Em manifesto distribuído durante a I Conferência Nacional da Classe Trabalhadora, nesta terça-feira (1º de junho), as centrais sindicais afirmam “que a eleição de outubro, marcada com a disputa entre distintos projetos políticos é uma singular oportunidade para selarmos compromissos com o avanço das transformações necessárias à construção de um país igualitário e democrático. Nossa presença ativa no processo e no debate eleitoral deve buscar impedir retrocessos, garantir e ampliar direitos dos trabalhadores/as. Por isso, é fundamental eleger candidatos comprometidos com as bandeiras da classe trabalhadora”.
O manifesto, uma espécie de resumo da agenda aprovada na Conclat, faz ainda uma análise da conjuntura política e econômica pelo qual passa o país, além de reafirmar as principais bandeiras da classe trabalhadora.
Leia a íntegra do manifesto:
Pelo desenvolvimento com soberania, democracia e valorização do trabalho
A Conferência Nacional da Classe Trabalhadora – Assembléia 1º de junho de 2010 realiza-se num momento em que o mundo ainda é perturbado pelas crises do capitalismo.
Ao longo das últimas décadas, o processo de globalização hegemonizado pelo capital financeiro, fez com que os Estados nacionais perdessem, progressivamente, sua capacidade de gerar, controlar e executar políticas de suporte ao desenvolvimento econômico, de inclusão social com a geração de emprego, renda e valorização do trabalho.
Nós, trabalhadores e trabalhadoras e suas organizações sindicais, sempre alertamos para os vários problemas sociais e econômicos que derivam da implementação das políticas neoliberais: a desestruturação econômica; a fragilização do poder do Estado; a exclusão social e desregulamentação do mercado de trabalho, com milhões de famílias vítimas do desemprego; o acirramento sem controle da competição em todos os níveis, inclusive entre países, regiões e governos; a desvalorização do papel do empreendedor produtivo em prol da especulação financeira; a instabilidade e a precarização das relações de trabalho, marcada pela crescente informalização, pelos baixos salários e por restrições à ação sindical; o descaso com o desenvolvimento ambientalmente sustentável, entre outros. Em resposta às crises econômica, política e ambiental é preciso construir uma nova agenda dos trabalhadores/as do norte e do sul. É preciso colocar na ordem do dia o fortalecimento dos nossos laços internos de solidariedade e de cooperação internacional, de forma a potencializar a luta por novos modelos de desenvolvimento sustentável. Não podemos permitir que as alternativas aparentemente fáceis do protecionismo e da xenofobia superem o valor mais importante da classe trabalhadora que é a solidariedade. Ao invés de competitividade, é preciso implantar, como princípio, a qualidade de vida. Temos que ter consciência que, frente os problemas globais que ameaçam a todos, não existem soluções individuais. Ou vencemos todos, ou ninguém vence!
O Brasil e muitos países da América Latina vivem um momento promissor, de mudanças. O neoliberalismo vem sendo rejeitado nas urnas e os povos buscam novas alternativas de desenvolvimento. O Brasil precisa atuar de forma decisiva no aprofundamento da integração econômica e construção contínua da articulação regional, com o fortalecimento do Mercosul e UNASUL, Banco do Sul e Comunidade das Nações da América Latina e Caribe assim como exercer um papel relevante na redefinição das instituições multilaterais e nas regras de governança mundial, em especial do sistema financeiro e de comércio. E por isso, defendemos e lutamos por uma nova ordem mundial.
No Brasil, os avanços registrados nos indicadores sociais e econômicos dos últimos anos revelam que é possível combinar crescimento econômico com desenvolvimento social. Contudo, permanecem, ainda, muitos problemas a enfrentar e uma enorme dívida social a ser superada. No âmbito do mercado de trabalho, destacamos o alto desemprego, os baixos salários, a informalidade, a rotatividade da mão de obra e as discriminações, além da participação reduzida dos salários na renda nacional, que deve ser aumentada.
É essencial a consolidação da unidade e a elevação do protagonismo da classe trabalhadora na luta política nacional. As centrais sindicais desempenham um grande papel neste sentido e a unidade de ação que construímos, calcada na mobilização dos trabalhadores e das entidades sindicais, foi responsável por conquistas relevantes para o processo de mudança que almejamos.
Reafirmamos as ações desenvolvidas no último período, como as mobilizações das Marchas da Classe Trabalhadora, o veto do Presidente LULA à Emenda 3, a correção da tabela do imposto de renda, a criação do empréstimo consignado a juros mais baixos, a ampliação dos investimentos na agricultura familiar, a conquista do Piso Nacional da Educação, o aumento real para os aposentados e pensionistas. Destacamos a política de valorização do salário mínimo, que favoreceu diretamente mais de 40 milhões de brasileiros, distribuindo renda, diminuindo as desigualdades, com impactos positivos no conjunto da economia e do consumo popular.
