Fonte: Julia Zillig
O Brasil está vivendo um problema crônico de falta de mão de obra qualificada em diversos setores, incluindo a área de Tecnologia da Informação. Os problemas que envolvem esse cenário específico de TI são inúmeros e incluem falta de regulamentação profissional, uma grande variação de salários dependendo do porte da empresa, demanda em alta de produtos e serviços e necessidade de conhecimentos específicos.
Apesar dessa lacuna, a movimentação de profissionais nas empresas é intensa. “O mercado está altamente aquecido. No sindicato, fazemos mais de cem homologações por dia, sendo que 90% delas têm a ver com a recolocação do profissional em outras companhias”, explica JoãoAntonio Nunes, vice-presidente do Sindpd (Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados e Empregados de Empresas de Processamentos de Dados do Estado de São Paulo).
Segundo ele, a procura das empresas por profissionais nas funções de analistas, desenvolvedores e gerentes de projetos se concentra nos que têm algum tipo de especialização, como em SAP e ERP, entre outras. Alexandre Mafra, diretor de relações humanas da TOTVS, reforça a opinião de Nunes. “Quanto maior a demanda de produtos e soluções, maior a necessidade de buscar esses especialistas”.
A solução encontrada pela empresa foi buscar pessoas ainda com pouca experiência e conhecimento para formá-las “dentro de casa”. Para se ter uma idéia, o Projeto Futuro Programado, encabeçado pela TOTVS e que capacita jovens para atuar como analistas de desenvolvimento e implantação, já tem mais de 7.500 pessoas cadastradas para ocupar 500 vagas. Ao final de um processo seletivo de seis fases, os aprovados vão ser alocados nas franquias da companhia espalhadas pelo Brasil.
No entanto, oferecer bons salários não prende esses profissionais a uma empresa, o que vem gerando uma dança das cadeiras intensa em suas equipes de TI. A saída encontrada é desenvolver iniciativas de capacitação profissional, como a desenvolvida pela TOTVS. Entretanto, eles acabam seduzidos por oportunidades melhores. “As corporações têm feito grandes esforços no sentido de reter esse tipo de profissional. Mas ele não se prende a altos salários, quer algo mais como desafios, perspectiva de carreira e benefícios como o PLR”, afirma Nunes, enfatizando que o sindicato está tentando incluir esse tipo de adicional no acordo salarial da categoria. A previdência privada, aos poucos, também vem sendo oferecido pelas organizações.
Os salários dos profissionais de TI sofrem grande variação. Dependendo do porte, pode partir de R$ 2 mil, no caso de um analista júnior, e pode chegar a R$ 12 mil, de uma analista sênior em uma grande corporação. Na visão de Nunes, a tão sonhada regulamentação poderia balizar esses valores, tirando essa distância tão grande entre eles em termos de valores. No ano passado, o Sindpd encaminhou ao governo uma cópia do projeto de lei número 607/07, cujo autor é o senador Expedito Junior (PR-RO), que regulamenta a profissão de analista de sistemas. “Nossa expectativa é de que tenhamos o apoio do governo nesse sentido”, afirma.
No mercado de TI, é muito comum encontrar profissionais trabalhando sem registro, que atuam como prestadores de serviços. De acordo com Nunes, isso já foi mais forte nos anos anteriores, por conta do alto custo de mão de obra embutida nos produtos e serviços oferecidos pelas empresas da área. Segundo o vice-presidente do Sindpd, esse impacto pode chegar até 70%. “A carga tributária também onera significativamente a folha de pagamentos. Há algum tempo estamos engajados em desonerá-la, pois isso pesa muito para o setor.”
Para o sindcalista, isso traria mais competitividade às empresas nacionais e as condições de salário seriam melhores. Uma das conquistas nesse sentido foi a redução da contribuição das desenvolvedoras de software na forma de contribuição do INSS, cujo encargo caiu de 20% para 2,5%, de acordo com JoãoAntonio Nunes. “Isso vai ajudar a melhorar as condições dos trabalhadores, trazê-los de volta para a CLT e dar competitividade para as empresas aumentarem a quantidade de postos de trabalho.”
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