Neste sábado (29), o Sindpd-SP (Sindicato dos Trabalhadores em Tecnologia da Informação de São Paulo) encerrou a Maratona 8 de Março com o aguardado Techday, evento que reuniu convidadas especiais e trabalhadoras do setor para debater os desafios das mulheres no setor.
A abertura do evento foi feita por duas mulheres em postos de liderança no Sindpd: a advogada e coordenadora jurídica Augusta Raeffray, e a diretora executiva Priscila Sena Mansonetto, que coordenou a Maratona 8M. Ambas ressaltaram a relevância da iniciativa para a construção de um ambiente mais inclusivo e igualitário no mercado de TI, destacando o compromisso do sindicato com a valorização e o empoderamento das mulheres no setor.

Mansonetto destacou que esse compromisso começa dentro do próprio sindicato, com 42% dos postos da diretoria sendo ocupados por mulheres. “Infelizmente ainda não vemos o mesmo no setor que representamos, que ainda tem a predominância masculinas. Já avançamos muito, mas ainda temos muito para fazer, e foi com essa consciência que promovemos a maratona e hoje, com muito orgulho, reunimos tantas mulheres que trabalharam e trabalham para transformar a TI”, disse.
O presidente do Sindpd-SP, Antonio Neto, também esteve presente, reforçando o compromisso do sindicato com a valorização das mulheres no setor de tecnologia e a constante busca por condições melhores de trabalho e representatividade. Como exemplo disso, ele lembrou que a Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) do Sindpd menciona a questão da igualdade salarial entre homens e mulheres desde 2002.

A empresária Luiza Trajano, presidente do conselho de administração do Magazine Luiza e do grupo Mulheres do Brasil, fez questão de enviar uma mensagem em vídeo para as participantes. Em sua fala, Trajano fez menção ao lema da Maratona 8M: “mulher, ter lugar é na TI” e completou: “é na TI e onde ela quiser”.

Painel 1: “Como o setor de TI pode ser mais inclusivo?”, com Claudia Forgas, Cynthia Zanoni e Rita Hayashi.
O primeiro painel do Techday debateu como tornar o setor mais inclusivo. Com a mediação da psicanalista e pedagoga Maria Auxiliadora Camargo, que ministrou palestras durante toda a Maratona 8M, o debate contou com a presença de Claudia Forgas, Cynthia Zanoni e Rita Hayashi.
Claudia Forgas, head de Marketing da T-Systems do Brasil, trouxe sua experiência de mais de 30 anos no setor de TI, no qual ingressou por acaso, buscando crescer e se destacar na primeira empresa onde trabalhou. Ela contou que, com 16 anos, começou a trabalhar como secretária e pediu ao chefe para acompanhar as reuniões de diretoria.
Apesar de não entender como ela poderia ajudar numa reunião de alto escalão, o chefe permitiu sua presença. Naquela época, apresentações de Powerpoint eram novidade e Claudia teve a ideia de preparar apresentações para o chefe, que se destacavam dentre as demais. “Aos poucos todos na empresas passaram a me conhecer como a menina do Powerpoint e passei a ser reconhecida por causa disso”, contou.
Hoje, com 22 anos de experiência em liderança em áreas de marketing e comunicação em empresas globais, ela destaca como a iniciativa e a vontade de aprender e se destacar são ferramentas poderosas para todas aquelas que desejam abrir portas.

