Na tarde desta terça-feira, 18, realizou-se o 1º Seminário de CIPAs (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) da regional do Sindpd em Campinas, numa iniciativa que pretende estender a todo o estado de São Paulo os debates acerca da importância do equilíbrio nas relações de trabalho, assim como o diálogo sobre a saúde como eixo central dessas integrações.
Reservado aos profissionais do departamento de Recursos Humanos e cipeiros, o encontro atraiu representantes de mais de 25 empresas do setor para discutirem sobre "Tratamento de dependentes da rede" e "Administração de conflitos, assédio moral, sexual e ética corporativa", temas de exposição da psicóloga Magda Costa e do advogado e psicólogo Roberto Heloani, respectivamente.
Na ocasião, o secretário-geral do Sindpd, José Gustavo Netto, falou sobre a necessidade de ampliar o alcance do evento para atender às demandas das regionais do Sindicato. "Estamos inaugurando o 1º seminário de Cipas da regional de Campinas. Pela primeira vez estamos fazendo aqui algo que já é tradição em São Paulo. Temos a intenção de estender o evento para as demais regionais. (…) Esperamos que esta exposição seja bastante proveitosa para todos aqui, especialmente por trata-se de temas que em muito afetam esta categoria", disse.
Em discurso sobre a atuação do Sindpd na defesa dos interesses da classe trabalhadora, o secretário para assuntos de Saúde, Segurança e Medicina do Trabalho, Antonio Randolfo das Neves, foi categórico ao afirmar que o "Sindicato tem uma visão sobre a importância de cuidar de todos os interesses do trabalhador, não só dos econômicos e dos benefícios sociais, mas, principalmente, a questão da saúde e da segurança". Para ele, o Seminário serve exatamente a este propósito. "Tratar-se de um momento em que podemos reunir os profissionais de RH e os cipeiros para discutirmos questões que são pontuais da categoria, buscando, exatamente, o equilíbrio das relações de trabalho dentro da empresa", completou.
Diretora da regional do Sindicato em Campinas, Loide Mara Valente Belchior apontou como fundamental a iniciativa de deslocar o Seminário para outras regionais de São Paulo. "Acho ótima essa iniciativa da Secretaria de começar a realizar o evento no interior, pois facilita a vinda de representantes de cidades vizinhas, que consideram difícil a ida até a sede em São Paulo. Conseguimos mobilizar mais de 25 empresas em cidades como Jundiaí, Vinhedo, Limeira, Americana, Piracicaba, Itu, além, claro, de Campinas", finalizou.
Também participaram do evento os diretores Abaitaguara do Amaral Gonçalves, Antonio Sérgio Stolagli, Edison Alexandre Galli, Marco Antonio Kronka e Mirian Vieira Santos Kronka.
"O trabalhador, mais do que salário, precisa de respeito", afirma Heloani
Advogado e psicólogo, José Roberto Heloani trouxe o tema "Administração de conflitos, assédio moral, sexual e ética corporativa" para o centro das preocupações do 1º Seminário de CIPAs da regional de Campinas, em razão do crescimento do número de ocorrências. De acordo com o Ministério Público do Trabalho no Estado de São Paulo, no ano de 2013 foram iniciados 955 processos de investigação de assédio no ambiente de trabalho, enquanto que até setembro de 2014 registraram-se 962.
Para o especialista, a distinção entre conflito e assédio está justamente na reincidência e intencionalidade dos atos. Segundo afirma, trata-se de um desvio comportamental que busca a humilhação e desqualificação do outro, mas que tem muito a dizer sobre o grupo. "São pessoas que trabalham no mesmo teto, no mesmo espaço, mas que não têm vinculações afetivas. (…) Não pega só a mão de obra desqualificada, atinge todo mundo", diz.
Tendo por cenário ambientes corporativos brutais, com metas algumas vezes inalcançáveis, as práticas de assédio muitas vezes são ressonâncias de uma atmosfera que estimula o medo e a competitividade desequilibrada. Para Heloani, "o trabalhador, mais do que salário, precisa de respeito. Temos um mundo do trabalho completamente diferente do que era antigamente. A gente está junto de centenas de milhares de pessoas, mas ao mesmo tempo, e no fundo, estamos sozinhos", ponderou.
O psicólogo alertou ao deslocamento dos casos de assédio moral e sexual. Enquanto antes a prática tinha uma orientação verticalizada, isto é, sempre do topo para a base de uma dada hierarquia, recentemente vê-se o crescimento das ações horizontais, aquelas em que os próprios companheiros de trabalho as cometem. "Assédio moral é uma doença, ninguém nasce com assédio ou pré-dispostas, elas se transformam, e muitas vezes o grande responsável é o espaço organizacional, é o próprio emprego", reiterou. Na análise do especialista, a insegurança pode revelar o que há de mais impiedoso no ser humano. "Isto faz com que as pessoas percam o senso coletivo. Quando você tira as condições mínimas, as pessoas de pervertem", completou o palestrante.