Com a Conferência / Assembléia, a classe trabalhadora une ainda mais forças para lutar por um projeto nacional de desenvolvimento, orientado por três valores fundamentais: a democracia, a soberania do país e a valorização do trabalho. Lutamos para que a unidade de ação sindical repercuta, no âmbito político e governamental, onde os trabalhadores/as, com sua Agenda, tenham voz e vez. Caminhar nessa direção requer estratégia sustentada por uma economia marcada pelo controle da inflação, pela geração renda e de emprego, por ganhos de produtividade e pelo aumento do investimento. Para isso, além de um Estado forte, é preciso uma política de redução dos juros, do superávit primário e câmbio administrado. Uma política macroeconômica que tenha como pressuposto o crescimento sustentado a um ritmo compatível com as potencialidades e necessidades do país, o pleno emprego e a distribuição mais justa da renda produzida pelo trabalho.
Lutamos por um sistema de promoção e proteção social associado ao trabalho que tenha na organização sindical um agente estratégico. Lutamos para fortalecer a presença e a representação das organizações sindicais, no local de trabalho, para possibilitar a negociação coletiva, no setor privado e público, garantir o direito de greve e a solução ágil dos conflito; questões fundamentais à conquista de um sistema democrático de relações do trabalho.
O ano de 2010 é significativo para a classe trabalhadora brasileira. A eleição de outubro, marcada com a disputa entre distintos projetos políticos é uma singular oportunidade para selarmos compromissos com o avanço das transformações necessárias à construção de um país igualitário e democrático. Nossa presença ativa no processo e no debate eleitoral deve buscar impedir retrocessos, garantir e ampliar direitos dos trabalhadores/as. Por isso, é fundamental eleger candidatos comprometidos com as bandeiras da classe trabalhadora.
É nesse contexto de unidade na ação que as Centrais Sindicais, reunidas na Conferência Nacional da Classe Trabalhadora – Assembléia, apresentam à sociedade brasileira, aos partidos políticos e seus candidatos um conjunto de propostas que reafirmam nosso desejo de que o país trilhe o caminho do desenvolvimento. Propostas que garantam ao Estado brasileiro ampliar seu papel de indutor e promotor do desenvolvimento através da efetivação de reformas estruturais como a reforma tributária, visando a progressividade dos impostos, a taxação das grandes fortunas e propriedades; a reforma do sistema financeiro visando ampliar a oferta de crédito para financiar investimentos produtivos e a democratização do Conselho Monetário Nacional; a reforma política baseada no financiamento público das campanhas, no voto em listas partidárias e no fim da cláusula de barreira; a reforma agrária e o fortalecimento da agricultura familiar; a reforma urbana centrada no combate ao déficit habitacional e na construção de cidades sustentáveis.
Apresentamos também propostas para ampliar a distribuição de renda e a igualdade com o fim do fator previdenciário; a valorização da educação pública, gratuita e de qualidade em todos os níveis, o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS), uma efetiva política de segurança pública democrática e o fortalecimento do PAC.
Lutamos pela redução constitucional da jornada de trabalho para 40 horas semanais sem redução de salários; pela ratificação da Convenção 158 da OIT, que coíbe a dispensa imotivada; pela valorização dos servidores públicos, a regulamentação da Convenção 151 da OIT sobre negociação coletiva no setor público; por uma nova política de comunicação, que democratize o direito à informação, fortaleça as mídias alternativas e as expressões culturais nacionais e regionais e; para que os recursos do pré-sal sejam utilizados na erradicação da pobreza e das desigualdades sociais.
As propostas da Agenda da Classe Trabalhadora estão organizadas em seis grandes eixos, a saber:
Crescimento com distribuição de renda e fortalecimento do mercado interno;
Valorização do trabalho decente com igualdade e inclusão social;
Estado como indutor do desenvolvimento socioeconômico e ambiental;
Democracia com efetiva participação popular;
Soberania e integração internacional; e
Direitos sindicais e Negociação Coletiva
Reafirmamos, hoje, no Estádio do Pacaembu, em São Paulo – SP, nosso compromisso de luta para ampliar direitos e conquistar uma nova sociedade, solidária e justa. A inclusão social e valorização do trabalho decente são os pilares para que o Brasil se consolide como um país onde homens e mulheres, do campo e da cidade, trabalhem e vivam com qualidade e dignidade.
São Paulo, 1º de junho de 2010.
CONFERÊNCIA NACIONAL DA CLASSE TRABALHADORA –
ASSEMBLÉIA 1º DE JUNHO DE 2010
Central Única dos Trabalhadores
Força Sindical
Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil
Nova Central Sindical dos Trabalhadores
Central Geral dos Trabalhadores do Brasil
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