a visão de um curriculum com boa extensão; o Plaxo, com perfil quase igual; e ainda o Twitter e até mesmo o Facebook, de caráter mais abrangente e genérico, porém com rápida circulação de informações. Enfim, as oportunidades e a possibilidade de as encontrar aumentou de forma significativa.
Claudio Ferreira
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