Leia abaixo a íntegra do discurso do presidente da CGTB, Antonio Neto, durante a I Conferência Nacional da Classe Trabalhadora, realizada nesta terça-feira (1º de junho), no estádio Pacaembu, São Paulo:
Quero iniciar saudando os companheiros dirigentes da CGTB que se deslocaram de todo o Brasil para participar deste evento histórico,
Saudar o companheiro Ramón Cardona, representante da FSM neste evento;
Saudar os presidentes das centrais sindicais co-irmãs;
Companheiro Paulinho, Arthur, Wagner e Calixto
Saudar as autoridades e representantes dos partidos políticos,
Saudar os companheiros do SINDPD,
E, por fim, saudar todos vocês, companheiros e companheiras, que estão abrilhantando esta grande festa da classe trabalhadora brasileira.
Meus amigos e minhas amigas,
Quero conversar um pouco com vocês. Embora muitos oradores que me antecederam já enalteceram e destacaram a importância histórica desta Conferência, não posso me furtar da responsabilidade e do orgulho de afirmar que este evento é um novo salto de qualidade na unidade de ação dos trabalhadores.
Esta Conferência, companheiro Paulinho, Arthur, Wagner e Calixto, representa o coroamento de um ciclo e a inauguração de uma nova era, em que os dirigentes sindicais realmente comprometidos com o país e com o povo marcharão unidos para consolidar um modelo que enterrou as perversidades do neoliberalismo.
Durante muitos anos a palavra unidade percorria o seio do movimento sindical brasileiro e dos partidos progressistas sem encontrar conforto nas consciências de seus dirigentes. Foi necessário passarmos por um período perverso da nossa história, representado pelo governo tucano, que quase destruiu o Brasil, para percebermos a verdadeira necessidade da unidade, da junção de forças e sentimentos para resgatar e reconstruir o nosso país, inaugurando uma nova fase em que a influência dos trabalhadores passou e ser efetiva.
Este amadurecimento, que nos fez perceber que o atacado que nos une é muito maior que o varejo que nos dividia, serviu de argamassa, de solda, para consolidar uma frutífera e pujante união da classe trabalhadora do campo e da cidade, que contribuiu com a mudança do nosso país e com o início do enfrentamento dos principais problemas que sempre trouxeram tristeza e desesperança ao novo povo.
De passo em passo, de marcha em marcha, de reunião em reunião, Paulinho, Arthur, Wagner e Calixto, construímos esta unidade. Ampliá-la é a nossa tarefa. Fortalecê-la é a nossa obrigação e consolidá-la é o nosso compromisso.
Companheiros e companheiras,
Recentemente eu afirmei que é inegável que o movimento sindical tem contribuído de forma efetiva para a construção de um país mais justo, igualitário e com oportunidades para todos.
Por isso, com muito orgulho, nos sentimos parte importante desta nova forma de governar inaugurada pelo governo do presidente Lula, um operário, dirigente sindical, que teve a sensibilidades de construir um modelo mais democrático, sensível aos anseios dos necessitados e voltado para o conjunto do povo. O Brasil encontrou o seu rumo, nosso povo recuperou a sua autoestima, e estamos convencidos de que este é o caminho a ser seguido.
Meus amigos e minhas amigas,
Quero falar um pouco sobre as nossas principais responsabilidades. A primeira delas, a mais importante, a tarefa principal dos trabalhadores neste ano, é impedir que o retrocesso se instale novamente no poder. Não há tarefa mais importante para a classe operária do que esta.
Aqui todo mundo se lembra, que até 2002, estávamos essencialmente travando uma luta de resistência. Resistimos ao desmonte do Estado, às privatizações, à política de arrocho e desemprego que até então estava sendo aplicada. O desemprego galopante alimentava diariamente as intermináveis e cruéis filas do desemprego. Este exército de mão-de-obra reserva era utilizado pelos empresários para aviltar os salários, para sucumbir direitos e explorar ao máximo aos trabalhadores. Lutamos muito para enterrar a visão do Estado mínimo, a submissão ao mercado irracional e ao darwinismo social que relegava ao povo a opção da miséria e da exclusão.
