O presidente da CGTB e do Sindpd, Antonio Neto, foi reeleito para uma das vice-presidências da Federação Sindical Mundial (FSM) durante a plenária final do Congresso que foi realizado em Atenas, entre os dias 6 e 10 de abril. A CGTB indicou ainda um integrante do Conselho Fiscal, o tesoureiro do Sindpd, Paulo Sabóia, e o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Itatiba, José Avelino Pereira (Chinelo) para o Conselho Geral da entidade.
O Congresso da FSM reuniu mais de 800 delegados, representando 104 países e 80 milhões de trabalhadores filiados. A abertura do evento, realizada no dia 6 de abril, foi o ponto alto do Congresso. Mais de 4.500 pessoas, entre delegados, convidados e militantes da PAME (central sindical grega) lotaram o ginásio Olímpico de Atenas para dar inicio aos trabalhos do mais representativo e histórico Congresso da FSM.
O Sindpd prestou uma homenagem aos trabalhadores gregos, ao secretário geral da FSM, George Mavrikos, e ao presidente da FSM, o dirigente sírio Shaban Assouz, presenteando-os com uma placa onde está reproduzida o desenho ofertado por Pablo Picasso, em 1955, à FSM. Este mesmo desenho foi reproduzido em mosaico de pedras portuguesas na sede do Sindpd em São Paulo.
O debate sobre a crise internacional do sistema financeiro, especialmente nos países da Europa, e a agressão imperialista contra os países árabes independentes foram os principais pontos discutidos.
Em seu informe, o secretário geral da FSM, George Mavrikos, reeleito para comandar a entidade por mais cinco anos, fez um balanço da atuação FSM e da situação em que se encontra a luta dos trabalhadores nos mais diversos países cujas organizações integram a Federação.
O secretario geral abordou a situação de retrocesso que se encontra diversos países da Europa, onde o desemprego cresce vertiginosamente onde os governos se dobraram às determinações do sistema financeiro. Um dos casos mais delicados é a Espanha, onde o retrocesso nas relações laborais foi mais acentuado. Nada menos que 20% da população economicamente ativa está desempregada. Situações semelhantes encontram-se na Grécia, em Portugal, Irlanda e Tunísia.
“Por todo o lado e à nossa volta, vemos os mercados repletos de bens e de riqueza para lá da própria imaginação, concentrada apenas nos bolsos de alguns, vemos a destruição das forças produtoras da riqueza e a depreciação da principal força produtiva, os trabalhadores. Vemos o acelerado crescimento do desemprego, a queda do PIB e do comércio mundial e, claro, o incessante crescimento da pobreza e da miséria para milhões de seres humanos do planeta, tanto nos países capitalistas desenvolvidos como (mais ainda) nas chamadas economias em desenvolvimento, apesar do enorme potencial científico e tecnológico que poderia assegurar uma prosperidade geral às populações”, afirmou Mavrikos.
Embora muitos países tenham despejado trilhões de dólares para salvar bancos, enquanto os trabalhadores foram deixados de lado, a situação econômica dos principais países está terrível. O déficit comercial dos EUA para este ano tem uma previsão de U$ 150 bilhões a mais do ano passado, esperando-se que atinja U$ 1,6 trilhões – o mais alto desde a 2ª Guerra Mundial – ou seja, 11% do PIB dos EUA.
A dívida total é de cerca de U$ 12 trilhões, ou seja, 98% do PIB! Continua a aumentar o número de bancos problemáticos nos EUA e, no final de 2009, 702 bancos estavam considerados em situação problemática. Estima-se que 581 pequenos (em termos de EUA) bancos estejam em risco de colapso em 2011.
Por todo o mundo, governos terão de providenciar U$ trilhões por ano para financiar pacotes de “salvamento” de empresas problemáticas e dos seus déficits. Economias como a Alemanha, que eram consideradas as “locomotivas” do desenvolvimento europeu, enfrentam o espectro de um aumento agudo da dívida pública (de 60% do PIB em 2002 para 77% em 2010). Uma série de economias menores (Grécia, Lituânia, Estônia, Hungria, Bulgária, Portugal, Irlanda, etc.) evidenciam taxas de dívida pública externa que se aproximam ou são já superiores a 100% do seu PIB.
Usando a seu favor os tremendos pacotes de apoio financeiro que receberam dos governos e com um potencial aumentado para, com a crise, adquirirem os concorrentes mais fracos, as empresas monopolistas aumentam os seus lucros a um rápido ritmo, enquanto numerosas famílias de trabalhadores se afundam com o peso dos juros dos empréstimos.