Cynthia Zanoni, desenvolvedora e consultora de nuvem na Microsoft, trouxe um olhar voltado para o desenvolvimento de carreiras na tecnologia. Líder do Comitê de Equidade de Gênero e Mulheres na Tecnologia da LATAM na Microsoft, Cynthia compartilhou como a inclusão foi justamente o que a motivou a fundar a WoMakersCode, uma iniciativa que apoia o empoderamento e a empregabilidade de mulheres na tecnologia. Conforme explicou, a área de tecnologia ainda é elitista e de difícil acesso a todos, uma vez que demanda equipamentos e acesso à internet de qualidade, o que ainda é uma dificuldade em muitos locais no país.
Rita Hayashi, diretora de Recursos Humanos da Marketdata, com mais de 20 anos de experiência na área de RH e com uma bagagem de grandes empresas como Coca-Cola Femsa e Editora Abril, compartilhou sua visão sobre como a diversidade no setor de TI não deve se limitar apenas à inclusão de mulheres, mas também de outras minorias.
Mãe de um filho autista, Rita falou sobre a importância de se pensar a inclusão de maneira ampla, considerando, por exemplo, diferentes tipos de neurodiversidade e as necessidades de cada um no ambiente corporativo, uma vez que todas as pessoas têm condições de se destacar uma vez que lhe são dadas um ambiente favorável e acolhedor.

Painel 2: “Mulheres na Liderança”, com Ione Coco (MCIO), Carolina Duca (TV Globo) e Lilian Natal (RME)
O segundo painel foi mediado por Priscila Sena Mansonetto, a primeira mulher a ser diretora executiva no Sindpd. O tema em foco foi “Mulheres na Liderança”, e contou com três profissionais que chegaram em postos de alto escalão, mas não sem enfrentar grandes desafios, muitos deles vindos do fato de simplesmente serem mulheres.
Formada em Física, Ione Coco, fundadora da MCIO, contou que o preconceito por ser uma mulher no setor de tecnologia começou ainda na faculdade na década de 1970, quando um professor viu que ela havia tirado 10 em uma prova de eletrônica e a perguntou: “a senhora está aqui tirando 10 em eletrônica para depois usar o diploma para lavar roupa?”. Como uma das mulheres pioneiras do setor no Brasil, barreiras do tipo, por ela estar “fora do lugar”, continuaram a surgir ao longo de sua carreira.
Ela, no entanto, usava as diversidades como combustível para seguir em frente e provar a todos de que era capaz, até que com o passar do tempo encontrou gestores que a apoiaram e valorizaram a sua capacidade. Essa experiência a motivou a criar com outras mulheres do setor a organização não governamental MCIO Brasil (Mulheres CIO do Brasil), dedicada a promover o protagonismo feminino na tecnologia.

Quando ingressou na faculdade de Engenharia, Carolina Duca ouviu de um colega de classe que era bonita e logo largaria o curso, pois arranjaria um marido. No segundo ano, ele havia abandonado o curso, enquanto ela se formou dentro do tempo normal de 5 anos. Hoje gerente sênior de Telecom e Hub de Atendimento de Tecnologia da TV Globo, ela ressaltou que sua ascensão profissional se deu em boa parte por deixar claro a seus dentro da empresa de que tinha interesse em assumir posições de liderança quando surgia a oportunidade. Duca recomendou que as mulheres se posicionem e tomem a palavra sempre que puderem, mesmo que possam não se sentir preparadas para isso.
Lilian Natal compartilhou que sua inspiração para ascender profissionalmente veio de sua mãe, que sempre lhe dizia para ela jamais depender de um homem financeiramente. Porém, na sua época, ainda era normal que as meninas fossem criadas ajudando nas tarefas de casa, enquanto os meninos podiam se dedicar exclusivamente aos estudos. “Desde muito cedo tive a noção de que eu precisaria estudar o dobro do meu irmão se quisesse ter as mesmas oportunidades”, afirmou.
Após um longo caminho de barreiras e sacrifícios, Lilian disse que o seu trabalho só teria sentido se ela ajudasse outras mulheres a ascenderem também e a fazer mudanças estruturais no mercado para que sua filha, quando crescer, não tenha que enfrentar os mesmos desafios. Head de Marketing da Rede Mulher Empreendedora, ela ressaltou que a experiência demonstrou que investir em uma mulher é investir em toda a comunidade ao seu redor, uma vez que mulheres empreendedoras reinvestem em média 90% do que ganham para expandir seus negócios.