O recém-eleito papa Leão XIV escolheu seu nome em homenagem a um dos pontífices mais influentes do século XIX: Leão XIII, líder da Igreja Católica entre 1878 e 1903. Conhecido por sua defesa dos direitos dos trabalhadores durante a Revolução Industrial e por promover o diálogo entre religião e ciência, Leão XIII deixou um legado que ainda hoje ressoa na Doutrina Social da Igreja.
“Ele escreveu em uma cíclica social, no final do século 19, chamada “Rerum Novarum”, ou ‘As Coisas Novas’, a questão dos operários dentro do capitalismo, que estava corroendo suas vidas e as de suas famílias”, destaca o teólogo Jorge Claudio Ribeiro. O documento, segundo a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), estabeleceu as bases para debates contemporâneos sobre justiça social e direitos trabalhistas.
O presidente do Sindpd-SP, Antonio Neto, também destacou a Rerum Novarum quando o nome de Leão XIV foi anunciado, e aproveitou para desmentir uma falsa informação muito difundida a respeito da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).
“Para quem não sabe, foi essa encíclica que inspirou a nossa CLT, e não a Carta de Lavoro como é ignorantemente repetido por aí. Se o Trabalhismo brasileiro vem das bases positivistas de Comte, também foi influenciado e norteado pelos valores da Rerum Novarum. O Papado de Leão XIII foi marcado pela centralidade do trabalho, que o papado de Leão XIV possa ser um resgate dessa centralidade, retomada pelo Papa Francisco, em tempos de profunda precarização e novas formas de escravidão”, afirmou.
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Abolição da escravidão no Brasil
Leão XIII também atuou diretamente em causas históricas, como a abolição da escravidão no Brasil. Em 1888, publicou a encíclica “In Plurimis”, dirigida ao episcopado brasileiro, defendendo o fim da escravatura. O texto, divulgado em 5 de maio, antecedeu a Lei Áurea em apenas oito dias.
Outro marco de seu pontificado foi a reabertura do Observatório Astronômico do Vaticano, simbolizando sua abertura ao conhecimento científico. “Leão XIII promoveu o estudo das ciências naturais em um momento de transformações”, ressalta o padre Victor da Silva Almeida Filho, professor da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (Puccamp).
Especialistas veem na escolha do nome pelo novo papa um sinal de continuidade com esse legado. “Esse nome é altamente simbólico, me enche de esperança”, relata Ribeiro. No entanto, como lembra o teólogo, um pontificado é um processo em construção.
“Qualquer papa recém-eleito é uma espécie de recém-nascido. Ele vai amadurecer, vai dar os passos que os bebês dão e aos poucos vai amadurecendo, vai consolidando as suas possibilidades. Foi assim como Francisco também”.
Agora, a Igreja aguarda para ver se Leão XIV seguirá os passos de seu inspirador em um mundo marcado por novos desafios sociais, políticos e trabalhistas.
(Com informações de Brasil de Fato)
(Foto: Reprodução/Domínio Público)