Ao mesmo tempo, as massas trabalhadoras em todo o mundo enfrentam o brutal aumento das taxas de desemprego, aumento dos preços dos produtos alimentares e outros bens essenciais, cortes nos serviços sociais como a educação, saúde, proteção social e perdas de propriedade (casas, etc.) devido a dívidas com os bancos. O capitalismo mostra o seu verdadeiro rosto, não apenas nos países em desenvolvimento do chamado “Terceiro Mundo”, mas também nos centros imperialistas.
Segue o informe afirmando que acontecimentos recentes em todos os continentes são as grandes, militantes e populares manifestações de massas trabalhadoras, demonstrando a gravidade e profundidade dos problemas.
Nos EUA, perderam-se 6,7 milhões de postos de trabalho, desde o início da crise econômica em Dezembro de 2007, até Agosto de 2009. A taxa oficial de desemprego (que, é claro, esconde os que agora perderam qualquer esperança de encontrar emprego) está atualmente em 9,5% – 10,2 milhões de Americanos recebem subsídio de desemprego. Se a estes acrescentarmos todos os trabalhadores em “part-time”, por não encontrarem empregos a tempo inteiro e os que já nem procuram emprego, então temos 30 milhões de Americanos – 19% do total da força de trabalho – que diariamente enfrentam o espectro do desemprego.
Os números são mais alarmantes: A fome não se limita aos países pobres. Mais de 49 milhões de pessoas nos EUA não têm acesso à alimentação necessária, sofrendo de má nutrição.
Nos EUA, 17 milhões de crianças – uma em cada cinco – vivem em famílias incapazes de garantir as refeições diárias, enquanto que o número de crianças que não ingerem qualquer alimento, durante um dia ou mais, passou de 700.000 para 1,1 milhões, no espaço de um ano.
Mas a crise financeira, conjugada com os problemas agravados que impõe às massas trabalhadoras, constitui uma grande oportunidade global para que os trabalhadores ganhem consciência da sua força, para que organizem a luta, para que avancem com as suas prioridades e necessidades, para que construam o seu próprio caminho de desenvolvimento social e econômico
Constitui uma oportunidade para a realização da vital necessidade de socialização, para o planejamento central da produção e para o controle do trabalho e do social. Na verdade, a crise é uma ótima oportunidade para a reorganização do movimento operário coloque as suas reivindicações e imponha medidas e políticas que se oponham à lógica administrativa e à aritmética do patronato relativa aos meios sociais de produção, lutando pelo poder dos trabalhadores.
Abaixo, leia a íntegra do discurso do presidente Antonio Neto no Congresso.
Discurso do presidente da CGTB, Antonio Neto, no 16º Congresso da Federação Sindical Mundial (FSM) – Atenas – Grécia – Abril de 2011
Em primeiro lugar, quero agradecer os camaradas da PAME e os trabalhadores gregos pelo carinho e hospitalidade com que receberam as delegações de todos os países. Muito obrigado!
Cumprimentando o secretário-geral George Mavrikos, faço uma saudação especial e calorosa aos participantes deste histórico e representativo Congresso da Federação Sindical Mundial (FSM).
Meus camaradas,
Este Congresso ocorre num momento muito delicado para a história da Humanidade. Quando o imperialismo se aventura ao Oriente para tentar ferir a soberania dos povos árabes independentes, lançando mão de uma marcha belicista e difamatória contra a Líbia, a Síria e demais países que resistem e não se submetem à pilhagem de suas riquezas.
Os trabalhadores brasileiros estendem as mãos aos irmãos árabes, se solidarizam contra os bombardeios criminosos e se juntam à luta dos trabalhadores sírios e líbios para denunciar que esta agressão visa subjugar povos livres e roubar petróleo para sustentar o avanço dos monopólios imperialistas.
Na figura de meu amigo, irmão e camarada, presidente da WFTU, Shaban Assouz, saúdo a combatividade do povo árabe e me solidarizo contra a criminosa agressão imperialista. Toda força aos trabalhadores e combatentes árabes que lutam contra o Império! Em defesa da soberania e independência das Nações, pela autodeterminação dos povos, abaixo à agressão criminosa promovida pelos monopólios internacionais!
