As mulheres são as que mais conseguem um diploma de ensino superior no país, mas cada vez menos concluem graduação nas áreas das ciências exatas. A participação delas como concluintes entre os cursos CTEM (relacionados à ciência, tecnologia, engenharia e matemática) já era baixa e ainda teve ligeiro recuo em uma década, passando de 23,2% em 2012 para 22% em 2022.
É o que apontam os dados da terceira edição das Estatísticas de Gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil, do IBGE, que desde 2018 traz informações para análise das condições de vida das mulheres no país.
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Dentre todas as áreas de formação investigadas pela pesquisa, a que registra menor presença feminina é a de ciência da computação e Tecnologia da Informação (TI).
O número de mulheres concluintes destes cursos não é só baixo como caiu: passou de 17,5% em 2012 para 15% em 2022. As informações têm como base o Censo da Educação Superior de 2022.
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Baixa participação nos cursos de TI e computação
À exceção da conclusão da graduação em ciências físicas – cujo percentual entre concluintes subiu de 48% em 2012 para 50,6% em 2022, não houve avanço na participação das mulheres em cursos ligados às ciências exatas nos últimos dez anos.
As mulheres até chegaram a aumentar sua representação entre os concluintes do curso de TI e computação entre 2012 e 2013, com percentuais de 17,4% e 16,4%, respectivamente. Mas sua participação foi se tornando menor ao longo da década.
Desde 2013 elas não chegam a representar 15% do total de concluintes dos cursos de TI. Esse percentual chegou a ser ainda menor entre 2018 e 2020, quando oscilou em torno de 14%.
Maior presença de mulheres na área de bem-estar, saúde e veterinária
Por outro lado, a área de bem-estar (que inclui cursos como serviço social), historicamente costuma absorver a maior parte dos estudantes do sexo feminino. A participação feminina entre os concluintes ficou em 91% em 2022, embora já tenha atingido recorde de 93% em 2013.
Elas também são maioria entre os concluintes do curso de serviços pessoais, com representação de 83,8% entre os que concluíram graduação nesta área em 2022. Nos curso de Saúde (exceto Medicina) e Veterinária, elas chegam a 75,9% e 71,4% dos concluintes, respectivamente.
Ao jornal O Globo, Leonardo Athias, pesquisador do IBGE, explica que a maior inserção profissional das mulheres em cursos de bem-estar guarda relação com as expectativas que se tem em torno do papel da mulher na sociedade:
“Tem a ver com estrutura (social). As mulheres são responsáveis pelos cuidados, serviços domésticos e participam menos do mercado de trabalho. É socialmente esperado que elas participem de cursos relacionadas a educação, serviço social. E isso é uma coisa que acontece no mundo todo”.
Ele lembra que o panorama é o mesmo em países membros da OCDE. As mulheres chegam a representar, em média, 33% das licenciadas em ciência, tecnologia, engenharia e matemática (CTEM), setor que é tradicionalmente dominado pelos homens, enquanto 77% delas estão nas áreas da saúde e no bem-estar.
Já Isabela Duarte, economista e pesquisadora do FGV Ibre, avalia que o fato das mulheres optarem em sua maioria por profissões relacionadas à “extensão do cuidar” (como no setor da saúde e serviços sociais) tem a ver com construção social, não com falta de habilidade ou aptidão.
“Desde nova elas próprias já se subestimam na hora do estudo das exatas porque ao longo do tempo construiu-se a ideia de que elas são melhores em outras áreas. Não por acaso as mulheres acabam sendo maioria em trabalhos de serviços. Muitas vezes elas estão como professoras ou enfermeiras, e esses trabalhos pagam menos. Já nos trabalhos mais relacionados à ciência e tecnologia, só 30% são ocupados por mulheres”, declarou ao O Globo.
(Fonte: O Globo)
(Foto: Reprodução/Freepik/buddhikasunfreep)