O túnel que unirá Santos e Guarujá, no litoral de São Paulo — um plano de infraestrutura debatido por cerca de 100 anos — deve finalmente avançar em 2025. Em agosto, um leilão definirá os consórcios responsáveis pela construção e operação da obra, que empregará pela primeira vez no país a técnica de túnel submerso.
O método consiste em: em vez de escavar o solo sob o canal, segmentos do túnel são moldados em concreto armado na superfície. Essas seções são temporariamente vedadas, transportadas por via marítima até o local definido, submergidas até o fundo do canal e interligadas. Após a conexão, realiza-se o acabamento interno para conclusão da estrutura.
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Como o Brasil não tem experiência prévia com essa tecnologia, representantes do governo têm realizado missões internacionais para atrair empresas especializadas. Um dos destaques das visitas foi o canteiro do túnel Fehmarnbelt, em construção na Europa para ligar Alemanha e Dinamarca.
Em abril, uma comitiva liderada pelo ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, e pelo governador paulista Tarcísio de Freitas, esteve nas obras do Fehmarnbelt. “É a mesma tecnologia que será usada no túnel de Santos”, destacou Costa Filho.
Em 6 de abril, outro grupo de parlamentares e autoridades brasileiras — incluindo o prefeito de Santos, Rogério Santos, e o ministro do TCU Walton Alencar — visitou o canteiro dinamarquês, em ação organizada pela Frente Parlamentar Mista de Portos e Aeroportos (FPPA).
“Viemos conhecer as boas práticas, é importante compartilhar essa experiência para a realização do túnel entre Santos e Guarujá, que o Brasil espera há um século”, afirmou à DW o deputado federal Paulo Alexandre Barbosa (PSDB-SP), presidente da FPPA e ex-prefeito de Santos.
O leilão está marcado para 1º de agosto, e, segundo a imprensa brasileira, quatro grupos demonstraram interesse: Mota-Engil (Portugal) com CCCC (China), Acciona (Espanha) com Ballast Nedam (Holanda), Andrade Gutierrez (Brasil) com Webuild (Itália), e OEC (Brasil) com EGTC (Brasil) e uma terceira empresa.
Entre as empresas visitadas pelas autoridades está a holandesa Tec Tunnel, envolvida no Fehmarnbelt e em outros projetos globais. A chinesa CCCC construiu o túnel subaquático de Taihu (10,8 km), maior da China, enquanto a Ballast Nedam tem experiência com obras similares na Holanda e no Iraque.
Um século de espera
Atualmente, a travessia entre Santos e Guarujá pode ser feita por terra (43 km, cerca de 1 hora) ou por balsas (18 minutos, sem contar filas). As embarcações dividem espaço com navios cargueiros do Porto de Santos, o maior da América Latina em movimentação de contêineres. Com o túnel, a travessia será reduzida para 2-3 minutos, liberando o canal para o tráfego marítimo.
A opção por um túnel submerso, segundo o governo paulista, evita riscos geológicos de escavações tradicionais. Já uma ponte foi descartada devido à altura dos navios e à proximidade da Base Aérea de Santos.
A estrutura terá 1,5 km, sendo 870 metros submersos. Seis segmentos de concreto serão construídos em um canteiro próximo, que será inundado para permitir o transporte flutuante das peças até o canal. Bombas encherão tanques internos para submergir cada seção, que será posicionada sobre o leito preparado. Após a conexão com macacos hidráulicos, as vedações serão removidas, e o túnel receberá revestimento externo e interno. Haverá três faixas por sentido (uma adaptável para VLT) e via exclusiva para ciclistas e pedestres.
O custo total está estimado e R$ 5,78 bilhões, dos quais R$ 4,96 bilhões financiados por governos federal e estadual — será o maior projeto do Novo PAC. As obras devem iniciar em 2026, com previsão de conclusão em três anos. O consórcio vencedor operará o túnel por 30 anos, cobrando pedágio e recebendo uma contrapartida anual. Vencerá a proposta com maior desconto sobre o valor público.
Fehmarnbelt: um marco global
Inspiração para o projeto brasileiro, o túnel Fehmarnbelt está em construção e será o maior do mundo em sua categoria. Em junho de 2024, o rei dinamarquês Frederik 10 inaugurou o primeiro dos 89 elementos de concreto, cada um com 42 metros de largura, 270 metros de extensão e 70 mil toneladas.
A estrutura conectará Rødby (Dinamarca) a Puttgarden (Alemanha), com 18 km de extensão, duas pistas rodoviárias e duas linhas férreas por direção. A obra integra um esforço europeu para ampliar conexões ferroviárias e reduzir emissões de gases-estufa. Outro projeto emblemático é o túnel de base do Brennero (55 km), entre Áustria e Itália.
O custo estimado do túnel Fehmarnbelt e suas conexões é de cerca de 7,4 bilhões de euros (R$ 48 bilhões). O túnel imerso custará 6,6 bilhões de euros (R$ 43 bilhões) e é financiado integralmente pela Dinamarca. A Alemanha investirá cerca de 800 milhões de euros para conectá-lo à rede alemã de rodovias e ferrovias.
A obra deve ficar pronta em 2029, e o pedágio por veículo de passeio deve custar cerca de 70 euros (R$ 453). Além de ser o maior túnel misto (rodoviário e ferroviário) do mundo, consolidará uma rota direta de 330 km entre Hamburgo e Copenhague.
(Com informações de DW Brasil)
(Foto: Reprodução)