Embora ressalte a importância do grupo para desestimular o isolamento resultante do assédio, Heloani destaca haver jurisprudência que responsabiliza a empresa quando comprovado o encorajamento, a negligência ou omissão dos atos. "O espaço de trabalho tem quer ser minimamente salubre. Qualquer atividade econômica sempre deveria ter um fundo social. O empresário tem todo direito de ter seu lucro, de ter retorno capital, é legitimo. Mas não tem direito de desconsiderar aquele que o ajuda a ter lucro e produtividade. Não pode instrumentalizar o outro. Aliás, o próprio Kant, um dos maiores filósofos, dizia que se você instrumentaliza o outro para qualquer fim, você já está sendo antiético", sentenciou.
Numa iniciativa para mitigar os casos de assédio, o resgate da identidade coletiva tem papel central, de modo que não prevaleça a compreensão deturpada de que o assédio é em si uma questão individual. "É fundamental ter um sindicato, uma associação, tanto para as questões de assédio moral quanto sexual, porque sozinho não dá para ganhar essa batalha. É essencial ter um sindicato estruturado para te orientar e dar apoio, além de uma psicoterapia dependendo do estado em que está. A probabilidade de você ganhar uma demanda [sozinho] é praticamente zero", afirma o professor.
Assédio Sexual
Há quase duas décadas analisando casos de assédio, José Roberto Heloani observa que sua distinção está na intencionalidade, que não busca menosprezar o outro, mas, ao contrário, tem sua ação orientada ao desejo. Segundo afirma, a prática, caracterizada como criminosa, pode ser compreendida por meio de duas abordagens. A primeira tem por via a intimidação, uma insistência que compromete a privacidade e o sossego do indivíduo. Já a segunda, mais comum, parte da chantagem. "Significa que eu condiciono algum benefício em função de uma sessão involuntária", pontua.
Tal como a perseguição moral, o assédio sexual em ambiente corporativo também demanda uma atuação da empresa, considerada juridicamente responsável pela dignidade do profissional ultrajado.
Brasil: 3º país do mundo em que se passa mais tempo na internet
Iniciando sua exposição sobre "Tratamento de dependentes da rede", a Dra. Magda Laurita Costa – psicóloga colaboradora dos setores de pesquisa e tratamento do núcleo de Dependência de Tecnologia do Programa Ambulatorial Integrado dos Transtornos de Impulso (PRO-AMITI) – apresentou breve panorama sobre a evolução da internet para alertar sobre como tais mudanças estão alterando nossa capacidade cognitiva e social. "Pela primeira vez na História o cérebro está mudando, e isto é uma notícia muito importante porque, desde o homo sapiens, o tecido cerebral não tinha mudado, mas agora está. Crianças e adultos estão passando mais tempo com máquinas do que com pessoas", apontou Magda.
De acordo com a especialista, o fator de preocupação não é a contribuição da modernidade, e de seus aparatos tecnológicos, para a vida humana, mas, ao contrário, o descontrole no uso. Segundo indicadores do relatório Digital, Social e Mobile de 2015, divulgado pela agencia We Are Social, o Brasil é o terceiro país em que se passa mais tempo na internet (uma média de 5,4 horas em PCs/Laptops e 3,8 em dispositivos mobile), tempo superior ao dedicado à televisão. Em uma população com 204 milhões de indivíduos, 54% são usuários ativos de internet.
"A capacidade de concentração do ser humano tem diminuído por conta do impacto das mídias digitais. A informação consome atenção, e num mundo rico em informação temos o empobrecimento da atenção. Temos um cenário de atenção parcial continua, em que ela visita vários aspectos, mas não consegue atingir tudo", destacou a palestrante.
Ainda sobre os impactos da conectividade excessiva, a psicóloga lança mão de um estudo norte americano, realizado com duas mil pessoas, para alertar que "se você é interrompido uma vez [durante qualquer tentativa aprendizagem], sua capacidade de absorver aquela informação caí para 40%, quando da segunda interrupção a capacidade caí para 60%. Obviamente a atenção tem capacidade limitada". Segundo afirma, o ser humano está perdendo sua habilidade de refletir sobre questões profundas da vida, correndo o risco de tornar-se mero decodificador. "Estamos perdendo exatamente aquilo que nos torna humanos, a capacidade de raciocínio".
Sobre os efeitos psicossociais, Magda Costa sinaliza o progressivo distanciamento do indivíduo da sua realidade. Para ela, embora ainda seja uma questão recente e que requer muitas investigações, os principais indicativos de dependência da rede é o tempo de conexão, irritação quando o uso é restringido, expor trabalho e relações sociais ao risco, mentir sobre o tempo em que esteve conectado, além de outros sinais. "Tem aumentado até os níveis de ansiedade por conta, por exemplo, das respostas de Whatsapp, e isto não acontecia tempos atrás. Não só os nossos hábitos têm mudado, como até os nossos transtornos". Ela afirma que um usuário comum de smartphone checa o aparelho celular 150 vezes em um intervalo de seis minutos.
Embora ainda em fases iniciais, os tratamentos para dependência de rede podem incluir psicoterapia e farmacoterapia. Sobre um possível limite recomendável, Magda afirma que há diversos apontamentos, mas que os estudos são inconclusivos, cabendo recorrer à sensatez quando do uso da rede. "A internet chegou, evidentemente, para nos ajudar, mas temos que desenvolver uma maneira de usar suas potencialidades de modo que não atrapalhe a nossa vida", conclui.
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