Novas análises registradas por astrônomos apontam que o cometa 3I/ATLAS pode estar recoberto por estruturas semelhantes a “vulcões de gelo” em plena atividade.
À medida que o 3I/ATLAS se aproximou do Sol, pesquisadores observaram a liberação de jatos de partículas congeladas e poeira ejetadas da superfície. Esses fenômenos, conhecidos como criovulcões, ajudam a desvendar a composição do visitante interestelar.
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O estudo, disponível no repositório científico arXiv e ainda sujeito à revisão por pares, indica que o 3I/ATLAS compartilha características com objetos transnetunianos – planetas anões e corpos gelados localizados além da órbita de Netuno.
Se essa correlação se confirmar, reforçará que, mesmo vindo de outro sistema estelar, o cometa apresenta propriedades semelhantes às de objetos formados nos limites do nosso próprio Sistema Solar.
“Ficamos todos surpresos”, afirmou o pesquisador Josep Trigo-Rodríguez, autor principal do estudo e cientista sênior do Instituto de Ciências Espaciais, na Espanha, em declaração ao site Live Science, ressaltando a conexão inesperada entre sistemas planetários distintos.
A visita do 3I/ATLAS ao Sistema Solar
Desde sua descoberta em julho, o 3I/ATLAS tem despertado curiosidade e especulações sobre sua origem, incluindo teorias sobre possíveis naves alienígenas. Contudo, especialistas apontam que se trata de um cometa expulso de um sistema estelar distante, oferecendo uma oportunidade rara de observar material vindo de outras regiões da galáxia.
Ele é o terceiro objeto interestelar já identificado, sucedendo o asteroide 1I/‘Oumuamua (2017) e o cometa 2I/Borisov (2019). Cada nova detecção contribui para o entendimento de ambientes de outros sistemas estelares e fornece pistas sobre condições que existiam no Universo primordial. Como o 3I/ATLAS segue rapidamente rumo ao espaço interestelar, pesquisadores têm um período limitado para realizar medições detalhadas antes que ele desapareça de vista.
Trigo-Rodríguez e sua equipe utilizaram o Telescópio Joan Oró, no Observatório de Montsec (Espanha), combinando informações com observações de outros instrumentos. Eles acompanharam o cometa conforme ele se aproximava do periélio (o ponto mais próximo do Sol) em 29 de outubro. O aumento da temperatura promove a sublimação do gelo, permitindo que os cientistas detectem sinais químicos e físicos emitidos pelo corpo.
Segundo os dados, o cometa entrou em um estágio particularmente intenso de sublimação a cerca de 378 milhões de quilômetros do Sol, emitindo um brilho crescente. As imagens revelaram jatos compostos por gás e poeira com detalhes inéditos, confirmando a presença de atividade criovulcânica.
Criovulcanismo é comum além de Netuno
O fenômeno observado no 3I/ATLAS também ocorre em corpos gelados nas regiões externas do Sistema Solar, onde o calor interno derrete parte do gelo, permitindo que vapores e poeira sejam expelidos ao espaço.
No caso do cometa interestelar, os pesquisadores sugerem que a atividade é desencadeada pela libertação de materiais presos no interior do astro. Quando aquece, o dióxido de carbono sólido – o gelo seco – se transforma em gás, permitindo que substâncias oxidantes interajam com metais como ferro, níquel e sulfetos, produzindo os jatos detectados.
Para investigar a composição do cometa, os cientistas compararam seus espectros com meteoritos antigos recuperados na Antártida, conhecidos como condritos carbonáceos. Uma das amostras analisadas apresentava características semelhantes às de um corpo transnetuniano. As comparações indicam que o 3I/ATLAS se assemelha a remanescentes primitivos do Sistema Solar, com alta concentração de metais naturais.
Esses meteoritos são relevantes para teorias sobre a origem da vida na Terra, pois podem ter transportado elementos voláteis que contribuíram para formar a atmosfera e criar condições favoráveis ao surgimento da vida. Por isso, o estudo do 3I/ATLAS também ajuda a compreender a química de sistemas estelares distantes e os processos que moldaram nosso planeta.
Medições do Telescópio Espacial Hubble estimam que o “viajante interestelar” tenha entre 440 metros e 5,6 quilômetros de diâmetro. Se possuir cerca de um quilômetro e apresentar a composição sugerida pelas análises, sua massa poderia ultrapassar 660 milhões de toneladas.
Sua trajetória hiperbólica e velocidade de aproximadamente 221 mil km/h confirmam a origem externa ao Sistema Solar, indicando que ele percorreu bilhões de quilômetros antes de chegar até nós. Essa longa viagem o expôs a radiação intensa, o que pode dificultar ainda mais a tarefa de identificar seu sistema de origem.
Embora não represente risco algum para o nosso planeta, Trigo-Rodríguez ressalta que objetos interestelares têm importância muito maior do que potenciais ameaças: eles funcionam como verdadeiras cápsulas do tempo, carregando pistas únicas sobre a formação de sistemas planetários e sobre a química presente no Universo antigo.
(Com informações de Olhar Digital)
(Foto: Imagem gerada por IA/Gemini/ChatGPT)
