Em períodos de elevação consistente da inflação, as conquistas de reposição de perdas e de aumento real nas negociações coletivas tendem a se tornar mais difíceis. É o que prova o "Balanço das Negociações dos Reajustes Salariais do 2º Semestre de 2015", levantamento realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), que analisa o cenário das conciliações entre sindicatos de representação dos trabalhadores e dos patrões em todo o Brasil.
Segundo dados preliminares da apuração, disponibilizados com exclusividade pelo Departamento, em que foram considerados para análise unidades de negociação da esfera privada e de empresas estatais, o percentual de acordos firmados com correção parcelada do reajuste salarial cresceu cerca de 6,2%, na comparação com 2014, atingindo 12,7% das negociações seguidas pelo Sistema de Acompanhamento de Informações Sindicais (SAIS) no ano de 2015. A disposição tem sido compreendida pelo movimento sindical como uma via, diante do cenário de crise econômica, para atenuar possíveis perdas salariais que um reajuste abaixo da inflação representaria.
Embora o estudo ainda esteja em fase de conclusão, a tendência de parcelamento dos reajustes salariais, bem como a dificuldade em assegurar aumentos reais, já havia sido aferida no "Balanço das Negociações dos Reajustes Salariais do 1º Semestre de 2015". Segundo o levantamento, cerca de 15% acordos negociados, considerando amostragem de 302 unidades sindicais, não conseguiram garantir aumentos acima ou mesmo em patamares compatíveis com a inflação. Neste período, o parcelamento ocorreu em 12 categorias, em oito estados brasileiros.
De acordo com a apuração, o aumento real médio também caiu e apresentou o menor valor desde 2008 (0,51%), quando o Sistema de Acompanhamento de Salários do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (SAS-DIEESE) passou a registrar o resultado das negociações coletivas.
Na análise de Marco Antonio Pereira, que integra o núcleo de economistas da entidade, embora o cenário não tenha favorecido o processo negocial, as categorias deram sinais claros de força e organização. "Quanto aos reajustes em geral, o ano de 2015 foi ruim como não se via desde 2004, diminuindo a proporção de reajustes do ganho real e subindo a dos que simplesmente repuseram a inflação e a dos que embutiram perda real. Ainda assim, esses reajustes foram melhores do que o observado no período anterior, de 1996 a 2003. Pode-se dizer que o movimento sindical sentiu o baque da crise no ano passado, mas soube oferecer resistência", conclui.
Dentre as categorias que tiveram dificuldade em romper com o pessimismo do empresariado durante suas negociações está o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que conseguiu reajuste de até 9,88%, parcelado em duas vezes (7,88% e 2%), sendo que os pisos salariais serão reajustados com base no número de funcionários da empresa.
Na avaliação dos sindicatos de representação dos trabalhadores de Tecnologia da Informação e Processamento de Dados de outros estados, é possível verificar certa dificuldade em atingir negociações com patamares acima da taxa inflacionária.
No Sindpd-DF, a Convenção Coletiva de Trabalho para 2015/2016 assegurou reajuste de 8,17%, com possibilidade de reposição em até duas vezes. Já a entidade de representação no Espírito Santo não conseguiu repor as perdas inflacionárias ao conciliar reajuste de 7% para os anos de 2014 a 2016.
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