As empresas de tecnologia da informação (TI) no primeiro ano da entrada em vigor do decreto (número 7.828 de 2012) que desonerou as folhas de salários desse setor, já colhem os frutos do benefício. O principal impacto foi a formalização. Segundo Luiz Carlos Manni, diretor de estratégia e marketing da empresa de recrutamento e terceirização Talent Group, as mudanças ocorridas nesse segmento podem mostrar a tendência do mercado, em geral, com o decreto.
"Para aquelas empresas cujo custo com a folha de pagamento era igual ou superior a 10%, isto é, que detém um grande volume de funcionários – o que acontece na maioria das empresas de TI – a desoneração está sendo muito positiva. Agora, aquelas companhias que não possuem uma folha extensa, foram impactadas de forma negativa, mas isso ocorre com poucas empresas de TI", avalia o especialista, ao se referir ao fato de que para compensar a perda de receita com desoneração da folha, as empresas teriam que recolher 2% do faturamento para o governo.
Apesar de não ter dados concretos, Manni afirma que há indícios de que esse decreto está ajudando as empresas de TI na formalização de seus funcionários. "Percebemos dois movimentos. O primeiro deles é que as empresas estão preferindo contratar formalmente, pela Consolidação das Leis do Trabalho [CLT]. Antes, o setor atuava com profissionais PJ [Pessoa Jurídica]. O segundo movimento é que os próprios funcionários de TI estão buscando vagas como CLT. Anteriormente, era até comum esse pessoal preferir vagas como PJ, já que o ganho líquido era maior a curto prazo do que um CLT. Hoje está diferente", esclarece.
Em dados preliminares que devem ser divulgados pela recrutadora nesta semana, de 542 entrevistados das áreas de Recursos Humanos e gestão de TI, 78% afirmaram que gostariam de participar de eventos que esclarecessem as regras de CLT e PJ.
Além disso, Manni afirmou que a Talent, que em 2011 contava com três clientes ligados à tecnologia de informação, em 2012, esse montante subiu para sete. "Não posso afirmar que o decreto causou isso, mas há indícios de que a desoneração, junto com o crescimento da economia -, já que TI não é afetado pela crise internacional -, resultaram no avanço do setor", disse.
Com relação à própria Talent, o diretor da empresa, que, desde 2008, só contrata funcionários por meio de CLT em regime integral, observou que de 2011 para 2012, isto é, quando houve a desoneração também para call center, calçados, artefatos de couro e confecções, houve uma queda de 10% dos custos sobre o faturamento.
"Com isso, optamos por repassar essa redução aos nossos clientes, que até se assustaram com essa estratégia. É comum ter um reajuste [na cobrança dos serviços] para cima, mas ao longo do primeiro trimestre de 2012, cobramos menos. Nós tivemos, inclusive, que conversar com nove clientes para explicar porque estávamos fazendo essa redução. Mas foi uma estratégia positiva para a consolidação dos nossos clientes [102 no total]", informa Manni, acrescentando que seus concorrentes estão utilizando a mesma estratégia.
O diretor da Talent afirma ainda que com a decisão de só recrutar profissionais com base na CLT, a empresa contratou 403 empregados em 2012, sendo 317 para atuarem em empresas clientes e 86 como terceiros.
Segundo Manni, esse número é 45% superior ao de 2011.
"Acredito que essa situação, cujo decreto colaborou para criar, pode servir como um exemplo de tendência para os demais setores beneficiados. Tudo vai depender se, de fato, a maioria das empresas de um segmento possui um volume grande na folha de pagamento. Além disso, o aumento da procura de profissionais por vagas formais acontece se esse setor apresenta um salário médio muito acima do mercado em geral [salário mínimo] – comum em TI", entende o especialista.
Mais beneficiados
Ao longo do ano passado, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou a desoneração da folha de 40 setores, no total. Todos os anúncios já estão em vigor, sendo que em 25, o benefício começou neste ano.
Os setores contemplados deixaram de pagar a contribuição de 20% ao INSS e arcam com um percentual sobre o faturamento, como forma de compensação, que, no caso de TI, por exemplo, é de 2%. De acordo com o ministro, os empresários beneficiados mantiveram diálogo com o governo e optaram por fazer a troca. "São setores de mão de obra intensiva, cuja folha de pagamento tem um peso maior no custo da empresa", disse. Ele chegou a comentar no ano passado também que estaria aberta para que mais setores pudessem comprovar que precisam desse benefício.
O governo estima uma renúncia de fiscal da ordem de R$ 12,83 bilhões neste ano. Nos próximos quatro anos, período que ainda devem valer a maioria das desonerações, a perda estimada de arrecadação é de aproximadamente R$ 60 bilhões.
Fonte: DCI
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