No campo legislativo, fazíamos de tudo para tentar evitar os constantes ataques contra a CLT e para resistir à liberação selvagem da negociação desigual patrão x empregado. Não eram poucas as teses propaladas no sentido de que os direitos trabalhistas (férias, 13º salário, Fundo de Garantia, etc) eram fomentadores e responsáveis pelo desemprego e pela infelicidade do trabalhador.
Mas, em breve companheiros, participaremos de uma batalha onde estarão em confronto dois lados extremamente opostos. Um deles que trata professor com paulada, com tiro, com arrocho salarial e outro que cria um piso salarial nacional descente, que criou condições para os filhos do povo frequentarem a universidade ao ampliar as vagas em 400% em cinco anos, que triplicou o orçamento da Educação, criou o ProUni e construiu 214 escolas técnicas.
E sabemos muito bem que não querem que nós participemos deste processo. Estão tentando de tudo, não é mesmo, Paulinho, Arthur e demais companheiros. Agora querem até nos multar quando expressamos a nossa opinião. Mas não será multa ou coisa parecida que irá nos calar. Sabemos que as elites criaram mecanismos para evitar o debate político, para pasteurizar a participação popular nos pleitos eleitorais, uma nova forma de restrição contra a nossa organização. Mas é bom que fique claro que não aceitaremos esta censura. Se não conseguiram nos calar com as baionetas, não será uma caneta que irá impedir o povo de sonhar, de lutar por seus ideais.
Mas voltando ao meu raciocínio: Hoje a nossa luta está num patamar mais elevado. Avançamos para um modelo que criou mais de 14 milhões de empregos e que tirou mais de 24 milhões de brasileiros da pobreza.
Hoje nossa batalha está girando em torno do fortalecimento pleno do Estado brasileiro, aprofundando o seu papel de alavanca do desenvolvimento e impulsionador dos investimentos produtivos privados. Não foi de outra forma que descobrimos o Pré-sal, este mar de petróleo que deverá promover o fim das desigualdades e ser utilizado para fomentar os investimentos em novas tecnologias, em educação e na estruturação de uma cadeia nacional de derivados de petróleo.
Se a política apoiada pelas centrais garantiu o aumento real de quase 60% no salário mínimo, evitou que o Brasil afundasse na crise internacional como acontecia, garantiu o direito de negociação aos servidores públicos através da ratificação da Convenção 151 e reduziu significativamente os juros, lutaremos agora pela redução da jornada, pelo fim do Fator Previdenciário e pelo aumento real do salário mínimo em 2011.
Nosso programa unitário propõe disciplinar a terceirização, com aprovação da lei discutida em comum acordo entre as centrais e o Ministério do Trabalho; quer a liberdade de organização no local de trabalho; o fim das práticas antissindicais promovidas pelo Ministério Público do Trabalho. Este é um assunto que requer muita atenção de todo o movimento sindical, pois estamos sofrendo um ataque virulento e articulado por parte da elite, em consonância com setores do MPT, com o objetivo de tentar minar a organização dos trabalhadores, enfraquecendo o nosso poder de atuação, facilitando a flexibilização dos direitos trabalhistas e atentando contra muitas de nossas conquistas.
Não podemos, companheiros; Não podemos nos curvar diante de um bando de playboys que perseguem dirigentes sindicais. Vamos até o fim para dar um basta nesta excrescência, nesta perseguição odiosa contra o povo e os trabalhadores.
Temos ainda, meus amigos, que batalhar para garantir a ratificação da Convenção 158; o financiamento público para o desenvolvimento da indústria nacional; a participação do Estado na produção nos setores estratégicos; o fim dos leilões na área do pré-sal; a proteção da economia nacional; a redução maior dos juros; o controle cambial; a redução do superávit primário e o controle da remessa de lucros.
Mas estamos travando esta batalha em condições diferenciadas. Somos mais fortes e estamos marchando sob a bandeira da nossa unidade. Após este evento histórico – que ficará cravado na história do nosso país como o levante do povo rumo ao Brasil dos nossos sonhos – estamos cientes de que nada é impossível para os trabalhadores brasileiros, nada é mais forte que a nossa esperança e nada irá impedir que alcancemos a nossa vitória.
Viva a unidade das centrais sindicais!
Viva a unidade dos trabalhadores brasileiros! Viva o Brasil!
Vamos à luta, companheiros!
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