Na noite desta quarta-feira (18), o Sindpd-SP promoveu a 3ª edição do DevTalk, podcast criado pelo sindicato para debater os desafios e oportunidades do setor de Tecnologia da Informação (TI). Dessa vez, o tema em destaque foi o aumento de crimes digitais relacionados aos scammers e o combate a esses cibercriminosos.
Scammers (ou golpistas) são criminosos que criam perfis falsos para aplicar golpes na Internet através da sedução de homens e mulheres, mas que miram sobretudo as vítimas do sexo feminino. O ambiente online acaba facilitando ações ilegais por conta da dificuldade de rastrear o criminoso e a falta de informação dos internautas de como denunciar. O debate foi transmitido ao vivo pelo canal do Sindpd no Youtube e teve Antonio Neto, presidente do sindicato, como mediador. Assista abaixo:
Fundadora e presidente do Instituto Gkscanonline – que desde 2011 atende e presta assessoria às vítimas de golpes virtuais -, Glauce Lima é uma caçadora de golpistas virtuais e conta que descobriu essa vocação ao conhecer uma alemã que se relacionou com um perfil falso – que se passava por um militar norte-americano – por cinco anos até descobrir a fraude, mas não sem antes levar um prejuízo financeiro estratosférico. “A partir daí, criei 29 perfis falsos (para ‘caçar’ golpistas) e conheci comunidades de pessoas que se juntavam para denunciar esses crimes”, conta.
Esse tipo de perfil malicioso é mais difícil de identificar que do um perfil falso comum, pois os cibercriminosos agem como se fossem reais, publicando fotos, legendas, stories e informações que conferem legitimidade para o perfil, que pode inclusive ser pessoal ou institucional. Glauce defende que é preciso tipificar os crimes cibernéticos, lembrando que o Marco Civil da Internet não contemplou todas as práticas criminosas nas redes. A técnica em práticas de LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) crê que a aprovação da Lei das Fake News poderia contribuir neste sentido, mas lamenta que o tema tenha sido inserido em um contexto de disputa político-partidária. “As pessoas misturaram política com a necessidade de criminalizar os crimes cibernéticos”.
Formado em segurança da informação, Leandro Morales atua como perito para o Organização Não Governamental (ONG) Marias da Internet, ajudando mulheres vítimas de crimes virtuais. A ONG presta orientação jurídica, psicológica e de perícia digital às vítimas de disseminação indevida de material íntimo. CEO e sócio da STWBrasil, empresa que atua nas áreas de investigação de fraudes com cyber segurança envolvendo pericia digital forense, auditoria e cyber segurança ofensiva, ele aponta que a “vingança pornográfica” (ou revenge porn, em inglês) é um crime que devasta e acaba com vidas de muitas mulheres.
Morales lembra que a Convenção de Budapeste – que entrou em vigência em 2004 – ajudou os países a avançarem no combate aos cibercriminosos. Tal convenção trata-se de um tratado internacional sobre direito penal e direito processual penal a fim de promover a cooperação entre os países no combate aos crimes praticados por meio da Internet e com o uso de computadores.
Em abril deste ano, o Brasil promulgou a convenção e ao aceitar o convite do Conselho da Europa, passou a ser um dos países que aderiram a tal instrumento internacional multilateral, fortalecendo, assim, os laços de cooperação com parceiros estratégicos no enfrentamento aos crimes cibernéticos. “As pessoas ainda separam o mundo cibernético do mundo real. Não há mais essa diferença”, acrescenta Leandro Morales, que é pós-graduado em áreas como direito digital, direito penal, criminologia, ciências forenses, pericia digital, computação forense e perícia Judicial.
Thais Cardia teve como o seu primeiro emprego na área no setor de proteção de dados. Atualmente, atua na governança das unidades internacionais de um banco brasileiro, onde fortaleceu suas habilidades em cibersegurança. Curiosamente, Thais é graduada em Relações Internacionais e trabalhou na área por seis anos, quando decidiu mudar seus rumos profissionais. “Tudo que a gente aprende pode ser utilizado na cibersegurança”, conta.
Ao entrar no mercado de TI, ela se graduou em Defesa Cibernética e atualmente cursa um MBA – Master in Business Administration – em Cyber Security pela FIAP (Faculdade de Informática e Administração Paulista). Thais frisa que a sociedade brasileira tem características culturais muito peculiares, enriquecendo a experiência de profissionais daqui em relação à profissionais de cibersegurança do resto do mundo. “Aqui no Brasil temos muita experiência com fraudes. O povo brasileiro é muito criativo para coisas boas e infelizmente, para coisas ruins também”.
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