Amigos,
Passados pouco mais de dois anos da crise econômica que colocou em xeque o sistema financeiro internacional, vimos uma inflexão da economia internacional como um todo, despertando um processo de revolta crescente nos trabalhadores e nos povos oprimidos do mundo inteiro.
Em partes, isso ocorreu porque no momento do colapso especulativo, os governos ao redor do mundo assumiram dívidas gigantescas para salvar bancos corrompidos pela hiper-especulação dos mercados de instrumentos derivados, sem que isso significasse uma recuperação econômica, um aumento do emprego e dos salários, ou uma melhora nas condições de vida da população. As medidas públicas chamadas “anticíclicas” serviram para conservar as políticas macroeconômicas que favorecem a especulação.
Alimentados pela enxurrada de dólares despejados pelos Estados Unidos – cerca de 17 trilhões de papéis esverdeados sem lastro desde 2007 – os especuladores e monopólios continuam jogando com as commodities no mercado internacional, levando países à ruína, trabalhadores à miséria, sugando economias das nações em desenvolvimento através de um processo cada vez maior de domínio de suas bases produtivas.
Por isso, a nossa tarefa deve ser, cada vez mais, desmontar este sistema perverso e desumano. Derrotar os especuladores e monopólios que destroem países, matam pessoas, aniquilam empregos, roubam futuros, depredam os recursos naturais, empobrecem nações e espalham a infelicidade pelos quatro cantos do planeta. Neste sentido, consideramos fundamental que os países ampliem seus sistemas de proteção contra o avanço dos monopólios internacionais. O caminho da libertação está na derrota dos monopólios imperialistas.
Do ponto de vista sindical, acreditamos que é necessário aprofundar ainda mais a unidade e a mobilização da classe operária para consolidar os direitos dos trabalhadores, matando no ninho uma nova onda de flexibilização que começa a emergir na Europa com a pretensão de avançar pelo mundo, como um tsunami que intenta arrasar os direitos sociais.
Temos a missão de barrar movimentos semelhantes aos ocorridos na Espanha e em outros países europeus que visam acabar com a proteção social. Querem, novamente, flexibilizar as relações trabalhistas, ou seja, arrancar a pele dos trabalhadores, cortando direitos e salários.
Para nós, isso faz parte de um passado obscuro, trazido pelo neoliberalismo, que pulverizou a fome e miséria ao fazer privatizações, desmontar os Estados, retirando até mesmo de suas funções básicas, primárias; desregulamentando a economia. Basta, isto é retrógado, é arcaico.
O futuro é desenvolvimento, fortalecimento do Estado, geração de empregos, desenvolvimento tecnológico, pesquisa, educação, ampliação da renda da classe operária e proteção aos necessitados. Precisamos de uma profunda reforma econômica, radical e corajosa, para balizar o mal que hoje aflige a humanidade. Esse Mal é o sistema financeiro mundial, o capitalismo selvagem, que ceifa vidas, humilha, massacra, empobrece, transforma tudo em commodities, vidas em números, comida em lucro e homens em escravos.
Para finalizar, tomo emprestadas as palavras de um senador do meu partido no Brasil, o PMDB. Em discurso no Senado, Roberto Requião afirmou que a contradição existente na sociedade atual está entre o mercado e o Estado.
Mercado ou Nação, eis a questão.
O mercado não tem pátria, não tem fronteiras, não tem história, não tem tradições, não tem cultura. A nação tem história, espaço, consolida seu território com o suor e o sangue do seu povo, de gerações! A Nação tem compromisso com os seus, com a aventura de vida e o bem-estar de toda a sociedade, de cada pessoa. A nação solda-se com o amor e a solidariedade. A nação acolhe e protege os mais fracos, os desprotegidos, os indefesos. A nação tem compromisso com a produção, com o trabalho e a defesa do trabalho.
Uma nação se faz com aumentos salariais substantivos, a fim de criar um mercado interno forte para girar com velocidade o círculo virtuoso da economia. Uma nação se faz com direitos trabalhistas, com democracia, com educação para os filhos do proletariado, com saúde e previdência para a classe operária.
Uma nação se faz com uma política agrícola, com reforma agrária, para libertar o campo do latifúndio, do atraso, do arado, do domínio dos donos das patentes de sementes e de defensivos.
Uma nação se faz com coragem, com determinação e com ousadia.
Vamos à luta, camaradas. Viva a FSM! Viva os combatentes antiimperialistas! Viva a classe operária e a solidariedade internacionalista!
Muito Obrigado
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